Após algumas semanas insistindo em falar com Fyodor, ele meio que "aceitou" nossa amizade e parou de tentar me afastar como antes, inclusive, essa persistência em ficar sozinho só me fez achar que ele é depressivo, louco ou qualquer coisa do gênero, mas, de qualquer jeito, estou sempre aberto à novas amizades.
Antes da aula começar, corri até Fyodor com dois copos de café em minhas mãos e um entusiasmo que ele nunca entendia como eu tinha às 6 da manhã.
— Fedya, bom dia! Comprei café pra você,toma.— disse eu,estendendo minha mão com o copo dele.
—Obrigado— pegou o copo de café e deu um gole.
Engraçado que hoje ele não se importou quando o chamei de "Fedya". Não sei se ele passou a gostar do apelido de verdadee ou se só está um pouco lerdo pela manhã, mas vou fingir que ele só realmente gostou.
—Então, estive pensando..
— Isso não é bom— interrompeu ele enquanto bebia o café.
—Você não sabe o que eu ia falar.
—Fale agora, então.
Abrindo um sorriso,eu continuei a falar com energia.
— Estive pensando, você está sem colega de quarto,eu também...então eu pensei que poderíamos dividir um dos quartos! O que você acha? Sou seu único amigo aqui, e meus outros colegas me evitam.
—Não, obrigado— respondeu, jogando o copo vazio de café na lixeira.
— Mas por que?— o olhei de forma triste.
—Aluguei um apartamento perto daqui, bem melhor que esses dormitórios e bem mais perto do meu trabalho.
—Trabalho? Onde você trabalha?
-— Já deu o horário da minha aula,tchau— disse ele sem responder minha pergunta e indo rapidamente para uma das salas de aula.
Conferi o horário e vi que eu estava uns 10 minutos atrasados,então fui para minha sala e lá eu fiquei até as aulas acabarem. Assim que saí da aula para procurar a outra sala onde teria outra aula, vi Fyodor nas escadas,com um cigarro já no fim e uma expressão pensativa. Cheguei perto dele, estendendo uma das mãos, o que ele achou que fosse para segurá-la, mas era outra coisa.
—Pode me dar um cigarro também? — Pedi com um sorriso.
A expressão dele foi pra desgosto em um segundo.
— Você me pede isso todo dia, Nikolai. Comece a comprar os seus próprios maços, folgado.
—O que? Poxa, é que eu tô economizando dinheiro para comprar livros e pra poder alugar algum apartamento como você.
— Deixe de ser sonso— falou enquanto apagava o cigarro em um dos degraus da escada— cigarro não é tão caro assim, e eu aposto que você já deve ter dinheiro suficiente para sair dos dormitórios— continuou ele.
— Meu emprego não paga tão bem,e eu também tenho despesas.— me sento ao lado dele com meu meu rosto entre as mãos.— Eu não sei como arrumar mais dinheiro— continuei.
— Não sabe porque é burro! Eu trabalho em uma livraria e ganho 620 rublos,mas eu também trabalho como tutor para umas duas meninas perto do centro da cidade, e os pais delas me pagam 10 rublos por hora. No total, eu tenho 800 rublos por mês. Eu só fiquei guardando uma parte até eu poder alugar um apartamento mais decente.
Eu pareço impressionado. Como eu nunca pensei assim antes? Será que eu realmente sou tão idiota?
— Sério? Eu trabalho em um bar e ganho,ao todo, uns 500 rublos por mês.
— Desses 500 rublos, guarde uns 150 por mês. Pode fazer como eu, ser tutor particular de alguma criança que está mal na escola. É chato, mas rende um dinheiro.
— Ah sim, vou tentar...agora...você pode me dar um cigarro?
Ele revirou os olhos com uma expressão irritada, e então meteu a mão no bolso e tirou um cigarro.
— Tome, agora cale a boca— disse enquanto enfiava o cigarro na minha boca e o acendia com um isqueiro.
— Você não vai voltar pra aula!— me perguntou.
— Ih, esqueci das aulas.
— Que idiota.
— E porque você não está tendo aula?
— Meu professor faltou.
Traguei o cigarro, pensando se era realmente correto fumar em uma das escadas da universidade, mas acho que com ninguém passando não tem erro. Ele encostou a cabeça no corrimão e cruzou as pernas, foi aí que eu tive uma ideia. Vendo seu rosto vazio, me compadeci, mesmo que sua falta de expressão não significasse necessariamente tristeza.
—Ei, tive uma ideia. Que tal você passar no bar que eu trabalho hoje a noite? Você pode beber e conversar comigo! Eu faço as melhores bebidas e meu chefe nem repara em mim direito.
— Tá, pode ser— concordou sem hesitar, o que eu estranhei. Pensei que ele fosse me xingar ou mandar eu trabalhar e deixar de ser um inútil.
— Isso! Hoje abrimos às 20 horas, ok? Esteja lá!— falei com animação e o dei um abraço, o que ele deve ter odiado julgando pelo seu rosto, e então apaguei o cigarro e saí correndo.
— Você não me contou o endereço!-—Parei e voltei correndo para ele, contei os detalhes de como chegar lá e fui para meu quarto.
horas depois eu estava atrás do balcão, preparando bebidas dos clientes e esperando Fyodor. Quando menos espero, vejo ele entrando usando as mesmas roupas que estava usando na universidade, e eu acho que ele tem cara de que toma poucos banhos por dia. Ao vê-lo, larguei a cerveja de um cliente no balcão, que me xingou de algo, e dei um sorriso para Fyodor.
— Fedya, você veio!
— Você me chamou— disse enquanto se sentava ao balcão— uma vodka, por favor — pediu.
Rapidamente eu lhe dou o que pediu e,ao beber,pediu outra. Enquanto bebia, nós conversávamos sobre várias coisas,mas então eu o vi ficar um pouco bêbado após alguns shows de vodka e um de whisky. É até engraçado, seus olhos ficam um pouco vermelhos, seu corpo fica mais mole e suas falas ficam arrastadas e baixas.
— Sabe, senti pena de você — começou a falar segurando seu copo de whisky vazio— Pensei,se você quiser, tem dois quartos no meu apartamento, você pode ficar lá...
Nessa hora eu sorri,mas também achei precipitado chamar um amigo que conheceu pouco mais de um mês para morar com você, porém eu não me importei.
— Claro que eu quero!— respondi com entusiasmo, derrubando gim em outro cliente que também me xingou.
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My Poison | Fyolai
FanfictionPOV: Nikolai Nikolai, um garoto russo de 18 anos que perdeu os pais, decide mudar-se para São Petersburgo e lá iniciar sua faculdade de literatura e seu novo emprego num bar popular da região. Apesar de já ter passado por muita coisa,seus problemas...