Capítulo Único - Regina e Janis

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Janis Imi'ike

Era a segunda feira após o baile e, apesar de não ter consumido nada alcoólico, eu sentia como se tivesse sido pisoteada por uma manada de elefantes. Meus calcanhares doíam e a boca estava seca como nunca, além de ter gosto de cigarros e menta. Esse era o ponto fraco de beijar Adila, ela sempre tinha gosto de cigarros e menta, mas não era um ponto fraco o suficiente para que eu deixasse de beijá-la, pelo contrário, era um lembrete gostoso de que eu estava dentro de sua boca há algumas horas atrás.

Me levanto antes das 05h, tiro o café da manhã da geladeira e enquanto o pão torra e o café se prepara na cafeteira, junto o lixo da semana em dois sacos grandes. Caminho até a frente de casa e abro a lixeira pública, estou tão focada em meu objetivo que não percebo Regina se aproximando. Ela para ao meu lado, mas continua movendo as pernas como se corresse.

— Muito cedo para a escola, não? — diz ofegante.

— Um pouco, mas preciso fazer algumas coisas antes. — percebo que Regina está de rabo de cavalo, não me lembro a última vez que ela usou o penteado, mas cai bem nela, deveria usar mais. Percebo também que está sem o colar cervical que usara desde o fatídico acidente. — Você parece bem melhor.

A loira finalmente para de movimentar as pernas e coloca a mão nos joelhos, como se aceitasse que ficaria mais tempo do que esperava ali.

— Sim, o meu fisioterapeuta disse que eu posso voltar aos poucos a me exercitar e a minha terapeuta disse que preciso ficar mais ao ar livre, então decidi que seria bom juntar os dois. — ela dá um sorriso contido — Quer carona pra escola?

— Não precisa, você mora dois quarteirões à frente, seria abuso.

— Não, eu gostaria. — ela sorri mais largo — Eu finalmente voltei a ter visão periférica e posso dirigir, não me incomodo de te levar.

Parece legal da parte de Regina, mas eu não sei como me sentiria chegando ao colégio com ela. Talvez seja só mais um dos seus joguinhos e eu estou aqui prestes a cair como um pato, como fiz nas vezes anteriores. Eu cruzo os braços em torno de mim mesma e aperto os lábios antes de dizer:

— Melhor não.

Gostaria de argumentar, mas Regina abaixa o olhar com um sorriso triste e acena negativamente com a cabeça como se censurasse a si mesma, então ela se vira sussurrando um "até mais tarde" e corre de volta para casa, sem esperar uma resposta.

Não estou acostumada a receber gentilezas de Regina, assim como ela não está acostumada a escutar o "não" de alguém, então considero que estamos quites e volto para dentro. É o café da manhã mais demorado da semana, pois fico pensando na expressão incomum de Regina. Imagino que seja inquietante para ela, mas quem pode me culpar por ser cuidadosa depois de passar por tudo o que passei nos últimos anos? Todo o bullying e mentiras direcionadas a mim por conta de um boato que ela criou. Paro de pensar sobre isso quando o meu celular toca e o nome de Adila aparece na tela entre dois emojis de brilhinho.

— Nem a minha mãe me liga tão cedo. — digo ao atender.

— "É bom falar com você também, estranha." — ela sorri do outro lado da linha. — "Tudo certo para hoje à noite?"

— Depende, — faço uma pausa para enrolar uma mecha de cabelo, como se Adila fosse notar. — você já preparou o buquê e a aliança?

— "É claro que sim, eu não perderia tempo podendo estar com alguém como você." — meu coração dá pulinhos dentro da caixa torácica, nunca imaginei que estaria gostando tanto de alguém a essa altura da vida, quer dizer, minha mãe sempre se gabou do fato de que tinha uma filha estudiosa e não namoradeira, infelizmente terá de encontrar outro motivo para se gabar. — "Preciso desligar, Jan, minha mãe precisa de ajuda com os gêmeos.

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