prólogo

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Carter, Bárbara.
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Pela milésima vez sou interrompida pelo interfone tocando, dessa vez é o porteiro me avisando que chegaram umas encomendas para minha irmã. Desde que comecei a pensar em cozinhar, a merda desse interfone não parou de tocar, sempre o porteiro dizendo que chegou alguma coisa. Sei que não é culpa dele mas enche o saco.

Desço assim mesmo como estou, cabelos presos em um coque mal feito, short curto de pijama e uma blusa comprida da Barbie. Nada de julgamentos, por favor, meu corpo é pequeno e eu só me aproveito disso para poder comprar roupas na seção infantil.

—Preciso que assine aqui.— O cara das entregas pede e eu assino o papel. —Obrigado.

—Eu que agradeço.— Recebo a caixa, que não é nem um pouco pequena e volto para o apartamento.

Minha irmã, além de fazer faculdade é modelo, sendo assim recebe muitos mimos de lojas e marcas. Essa caixa por exemplo, foi enviada pela Target. Ok, não é uma marca muito badalada mas já é alguma coisa.

Respiro profundamente e vou direto para a cozinha, se eu não começar a cozinhar agora, muito provavelmente vou morrer de fome.

Separo todos os ingredientes que precisarei para fazer a melhor macarronada com chadder que esse mundo já viu, mas quando corto a primeira fatia da cebola a campainha toca.

—Desisto dessa merda.— Murmuro, jogando a faca no balcão. —Vou pedir delivery.

Apressadamente ando até à porta a abrindo com raiva, minha feição agora não está das melhores. Estou cansada de abrir porta, descer para pegar encomendas e não poder cozinhar em paz.

Do outro lado me deparo com um garoto mais alto que eu, tem a maior parte do cabelo na cara. Ele deve estar tão nervoso quanto eu, pois ao me ver suas bochechas ganham uma tonalidade avermelhada.

—Eu espero que você tenha ciência de que você é uma vadia.— O menino diz e entra no apartamento.

Por quê caralhos esse desconhecido entrou aqui e me chamou de vadia? Olho para ele com os braços cruzados e a sobrancelha erguida.

—Depois do que fez está achando que tem razão?— Ele pergunta e solta um riso sem humor.

—Mas..

—Não tem mas!— Ele praticamente grita. —Nada vai mudar o fato de que você é uma filha da puta, vadia, vagabunda, desgraçada...— O corto.

—Você é doido por acaso? Como entra na minha casa e vem com esse papo de que eu sou uma vadia?— Pergunto no mesmo tom do que ele.

Fecho a porta atrás de mim e me aproximo do garoto, que a essa altura está parado no meio da sala. Não sei qual é exatamente a cor real de seus olhos, mas por agora aparentam estar bem escuros.

—Ah, vai se fazer então?— Devolve com deboche.

—Não testa minha paciência, garoto.

Mordo a minha língua com força, esse menino só pode ser doido.

—Eu não sei do que está falando, talvez você tenha entrado no apartamento errado...— Me corta de novo.

—Para de se fazer, Beatriz. Eu odeio quando faz isso.— Ele responde entre dentes.

Agora eu estou entendendo tudo, mas também, eu sou um pouco tapada. Óbvio que esse homem veio atrás da minha irmã, esse é o apartamento dela, eu cheguei aqui faz três semanas, claro que ele não me conhece. Duh!

—Eu não sou a Beatriz...— Ele me corta.

—E eu sou o Justin Bieber.— Devolve irritado.
Suspiro profundamente. Eu odeio lidar com pessoas assim, que deixam a raiva dominar e cegar completamente e é exatamente isso que está acontecendo com esse garoto.

Já estou muito irritada por não conseguir cozinhar em paz, esse garoto chega aqui me chamando, ou melhor, chamando minha irmã de vadia, como conseguir me controlar?

Puxo paciência do cu e pego minha identidade na carteira, colocando o documento bem na cara dela.

—Bárbara Carter?— Ele murmura, perplexo.

—Gêmea da Beatriz Carter.— Respondo, com calma.

O garoto me olha e depois olha para a foto da identidade, então olha para a foto da minha irmã na parede e por fim se senta no sofá. Eu hein!

—Somos gêmeas quase simétricas.— Comento, me sentando ao lado dele.

Beatriz e eu somos quase simétricas, fisicamente temos quase de tudo igual. O mesmo porte físico, os mesmos olhos acastanhados, o mesmo cabelo não tão cumprido castanho claro, as mesmas pintas nos mesmos lugares... Uma das únicas formas de nos distinguir é na voz, eu tenho uma voz um pouco mais rouca e ela mais fina, mas mesmo assim tem gente que confunde, assim como esse cara.

—Ela nunca me falou que tinha uma irmã gêmea.
— Ele diz, me olhando com as sobrancelhas franzidas.

Como assim? Essa é a pergunta que paira a minha mente nesse exato momento. Como assim ela não falou de irmã gêmea? Eu não sei qual é o tipo de relação que ela tem com esse garoto, mas acho estranho minha irmã não ter comentado sobre mim.

Quando penso em responder ouço o soar da campainha. Estou tentando bolar vários cenários para explicar o motivo dele não saber da minha existência. Beatriz sempre foi minha melhor amiga, bom, sempre foi até ela vir para Nova York e mudar tanto. Hoje em dia estamos muito afastadas uma da outra.

Abro a porta, um pouco sem vontade, admito.
Dessa vez é um garoto de estatura média. Tem olhos verdes, cabelos loiros e curtos, a pele branca e carrega consigo uma xícara.

—Oi, Bea.— Ele me dá um beijo no canto da boca e entra no apartamento.

Meu Deus, quem é esse?

—Oi, eu não sou a "Bea".— Respondo, fui meio seca, mas eu juro, foi sem querer.

—Como não é a... — O primeiro louco corta o outro.

—É irmã gêmea da Beatriz.— Fala sem vontade.

—Gêmea? Ela nunca falou nada...— Pousa a xícara no balcão de mármore que divide a cozinha e a sala. —mas, o que faz aqui, Victor?

—O que você faz aqui, Jasper?— O tal do Victor dá ênfase no "você".

—Eu perguntei primeiro.— Cruza os braços e levanta uma sobrancelha.

O homem de cabelo castanho bufa e se levanta, indo em direção à varanda do apartamento.

Acho que esses dois não se bicam, penso enquanto brinco com o pingente do meu colar.

—Então, gêmea da Beatriz, ela está?— Pergunta com os olhos semicerrados.

—Não.— Respondo, simples. Só quero que esses dois saiam desse apartamento agora.

—De qualquer forma vim pedir uma xícara de açúcar.— Sorrindo ele pede.

Pego a louça, ainda sem vontade e vou pegar o açúcar no armário. Sinceramente não sabia que as pessoas ainda fazem isso, sempre achei que fosse coisa de filme esse negócio de ir pedir açúcar na vizinha.

-—Jasper? Victor?— Ouço a voz da Beatriz, logo depois de colocar a xícara de volta no balcão.

Eu que não vou ficar aqui, pego dois pacotes de Doritos e uma garrafa de Coca-Cola. Antes de entrar em meu quarto, olho para Beatriz com uma cara de quem diz: "Você que resolva seus problemas."

𝘁𝗲𝗻 𝘁𝗵𝗼𝘂𝘀𝗮𝗻𝗱 𝗵𝗼𝘂𝗿𝘀 | 𝖻𝖺𝖻𝗂𝖼𝗍𝗈𝗋Onde histórias criam vida. Descubra agora