Ele concentrava sua mente no pêndulo do relógio dourado que estava na sala da recepção acompanhado por duas pequenas samambaias em vasos brancos. O relógio era antigo, tinha uma base de madeira bem grossa e era muito alto. O que trazia para o lugar uma falsa sensação de acolhimento de alguma forma.
As paredes brancas e pisos de ladrilhos da mesma cor faziam o ambiente parecer vazio, quase infinito, se não fosse pelos quadros de arte moderna com várias cores jogadas aleatoriamente sobre a tela. Como se um palhaço tivesse bebido demais e vomitado tudo em cima de papel branco e vendido por alguma quantia entre mil e dez mil dólares.
O homem vasculhou o amontoado de revistas sobre a mesa de centro em sua frente procurando alguma forma de distração daquele pesadelo. "10 Dicas para ser bem sucedido.", "Alimentação saudável em 3 passos simples.", "Harmonização com o doutor Hans S. Cruits"
Ele estava a um passo de vomitar.
— Eu sou a única pessoa nesse lugar, será que dá pra agilizar aí? — Adam disse em desespero para a recepcionista atrás do balcão de mármore escuro.
Se levantou e caminhou até ela.
Ela era uma mulher ruiva com cabelo longo, liso e com franja. Um terno azul e flanela rosa pastel em seu pescoço. Olhou para Adam com desdém de cima a baixo, como se ela também não fosse uma subordinada, descartável… Apenas mais um nome em um registro.
— Olha, eu sei que a Jéssica é uma mulher ocupada e tal… — Adam proferiu revirando os olhos e coçando a sua barba. — Mas eu acredito que se ela quer tanto falar comigo… Não precisa me enrolar aqui na sala de espera, né?
Assim que a mulher à sua frente terminou de ouvir, apenas piscou os olhos em câmera lenta, gesto acompanhado por um suspiro sarcástico. Ela se abaixou e tirou de uma gaveta de sua mesa uma prancheta com apenas uma folha e uma caneta.
— Preciso que você preencha esta ficha — disse lhe entregando o objeto. Como Adam já estava muito calmo pelo tempo que estava esperando, com certeza foi muito gentil com a jovem recepcionista que estava apenas fazendo o seu trabalho.
— Você só pode estar de brincadeira! — resmungou e começou a andar ignorando o pedido da mulher atrás do balcão.
— Espera! Você precisa ser anunciado! — ela gritou inutilmente ao se debruçar sobre o balcão.
O homem apenas olhou para trás por três segundos e proferiu:
— Eu sei o caminho, obrigado.
Caminhando apressadamente através da sala que cegava sua visão, Adam abriu a enorme porta de madeira escura que separava a sala do corredor da sala de reuniões. Não pisava naquele lugar fazia dez anos, mas ainda conhecia cada centímetro daquele prédio. Cada corredor, cada sala, ele estivera em todas, pelos mais diversos motivos e problemas.
Adam caminhou lentamente sentindo o cheiro de tinta fresca e madeira polida que invadiu suas narinas, evocando memórias antigas.
Ele buscou em suas memórias, as paredes, antes revestidas por um papel de parede branco com um desenho que imitava gesso, agora exibiam pinturas. Umas abstratas outras renascentistas que pareciam dançar sob a luz filtrada pelas janelas altas cobertas por um filtro escuro. O carpete, que antes era de um vinho fosco, havia sido substituído por um tapete cinza, cujas cores apenas reforçavam ainda mais o tom sóbrio das paredes.
Adam parou para observar as janelas.
Grandes janelas de vidro do lado esquerdo com visão para a cidade, os grandes prédios e o barulho do trânsito na rua abaixo. Tudo aquilo o lembrava como era viver em uma cidade grande, barulhenta e acelerada.
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O Diário de Investigações de Adam White - Volume 1 - A Cidade Dos Demônios
Mystery / ThrillerInfinity Falls, uma cidade onde o véu entre o mundo humano e o sobrenatural é tênue, nunca foi um lugar comum. Vampiros, lobisomens e bruxas coexistem nas sombras, e a busca por um equilíbrio entre as espécies é constante. Adam White, um ex-investig...