8 - Paladar

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paladar
(pa·la·dar)

substantivo masculino
1. Parte superior da cavidade bucal. = CÉU DA BOCA, PALATO
2. Sentido pelo qual se distinguem sabores através da língua. = GOSTO, PALATO
3. Sabor.

Um beijo muda muita coisa, mas eu tenho certeza que uma pegação daquelas nível hardcore, consegue jogar nossa cabeça pro ar, incluindo nosso juízo e tudo mais.

Por muita insistência de Gianne e Alê, e aproveitando que eu estava lelé da cuca, eu decidi passar o fim de semana após o meu aniversário em SP.

Seria até bom na verdade, um detox de Alexandre é o que eu merecia depois de uma cena daquelas no quartinho da bagunça na Santo Gole.

Que homem, que pegada, que boca maldita, que dedos talentosos! Entendi o porquê do rústico estar na moda, entendi perfeitamente: Porque a brutalidade que ele invadia meu corpo com toda aquela ousadia que ele tinha, aquela falta de postura e medo de mim... perdia o fôlego, só de relembrar.

Memória sexual é uma coisa bem traiçoeira e pega de jeito quando a gente menos espera... e eu tô fora.

No primeiro dia depois daquela cena, eu acendi um incenso pela sala, clamei pelo poder de todos os meus cristais, e meditei ali no intuito de tirar aquele ranho de sexo que ele havia deixado no balcão da minha casa, que era dele, na verdade.

Vi que não deu em nada, já que tudo que vinha dele martelava lá na minha cabeça, todos os meus botõezinhos soltos.

Os filmes turvos de cachaça mineira, a sensação de estar sendo levada pro Santo Graal no Santo Gole, com um diabo do meu ódio.

Sem contar a ameaça de quem queria sentir meu gosto, muuuuuito bem gravada que nem secretária eletrônica na minha cabeça. Fiquei sóbria na hora, na mesma horinha.
E ainda de quebra, mais uma sequência de fogo no mesmo dia da minha limpeza espiritual no chalé, com direito a uma daquelas apertadas gostosas que ele me dava, lá no quintal da casa dos Neros, todo machão, querendo mostrar que era ileso aos meus efeitos, uma coisa que eu bem sabia que não colava.

Então, ainda na quinta, eu peguei meu Mini recém consertado e piquei a mula pra SP com a notícia e explicação dada apenas ao meu babbo, que entendeu e me deixou ir sem muitas lamentações, já que a terra da garoa ficava bem pertinho de Monte. E preferi falar da calmaria agoniante da minha vida pacata no campo a ter que fofocar daquele capial maldito que eu preferia no momento, apagar da memória.

Então, pra desafogar esse sentimento ruim eu decidi beber como uma condenada num barzinho conhecido em Pinheiros na sexta, passei a manhã de domingo no Ibira e me preparei psicologicamente para retornar à Monte Verde na segunda pós uma visita num imóvel de um cliente que queria porque queria que eu atendesse-o.

No fim das contas, acabei voltando só na quinta de noite. Porque celebramos a venda do apê must-have na segunda, na terça-feira era aniversário da Bruna, estagiária do Gianne e na quarta-feira meu carro entrou em rodízio nessa cidade maldita e a quinta-feira se tornou a única saída possível.

Às vezes, eu não acredito nem no que eu falo: QUE RAIOS TINHA ME ACONTECIDO PARA EU ESTAR RECLAMANDO PORQUE EU NÃO ESTAVA EM MONTE VERDE?

Afinal de contas, o que Monte Verde me oferece além de conflitos familiares, comida boa e alguns homens de procedência duvidosa? Fica no ar aí.

Aproveitei os dias fora pra viver minha vida paulistana ao máximo, não me dando ao direito de esquecer que essa sim era a minha vida real: compartilhar uma manhã tomando um pingado, na companhia de Alê e Gata, esparramadas pelo sofá em um dia off de trabalho e responses.

InnamoratoOnde histórias criam vida. Descubra agora