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FÉLIX, Point of view

França - Paris.

- Realmente pensou que eu fosse um invasor? - Hyunjin perguntou, apoiando o corpo sobre os cotovelos na cama de casal.

A têmpora ainda sangrava, mas comparado ao momento do ataque, aquilo não era nada. E, além disso, havia negado a bolsa de gelo quando ofereci. Era como se abraçasse de coração qualquer oportunidade de dar mais um passo em direção à morte.

Eu poderia ter ido dormir sem ter que passar por aquela vergonha. Agora eu sentia meu rosto queimar de constrangimento, até mesmo uma pontada de raiva. Não fazia ideia do que havia acontecido; bêbado eu com certeza não estava, mas dali em diante bastava de álcool.

- Eu não sabia que era você. Só parecia suspeito.

Hyunjin riu.

- É mesmo? Então você simplesmente ataca todas as pessoas suspeitas que vê pela frente? Não sei se isso é corajoso ou estúpido.

- Cala a boca. Foi uma decisão perfeitamente razoável dada às circunstâncias.

- Bom, foi divertido. Você ficou fofo tentando me tirar do meu próprio quarto.

Interrompi o círculo que traçava no carpete com os pés descalços, andando de um lado para o outro, movido pela adrenalina do momento. Tão energizado que levei um tempo para notar a palavra "fofo" dita depressa.

- O quarto é meu.

- Se era seu, você perdeu o direito por ele depois disso - Apontou para a própria cabeça, indicando o sangramento iminente, e revirei os olhos. - Eu ganho.

- Fala sério, se eu perdi o direito do quarto por te bater, você perdeu a dignidade de homem por apanhar de mim.

- Com um xampu. - Minho, outrora esquecido no canto do quarto, reforçou.
Hyunjin lançou-lhe um olhar mortal, e ele apenas jogou os braços ao ar em gesto de rendimento.

- Com um xampu. - Eu ri. - Eu ganho.

- Tanto faz - Hyunjin declarou, engolindo a derrota que desceu ardendo pela garganta. - Precisamos resolver isso.

- Já está resolvido; o quarto é meu. Pegue suas coisas e saia.

- E como tirou essa conclusão?

- Simples - Suspirei. - Eu cheguei primeiro.

- Muito justo, Sr. Juíz, mas não.

Cobri a boca com as mãos em formato de concha, impedindo-me de soltar um palavrão. Hyunjin sempre fazia questão de me lembrar o porquê não suporto estar sóbrio ao seu lado.

- Sei que não. Dã! Vou ver lá na recepção. Seja o que for, o quarto vai continuar sendo meu.

E virei para a cômoda ao lado da cama, abrindo o zíper da minha bolsa; precisava me vestir, nem que fosse com as roupas amarrotadas que haviam dentro dela.

Entrei no banheiro preparando-me mentalmente para a dor de cabeça que viria a seguir; lidar com a recepção diante de um erro nunca foi muito agradável. Agora, com Hyunjin em minha cola, tinha certeza que não seria nada agradável.

- Veremos.

***

Levei uns minutos a mais para descer; tive que pentear e secar o meu cabelo que, recentemente, descobri que quanto maior, mais tempo me exige. Quando cheguei ao saguão, encontrei Minho e Hyunjin jogando sinuca na área de lazer. Hyunjin, claro, trapaceando, movendo bolas com as mãos. Minho, por sua vez, chamando-o de idiota ou alguma coisa do tipo, mas ele também não era o melhor do mundo com um taco.

- Eu solo vocês dois juntos. - Eu comentei, cruzando os braços diante a mesa.

Os homens olharam para mim, ambos claramente duvidando da verdade, o que eu esperava que acontecesse. Então, estendi o braço à Minho e pedi seu taco. Ele me entregou e eu substituí seu lugar, ficando de frente para Hyunjin, encarando-o com ar de desafio. A recepção poderia esperar.

- Manda a ver, moreninho. - disse Hyunjin, dando um leve meneio de cabeça e curvando-se, alinhando o corpo ao do taco.

