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- Melhor parar de encarar tanto as mulheres, está ficando óbvio demais.

- O que você está insinuando, Wriothesley?

- Uma mulher independente como você já tem mais dificuldade para encontrar pretendentes, mas algo me diz que homens não fazem o seu tipo. - O homem apoiou seus cotovelos na pequena mesa da casa de chá.

Era um dia ensolarado, quente. Fontaine estava com uma longa onda de calor. Ainda assim, ao invés de escolher um bistrô com bebidas refrescantes, o agente penitenciário insistia em beber chá.

- Não entendi.

- Não se faça, Clorinde. Você sabe que eu sou discreto. Admita e eu paro com as minhas investidas. - Assumiu uma postura prepotente como se exigisse que ela lhe obedecesse.

- Não use suas artimanhas contra mim, não sou seus sibordinados e muito menos um de seus prisioneiros. - Bebeu um gole do chá. - Mas sim, confesso que mulheres tem chamado muito a minha atenção... até demais. - A última frase saiu baixinho, como se as bochechas coradas já não denunciassem que Clorinde estava completamente constrangida.

- Eu sabia! - Wriothesley bateu na mesa. - Sigewinne me deve 10 reais.

- Você apostou com uma criança? Que absurdo! Espera, como Sigewinne-

- Foi só uma brincadeirinha nossa hehe. Claro que não vou cobrar ela, até porque Neuvillete me mataria.

- Você não respondeu a outra pergunta. - A arroxeada cruzou os braços.

- Ahh... a baixinha é muito esperta, fora que não precisa de muito esforço pra perceber que você é... diferente.

- Diferente?

- Que mulher resistiria aos meus encantos!?

- Ah vai à merda Wriothesley. E outra, eu sou impossibilitada de escolher com quem me relacionar. Meus pais estão procurando até hoje o "homem perfeito". - Fez áspas com os dedos e em seguida bebericou mais o chá.

- Eles querem o melhor pra você.

- Eles querem o melhor pra imagem nossa família, nunca se importaram com o que eu sinto de verdade.

- Clorinde, desculpe-me pela intromissão, mas por que você entrou pra guarda nacional? - O homem franziu o cenho. - É uma função majoritariamente masculina, sem ofensas.

- Também foi uma órdem deles. Nossa família tradicionalmente oculpa cargos em batalhões e na segurança no geral. Como meu pai não teve nenhum filho homem e eu sou a primogenita, tive que seguir seus passos. Ele se aposentou como coronel mas seu sonho é que eu chegue no mínimo no posto de general.

- Uau, pouco ambicioso ele. - Brincou, quebrando um pouco o clima pesado que se formou.

- Nem me fale.

- Já são 18 horas? Licença, está na hora de retornar à fortaleza. Senhorita, até mais ver. - O mais alto curvou um pouco seu tronco e se retirou da presença sa jovem.

Com seus 20 anos, o propósito de vida de Clorinde era orgulhar seus pais. Passou a infância inteira aguentando os comentários de seu progenitor sobre como gostaria de ter tido um filho homem, digno de carregar o nome da família. Por causa disso, se esforçava em dobro para ser a filha perfeita, mas nada era capaz de agradar seu pai.

- Com licença, senhorita, sabe para qual direção fica o banco? - Uma moça baixa, talvez por volta de 1,55, cabelos curtos num tom de castanho bem claro, olhos azuis e roupas nada comuns, lembra a roupa de uma babá ou empregada. Uma garota muito bonita e com uma voz melodiosa e gentil.

- Ah sim, o banco do norte? Naquela direção. - Apontou. - Vou para o mesmo sentido, se quiser, posso acompanha-la.

- Claro docinho, aliás, me chamo Sandrone. Não sou de Fontaine.

- Prazer, Clorinde.

As duas caminharam tranquilamente até o destino e durante o percurso a conversa fluía naturalmente.

