Capítulo 1 - De Volta ao Prédio Cinza

10 0 0
                                    

Seu rosto, seu copo de água agora vazio - ele tentou não o deixar cair - sua luminária... Isso... Com muito esforço encontrou o que buscava: Seu despertador. Antes barulhento, ensurdecedor, agora mudo após o pequeno botão vermelho em seu topo ser pressionado pelo homem ainda refém de seu próprio sono. Ele se permitiu ficar em sua cama por mais alguns segundos.

Sua cama branca de madeira com a cabeceira em acabamento simples, sem muitos detalhes, comprada em uma loja de usados a uns cinco anos atrás. Os lençóis também brancos e finos faziam com que o homem sentisse todo o frio daquele apartamento pequeno e solitário.

Logo, o homem se deu conta da dor incessante que sentia em sua cabeça. Era como se pequenas facas fossem enfiadas lentamente em seu cérebro. Uma a uma. Causando-lhe agonia a cada pontada que sentia. Ele conseguia sentir o líquido escorrendo pelo seu nariz... Limpou-o. Colocou-se sentado à beira da cama. Não estava pensando no cansaço, tão pouco no pesadelo que tivera naquela noite, mas sim nas pontadas que sua mente estava sofrendo naquele instante.

Já era manhã, então, não havia necessidade de acender a luz.

Olhou para a pequena gaveta de sua mesa de cabeceira, era simples, mas cumpria o seu papel. A mesa branca de madeira com detalhes dourados servia para armazenar seus remédios, sustentar sua luminária, despertador e qualquer bebida que o homem julgasse necessária para aguentar a noite. Ele a abriu e procurou pelo frasco de comprimidos que guardava em seu interior.

Tirou o lençol que o cobria durante a madrugada e foi em direção ao banheiro do apartamento. Em sua cabeça tudo passava em câmera lenta, era como se estivesse submerso em um oceano profundo, frio e escuro. O chão gelado de madeira do corredor passou a congelar a sola de seu pé quando virou os azulejos brancos quadrados de seu banheiro.

O homem cansado se direcionava para a frente do espelho naquele cômodo mal iluminado.

O espelho embaçado pelo frio o fez bufar enquanto com a pequena toalha de secar as mãos o limpou. Ele sentiu algo estranho enquanto desembaçava o espelho. A temperatura que já estava baixa caiu ainda mais e ele pôde ver o ar que respirava. Focando sua visão no espelho ele percebeu: Havia uma sombra ali.

"Quem está aí?" Os seus pensamentos gritaram ao ver aquela silhueta atrás de si naquele espelho. O homem olhou para trás no exato momento, alarmado. Cerrou o punho na toalha-de-rosto.

Nada.

Apenas a penumbra iluminada pelo amanhecer que passava com dificuldade através da pequena janela alta na parede do banheiro. Janela não, quase uma escotilha, sentia-se em um submarino e a parede de água ao seu redor apenas aumentava, sufocando-o.

Aquele cômodo carecia tanto de luz que ele não conseguia enxergar a cor dos ladrilhos da parede, apenas lembrava-se de que eram brancos, pois ligou a lanterna do seu celular para averiguar seu estado quando havia se mudado para este apartamento. Prometera que trocaria a lâmpada desde então.

Ele abriu a torneira e jogou a água gelada sobre o seu rosto cansado e inchado pelo sono. Sentia como - se tivesse a chance - dormiria por mais mil anos até a última lua cheia, quando as sombras finalmente retornassem à terra para reivindicar o que um dia era seu.

"Só mais um dia..." Pensou para si mesmo ao encarar aquela visão de desespero submersa em um cabelo grande e barba mal feita que o encarava através do reflexo no espelho do banheiro.

De peito nu, se debruçou sobre a pia e com dificuldade pela preguiça abriu o pequeno armário do banheiro. Tirou de seu interior mais um frasco de comprimidos. Estes de ansiedade. Encarou o remédio pensando sobre quando foi que acabou assim, refém de comprimidos para poder viver minimamente são. Aquilo tudo era culpa deles, o homem sabia disso. Fechou seu punho sobre o remédio enquanto colocou o frasco laranja em cima da pia.

O Diário de Investigações de Adam White - Volume 1 - A Cidade Dos DemôniosOnde histórias criam vida. Descubra agora