𝐎 𝐉𝐚𝐫𝐝𝐢𝐦

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MELISSA não se lembrava exatamente o que a levara para aquele lugar, mas naquele instante nenhuma de suas preocupações era de fato relevante.

O mais belo dos jardins se estendia por tudo que seus olhinhos castanhos claros.

O verde da grama era tão vivo que nem parecia ser real, o seu céu era tão azul que parecia refletir o interior de uma safira, lapidada cuidadosamente pelas mãos Do Criador.

A garota sentia os pés descalços se arrastarem pelas pontas das gramas, amassando flores tão belas quanto qualquer outra coisa existente naquele lugar divino.

Permitiu que suas pernas a guiassem por um caminho que certamente não conhecia, afinal nem sequer sabia onde estava verdadeiramente dizendo. Mas isso não importava. Contanto que pudesse continuar apreciando cada detalhe do jardim, ela estava satisfeita.

Encontrou alguns animais durante sua caminhada.

Um coelho, aparentemente apressado, passou saltitando, se arrastando por entre suas pernas enquanto resmungava algo sobre um grande evento.

Uma raposa alaranjada parecia compartilhar de sua inquietude.

Cruzou o caminho da menina com tamanha velocidade que quase a atropelou. Seus dentes pontudos se revelaram, mas o animal apenas revirou os olhos antes de ir embora.

Esse jardim é realmente magnifico, pensava a menina.

Mas os inúmeros animais de nada se comparavam com a coleção de pessoas que habitavam o lugar. Elas não se moviam, nem falavam, nem respiravam e praticamente nem existiam. Eram estátuas.

As personificações talhadas em pedra de mármore brancas como a neve e como a pelagem do Senhor coelho apressado se espalhavam por toda a parte.

Os olhos de Melissa se esgueiravam por tudo ao seu redor, a estátua de uma moça tão bela que ardia os olhos se fez visível.

Segurava uma espécie de espelho curto em uma das mãos, o sorriso de orelha a orelha, os dentes retos e perfeitamente alinhados. Era tão bela quanto tudo que ali existia.

Mas nem tudo era de fato belo.

Um homem gorducho, somente um pouco maior do que ela e com tão poucos fios de cabelo que por muito se assemelhava com um personagem de desenho animado tentava desesperadamente enfiar o máximo de moedas de prata possíveis dentro de seus bolsos pequenos e apertados.
As mãos grandes e os dedos leves lhe serviam muito bem, a menina analisava.

Tentou não pensar nas estatuas, mas não conseguiu, estavam em todos os lugares.

Uma criança - provavelmente com os seus mesmos nove anos - vestia uma coroa de flores linda, sua expressão estava eternizada em uma agonia visível. Era uma pena.

Encontrou outros animais.

Um panda, fofo e bastante alimentado caminhava lentamente pela grama opaca do jardim. Seus pelos se iluminavam carinhosamente com a chegada repentina dos raios de sol.

Melissa seguiu o animal, tapando o rosto com as mãos pequeninas. Seus movimentos eram um tanto desengonçados, tanto que ele até chegava a tropeçar nas próprias patas e cair de barriga no chão. A garotinha abafava risadinhas sempre que isso acontecia.

O jardim era mesmo perfeito, a menina se perguntava quem cuidava de tudo aquilo e como conseguia.

Esqueceu o panda por um momento ao ver seus olhos cruzarem com algo ainda mais chamativo. Um sapo vestido de smoking e usando chapéu azul pontudo. Parecia com pressa, mas não agiu com muita falta de delicadeza quando a menina se aproximou e perguntou:

𝐎 𝐉𝐚𝐫𝐝𝐢𝐦 - 𝐓𝐡𝐞 𝐆𝐚𝐫𝐝𝐞𝐧Onde histórias criam vida. Descubra agora