Algo Diferente (quase não) Acontece

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Parte 1 - Apenas (Quase) Mais Um Dia


Hoseok

Mais um dia começou e como sempre nenhum sonho, apenas uma tela preta e meu cansaço diário. Me levanto já com a intenção de fazer tudo igual aos outros dias. Um banho morno aquecia meu corpo enquanto a chuva e a neblina cobriam a cidade. De olhos fechados aproveito a boa sensação que a água causa ao escorrer pelo meu corpo. É relaxante. Poderia me deitar na banheira e passar horas ali até minha pele enrugar, mas não havia tempo. O trabalho precisava ser feito.

Em meu guarda-roupa, tons variados de cinza, vários casacos e blazers em preto e algumas camisas brancas. Parece obscuro demais, mas me traziam conforto. As mesmas cores se espalhavam pelos móveis brancos, da casa, com iluminação fraca e as paredes em cimento liso, com um estilo industrial. Livros haviam por toda a parte. Me vesti como de costume, uma camisa de gola alta e um blazer, calça da mesma cor e sapato social. Estava quase pronto, mas faltava o principal.

Na cozinha, preparei um pouco de café na cafeteira automática. Enquanto esperava a xícara encher, encostei no balcão que tinha visão para a varanda e então a chuva e a neblina. Era aconchegante, estranhamente confortável. Adorava essa época de inverno. As pessoas na rua sempre bem agasalhadas, crianças brincavam com suas galochas pulando nas poças de água, casais aproveitavam para passar o tempo juntos enquanto outros preferiam ver a chuva de suas janelas.

A cafeteira apitou, estava pronto. Peguei a xícara e me sentei na mesa da varanda, estava frio, mas era bom. Para uns o clima era sombrio, para outros era perfeito, para mim trazia inspiração, um cenário de romance. O inverno me fazia escrever as melhores histórias, as mais aclamadas. Elogios e críticas fazem parte da vida de um escritor, mas os livros que criava nessa época sempre me traziam bons comentários.

"Chega de café!" pensei saindo de meus devaneios e me levantando. Coloquei a xícara no lava-louças, voltei até o banheiro para escovar os dentes e estava pronto. Peguei minhas coisas, meu guarda-chuva e saí. Andava em passos lentos pois a gotas de água não estavam agressivas naquele dia. O metrô não ficava longe de casa, nem mesmo a livraria onde costumava a sentar para escrever, mas quando tinha pressa era mais rápido pegar a estação.

"O cenário perfeito." falei para mim mesmo enquanto andava pela calçada. Poucas pessoas na rua, carros estacionados, janelas fechadas, não havia barulho de buzinas, conversas altas, correria, apenas o barulho na chuva e calmaria. Decidi continuar a pé até a livraria, observando tudo. Nada tão diferente de todos os dias da minha vida. Sempre assim, eu em meu próprio mundo, sem amizades, apenas alguns conhecidos que cumprimentava na rua.

Chegaria na livraria, sentaria na mesa individual de sempre, perto do café, mas em uma parte um pouco isolada e continuaria a ler meu livro. Nunca o tirei da bolsa, lia muitas histórias da mesma autora. Annika, assim ela era conhecida pelos seus leitores, já tinha lido várias de suas obras, a linguagem que usava e modo como descrevia cada momento me ajudavam. Nunca a conheci de pessoalmente, mas seria uma grande oportunidade de fazer algumas perguntas.

Me distraí a ponto de não prestar atenção na rua. Foi tudo muito rápido, nem vi como caí no chão, apenas esperava que meu notebook não tivesse quebrado, precisava dele para meus trabalhos. Por sorte caí na calçada onde não estava tão molhado. Senti mãos me puxarem, auxiliando meu corpo a ficar em pé novamente. Quando me dei por conta, a voz masculina desconhecida me pedia desculpas insistentemente.

- Você se machucou? Posso te acompanhar até o hospital se estiver sentindo alguma dor. - Por fim percebi que um rapaz me analisava de cima a baixo procurando por ferimentos, a bicicleta de estilo retrô continuava caída no asfalto e suas coisas espalhadas perto dela. - Bateu a cabeça?

Algo Diferente (quase não) AconteceuOnde histórias criam vida. Descubra agora