Sabe quando o céu está com um tom de azul vibrante, a grama num verde-lima, e tudo parece mais uma paisagem pintada em um quadro? Você respira e sente o frescor invadindo o corpo, e um sorriso involuntário denunciando o sentimento de paz que só aquele momento, e aquele cenário, era capaz de proporcionar. De repente, em alguns minutos, alguns míseros minutos, o azul era tomado por um cinza chumbo, escuro, triste e assustador. É incontrolável. Algumas coisas acontecem e não há como evitá-las, apenas aceitar que o destino era imprevisível e não deixava aviso prévio de quando fosse agir.
Nunca estaremos preparados para receber a notícia, aquela notícia que te faz perder os sentidos, por um momento você esquece de onde está, ou mesmo, como respirar. Há uns meses, minha mãe descobriu um câncer no útero, e desde então, ela vinha tentando preparar a minha mente caso o tratamento não obtivesse resultado. Está chovendo neste momento, e o clima dentro desta sala compete com o céu para ver qual está mais abatido. Nunca pensei que carregaria essa dor tão cedo.
Sempre fomos nós duas. Minha mãe cuidava de mim como se eu fosse a maior realização da vida dela, e eu sei que era. Meus pais se separaram antes mesmo do meu nascimento, e eu nunca o conheci, minha mãe não costumava tocar no assunto e, sendo sincera, nunca tive curiosidade em descobrir. Acredito que se ele quisesse me conhecer, já teria me procurado.
Havia apenas uma pessoa no mundo que me conhecia tão bem quanto a minha mãe, minha tia Helena Kais, ela mora na França, assim como meus avós, mas de tempos em tempos vem ao Brasil nos visitar e ficar por algumas semanas. Minha mãe se mudou para o Brasil enquanto eu ainda era um bebê devido a uma oferta de trabalho, mas o clima foi tentador o suficiente para convencê-la de ficar. Minha tia e eu temos alguns anos de diferença, mas nossos assuntos sempre foram muito parecidos. Com Helena, eu era a Elisa de verdade, ela sabia exatamente como eu me sentia e quando eu precisava desabafar, mesmo que de longe.
Eu estou no último ano da escola e, temporariamente, morando com a família da minha melhor amiga, Giovana. É fevereiro e daqui a uns meses, em julho, vou passar a morar com minha tia em Hoosegor, na França. Talvez eu me sinta melhor morando com alguém que faça eu me sentir em casa novamente.
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Sol Nascente
Ngẫu nhiênApós o falecimento de sua mãe, Elisa passa a viver com sua tia na França, onde descobre capítulos ocultos de sua vida e conhece o amor nas suas formas mais puras.