Capítulo Único

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운명?

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Deixei o escritório tarde da noite, abraçando meu sobretudo marrom favorito e erguendo o pulso para conferir a hora.

O relógio ainda marcava três da tarde. Tinha travado.

Era o terceiro em menos de dois meses, e aquilo só reforçou o fato de que eu precisava parar de gastar meu dinheiro com tralhas e investir logo em um produto confiável e com mais alguns zeros à direita.

Ignorei a morte de mais um eletrônico meu e apressei os passos. Sem saber a hora exata, corria sérios riscos de perder o próximo ônibus – e, honestamente, essa era a última coisa que eu gostaria que acontecesse comigo naquela noite. Estava exausta e meus pés não aguentariam aqueles saltos por muito mais tempo.

Tec, tec, tec, tec.

Acelerando na medida do possível, cheguei ao ponto, que estava quase vazio – mas, felizmente, um rosto ou outro eram familiares. Assim, se eu houvesse perdido minha condução, pelo menos não passaria mais uma hora sozinha esperando pelo próximo ônibus.

Não que eu tivesse medo de algo. Seul sempre fora um lugar tranquilo nesse aspecto. A única coisa realmente caótica na cidade eram os carros que circulavam de lá pra cá.

Sentei ao lado de uma senhora, que lia um livro antigo e gasto, ajeitando os óculos sucessivas vezes. Parecia interessante, já que ela sequer piscava. Aquilo me fez lembrar de quando eu costumava ser mais ligada à literatura.

Engolia livros no Ensino Médio mais fácil do que comprimidos para dor de cabeça. Sempre fora encantada com a ideia de viver um romance fantasiosamente fascinante. Porém, é claro, nunca aconteceu.

Saltando de um relacionamento a outro, e sempre me envolvendo em situações complicadas e desgastantes demais, acabei engolindo, dessa vez, todo sonho que eu costumava cultivar dentro de mim a respeito de viver uma aventura amorosa que me tirasse o fôlego.

Estava muito claro pra mim que, nessa vida, eu tinha missões a cumprir, desafios a enfrentar e etapas a concretizar – menos a que dizia respeito ao amor romântico. Nesse aspecto, parecia fadada a nunca encontrar aquele alguém que de fato fizesse sentido em pertencer à minha vida, e vice-versa.

Mais algumas pessoas chegaram ao ponto de ônibus, sempre atentas ao fim da rua, aguardando o transporte que as levariam de volta ao conforto de suas casas. Eu fiz o mesmo, mas o que esperava ansiosa era um pouco diferente.

Não se tratava apenas do meu ônibus àquela altura do campeonato. O vazio de uma vida solitária disfarçada de solitude começou a me acertar em cheio – como vira e mexe era comum de acontecer.

Eu tinha tudo, e ao mesmo tempo não tinha nada. Havia visitado países, construído uma carreira, ganhando sucessivas promoções e aumentos salariais. Tinha enfim realizado meu sonho de morar na cidade mais moderna, agitada e empolgante de toda a Coreia do Sul. Era o ápice da minha vida.

Mas eu ainda estava lá, jogada na vala do descontentamento e frustração. Eu só queria ter alguém para abraçar e ser abraçada. Um beijo sem malícia, apenas zelo. Uma palavra de conforto pelas manhãs.

Alguém com quem eu pudesse dividir a vida.

Talvez meus pais estivessem certos: eu sempre escolhi demais. Seletiva ao extremo. Olhando mais uma vez para a senhora, que agora já havia fechado seu livro e o guardado dentro de uma de suas sacolas, comecei a me questionar se tinha valido a pena ser assim com tudo.

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