Em silêncio, me posicionei. Hyunjin não fez três jogadas, e perdeu para mim.

- Não, não! Eu quero revanche, Félix. - exigiu.

- O que houve com o moreninho?

- Sai daí, Hyunjin, quero tentar. - Minho pediu com tom de ordem, deixando-o sem opções ao arrancar dele o taco. - Vamos, Félix.

Com Minho, tenho que admitir, houve um pouco de resistência, mas nada que dificultasse minha vitória. Dito e feito, venci os dois em menos de vinte minutos. Àquela altura, já havia pessoas rodeando a mesa, analisando as partidas. Ao ganhar Minho, um homem se voluntariou como meu adversário. E logo depois outro, outro, e outro. E de repente me vi sendo elogiado por quase todos no saguão.

- Impossível! Como consegue? - Alguém perguntou.

- É pura geometria. Chama-se...

- Bola de bilhar. - Alguém completou por mim. A voz me era familiar, e um sorriso involuntário tomou meus lábios quando, ao longe, enxerguei Jisung, um amigo de infância que não via há muito, muito, muito tempo. Ele correu até mim e se enterrou nos meus braços, apertando meu tronco com força.

- Jisung, como...

- Impossível esquecer a bola de bilhar quando você passa o ensino médio inteiro estudando geometria com Lee Félix. - Ele disse, sorrindo largo, e eu ri pelo nariz. Era verdade; costumávamos estudar juntos, mas essa não era a questão.

- Não. Quero dizer... Como me encontrou?

- Almas gêmeas não se perdem tão facilmente.

- Aí, meu Deus, eu... - Segurei seus ombros, correndo o olhar pelo seu corpo, rindo, talvez ainda em choque. - Você está incrível. Mudou muito.

Não era minha intenção ser grosso, mas eu não estava mentindo. A última vez que vi Jisung foi na formatura, com cabelo de capacete e espinhas no rosto. Agora seu cabelo beirava o ombro, ele deixou algumas mechas ondularem naturalmente. A pele continuava morena, mas lisa como porcelana. Tinha assumido de vez o sorriso e, não querendo exagerar, mas estava lindo pra cacete.

- Larguei mão do aparelho. Você é quem não mudou nada.

- Então ainda sou um pesadelo?

- Você sempre foi um sonho. Só escolheu não enxergar isso.

- Você trabalha aqui, na recepção? - perguntou Hyunjin quando eu ia responder.

- Perdão?

- Acho que essa não é uma roupa que alguém usaria em plena consciência se não estivesse em serviço.

Eu quis estar com aquele frasco de xampu em mãos novamente, para acertá-lo bem na cabeça, mas dessa vez deixá-lo desacordado por pelo menos duas horas. Jisung inflou o peito, e vendo que ia bater de frente com Hyunjin, precisei interferir.

- Certo, paramos por aqui. Vocês têm lugares melhores para resolver isso - eu sugeri, agitando os braços entre Hyunjin e Jisung.

Minho se aproximou.

- Mas ele parece um mordomo.

Olhei para Hyunjin, implorando que não desse continuidade com o assunto, mas foi exatamente o que ele fez.

- Sim, o do Batman! - Ele sorriu sarcástico, sabendo que estava provocando.

- Alfred, não é?

Foi o estopim. Antes que eu pudesse impedir, Jisung desferiu um tapa bem dado na face esquerda de Minho, fazendo-o perder o equilíbrio e cair de costas sobre a mesa de sinuca. Hyunjin levou a mão à boca, escondendo um sorriso de quem adorou o que acabou de testemunhar. Já ouvia-se gritos de excitação nos rondando e, lançando um último olhar repreensivo para Hyunjin, puxei Jisung pelo pulso e o arrastei para longe dali.

Era a merda do primeiro dia. E ainda nem havíamos chegado no meio dele.


𝐒𝐄𝐕𝐄𝐍, 𝗵𝘆𝘂𝗻𝗹𝗶𝘅 Onde histórias criam vida. Descubra agora