Capítulo 2

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O silêncio da sala de aula não condizia com o cérebro da professora naquele momento.

Fernanda estava encostada na mesa, os braços e as pernas cruzadas. Seus olhos estavam fixos nos alunos e sua expressão era de apavorar qualquer um. Mas Fernanda não estava dando a mínima se eles colariam naquele teste, não naquele. Sua mente só conseguia pensar em como fazer a amiga de Alane sofrer durante todo o ano letivo.

Não, ela não havia gostado da forma que elas se abraçaram, de como seus braços ficaram enganchados após o término do abraço e nem de como Alane sorria para a de cabelos escuros. Não, Fernanda não havia gostado, e nem queria gostar. Sua raiva crescia por não saber nada sobre elas e por não dar aula para Alane hoje, sua impaciência a colocaria em problemas.

Beatriz Reis não perdia por esperar.

— Então você é o bichinho da professora?

— Beatriz!

Alane reclamou, com as bochechas queimando. A outra garota deu de ombros, sem se importar muito. As duas estavam no refeitório e pela primeira vez, Alane não estava comendo sozinha, o que lhe deixava muito grata.

— Não é nada demais, Alane. Não dá para mudar o fato de que você é a favorita dela, e seus colegas de classe são idiotas por te tratarem mal.

— Eu não sei. — Alane encolheu os ombros. — Eu entendo que eles fiquem assim. Quer dizer, a senhora Fernanda é uma tirana, ela trata todo mundo da pior forma possível. Eu também ficaria chateada se fosse uma das que ela não gosta.

— Eu entendi Alane, mas a culpa não é sua. Se é para culpar alguém, culpem a professora oras! Foi ela quem cismou com você, não o contrário!

— Mas Beatriz-

— Olá, Alane.

Tanto Alane quanto Beatriz congelaram no seu lugar. Fernanda esgueirou no banco e sentou-se, a bandeja de comida perfeitamente arrumada. As roupas pretas lhe caíam bem, e o cabelo estava impecável como sempre.

— Senhora Bande. — disse baixinho com a cabeça baixa — A que devemos a honra?

— Vim almoçar com você. — ela olhou na direção da Beatriz, de forma tão fria que a garota tremeu. — A menos que eu esteja atrapalhando algo.

A garota mais velha entendeu imediatamente porque ela era tão temida. O refeitório inteiro estava em silêncio, olhando para a interação das três, fazendo as bochechas de Alane corarem.

— Não senhora. — respondeu olhando temerosa para Beatriz.

— Que bom. — ela abriu um dos potinhos de salada e começou a mexer com um garfo. — Senhorita Reis.

Beatriz levantou a cabeça lentamente, se perguntando como ela já sabia seu nome.

— Sim?

— Amanhã é sua primeira aula comigo, certo?

— Sim senhora.

— Então creio que o trabalho que pedi sobre física, que, lembrando, precisa ter no mínimo 30 folhas, já esteja pronto, certo?

Alane ergueu os olhos como quem não queria nada, vendo o terror no rosto da adolescente. Ela parecia muito satisfeita com o efeito que causou na garota.

— Não, eu... — ela respirou fundo, olhando para Alane buscando ajuda. — Alane não me avisou.

— Me descul-

— Alane não precisa te avisar sobre nada, não é obrigação dela. — ela mordeu uma das folhas de alface, olhando para Beatriz dura feito aço — Ela não me entrega o trabalho essa semana.

— Mas... — a garota começou confusa, sendo interrompida por Fernanda.

— As regras da minha turma quem faz sou eu, senhorita Reis. Eu disse a Alane que ela pode me entregar o dela próxima semana. Não foi? — ela olhou para Alane, os olhos bem mais gentis do que antes, vendo a garota assentir envergonhada.

— Senhora- — Beatriz tentou argumentar, mas bastou um olhar para que ela se calasse.

— Já que gosta tanto de me desafiar, não vai se importar de explicar a matéria de amanhã, certo?

— Mas eu não sei! — a garota falou desesperada, os olhos arregalados.

— Então aprenda. — a carioca limpou a boca com o guardanapo. — Vou deixar que descubra sozinha, e não atrapalhe Alane com seus comentários. Vai tirar toda a concentração dela desse jeito. — Fernanda levantou-se, dando um último olhar para uma Beatriz aterrorizada. — Até mais, Alane.

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