- Toda vez que venho pra cá fico encantada com a quantidade de modelos autômatos circulando pela cidade. Pensa se eles perderem o controle e atacarem as pessoas!?

- O sistema de controle deles é bem planejado e seguro, caso aconteça, o que é bem improvável, a equipe de segurança não deve demorar muito para tomar o controle.

- Mas ainda assim, não deixa de dar um medinho né? Eu não confio muito nessas máquinas... - Disse Sandrone.

- Você veio fazer o que aqui em Fontaine? Se não for muita intromissão da minha parte perguntar.

- Visitar uma amiga, ela precisa de... uns favores, por isso vim ver o que era.

- Chegamos. - A mais alta anunciou parando logo na frente do estabelecimento.

- Muito obrigada, senhorita. - A garota disse enquanto sorria para Clorinde. - Aguardarei por um segunto encontro. - E com passos rápidos, Sandrone entrou no banco, deixando a arroxeada a ver navios.

- Tsc. Segundo encontro?

***

As coisas andavam agitadas na nação Hydro, Navia mal se lembrava da última vez que andou em terra firme. Tinha apenas 9 anos e insistia em conhecer sua terra natal, Poisson. A vida de pirata era tanto uma benção quanto uma maldição; navegar em alto mar e sempre embarcar em novas aventuras é libertador, mas, em contrapartida, viver sem ter um lugar para voltar causa um vazio.
Além disso, Callas sempre alertou a pequena sobre o porquê não podiam simplesmente "aparecer" em terra firme, caso alguém os denunciasse estariam perdidos, e, num linguajar mais simples, falou que caso o papai fosse pego ela jamais o veria novamente. O presidente da Spina di Rosula sempre protegeu a identidade de sua filha, portanto, ninguém reconheceria a garota na cidade.

Agora finalmente teria a tão sonhada liberdade! Com uma mala de cada lado, a pirata se sentia deslocada em meio a tanta gente. A Corte de Fontaine era conhecida por ser populosa e tecnológica, máquinas circulavam por tudo que é canto, bem como guardas tanto humanos quanto melusines.

- Pelos Arcontes, isso é uma melusine!? - A loira falou encantada e se abaixando na altura da criatura.

- Bonjuor senhorita! Respondendo a sua pergunta: sim. Mas preferimos que não nos tratem como bichinhos.

- Ah sim, perdão! - A humana falou, envergonhada.

- Pelo visto você não está familiarizada com a região, posso te ajudar de alguma maneira?

- É-é claro. Acabei de chegar mas não tenho lugar pra ficar. - Disse com um sorriso amarelo.

- Bom, nesse caso, posso leva-la até um de nossos hoteis! Durante o percurso vou lhe apresentando a cidade.

***

- Oh Arcontes, estou morta!

Finalmente, após um dia exaustivo, Navia pôde se jogar na cama enorme de uma dos quartos do Hotel Debord, um dos mais renomados da cidade. Antes de deixar a embarcação, seu pais deu-lhe uma quantia generosa de mora, afinal, apesar de sua rebeldia, ela ainda era a garotinha do papai.
Com os cabelos espalhados pela cama, roupas bagunçadas e de cabeça fria, a garota começou a planejar seus próximos passos. Apesar de Callas ser um homem reservado, comentou uma vez sobre uma pessoa de confiança que conheceu em Fontaine: Arlecchino. Navia nunca a viu, apenas escutou escondida algumas ligações entre ela e seu pai, aparentemente sobre negócios.

- Talvez eu devesse procurar por ela...

Em poucos minutos já havia encenado toda a situação em sua cabeça, a roupa que usaria na ocasião, o que falaria, como se comportaria... Navia se convencia de que isso não era ansiedade e sim apenas uma forma de precaução.
Com toda sua andança pela cidade de estômago vazio, a loira decidiu acionar o serviço de quarto e depois de alimentada, apagou de vez.

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⏰ Última atualização: Feb 18 ⏰

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