2:40 da madrugada. Estou de frente para o cadáver de meu pai que acabara de cometer suicídio cortando os pulsos com uma faca da cozinha. Inacreditável, nunca pensei que presenciaram tal cena.
Como sempre, eu estava acordado tarde da noite,até que quando eu ouvi o som dos passos do meu pai para a cozinha. Resolvi ignorar, mas, quando notei o silêncio perturbador que se instalou na casa, me levantei e fui até a sala silenciosamente só para conferir se estava tudo bem. Então, ao entrar na sala,me deparei com seu corpo jogado no sofá e seus pulsos profundamente cortados ainda com a faca ensanguentada ao seu lado. Agora eu estou paralisado em sua frente,vendo seu sangue escorrer e sujar seu corpo e o sofá.
Pensando que poderia salvar sua vida,chamei uma ambulância para ele que chegou em alguns minutos,mas não adiantou nada,ele já estava morto. Por não termos dinheiro suficiente, ele foi enterrado como indigente,sem funeral ou qualquer coisa do tipo,e nem mesmo nenhum de seus parentes,mesmo com meus recados sobre ua morte,se prestou para me fazer uma visita ou só prestar qualquer homenagem ou condolências ao morto.
Se já não bastasse ter minha mãe assassinada por um louco quando eu era criança, agora meu pai se suicidou,me deixando totalmente sozinho e com pouquíssimo dinheiro,dinheiro que eu usaria em minha passagem para São Petersburgo, onde irei fazer minha faculdade. Mas,agora que estou órfão, me sinto perdido. Minha viagem seria em 1 semana e eu já tinha arrumado inclusive um dormitório na universidade e uma vaga de emprego onde em começaria também em uma semana,mas agora eu não sei o que fazer. Meu pai já foi enterrado,mas ainda tenho que desocupar a casa que alugava e resolver o que vou fazer com os móveis,já que não tenho como levá-los comigo. Então, decidi vendê-los por um preço baixo só parame livrar deles o mais rápido possível,logo,consegui apenas algumas centenas de rubros que durariam apenas algumas semanas,considerando que eu não consigo passar o dia sem comprar alguma bebida e bebe-la até sua última gota, um vício que provavelmente herdei de meu pai. Em alguns dias eu já tinha vendido tudo: nossas camas, armários, mesas, cadeiras,eledromesticos e entre outros. Só não vendi o sofá em que se suicidou, este eu queimei antes de ir embora pra sempre daquela cidade maldita.
Durante a viagem, pensei muito no que vivi lá e em tudo que suportei por anos. Minha mãe sempre foi uma fanática religiosa que sempre me obrigou a frequentar igrejas,rezar, fazer promessas e coisas do tipo. Na nossa igreja, o padre sempre apareceu assustador pra mim, principalmente quando forçava proximidade de mim ou quando estávamos sozinhos. Eu tinha a impressão que ele podia fazer qualquer coisa comigo e que nada iria acontecer com ele, então muitas coisas eu aguentava calado. Ficava em silêncio principalmente porque sabia que ninguém acreditaria na criança travessa e "diabólica" (como muitos falavam) que eu era, mas sim no padre da igreja que todos confiavam e respeitavam. Ele,sim,tinha muito poder. Ele sabia disso e usava a seu favor.
Foram horas até eu finalmente entrar no meu novo dormitório. Era pequeno,sujo e meio furreca, mas eu ainda não tinha dinheiro para pagar um aluguel. Arrumei minhas poucas coisas no quarto e me deitei na cama com a cabeça quase explodindo de dor. Mesmo com a morte de meu pai, eu não podia simplesmente parar minha vida, eu tenho que agir, se não eu vou morrer como ele.
Passo algum tempo deitado antes de cair no sono,tentando descansar o máximo pra acordar cedo amanhã para minhas primeiras aulas.

My Poison | FyolaiOnde histórias criam vida. Descubra agora