Inimigos Íntimos | Pejão

The new album

João Vitor°

As dores tomaram conta de mim. Deixei as mentiras acabarem com tudo mais uma vez.

Minha grande sorte era que a turnê de lobos já tinha acabado. Por isso passei o dias todos em casa.

Remoendo todas as dores. Eu usava muito da bebida pra poder esquecer tudo aquilo. Isso estava se tornando um vício perigoso.

Eu não respondia as chamadas de ninguém. E tinha esperança que uma hora Pedro iria me ligar, dizendo que uma luz gloriosa desceu do céu, contou tudo pra ele, agora ele sabe de tudo! E me ama ainda mais e sabe que sou o amor da vida dele. E pronto, juntos novamente, tempos de glória a frente.

Quanto contos de fada. A vida não é isso. Se eu dizer, não vai ter nenhuma luz pra dizer. Mas o que agora me adianta dizer? Não tenho mais contado com ele.

Uma semana, uma semana que estou vendo só a escuridão do meu quarto. Saindo apenas pra comer um pouco e beber. lógico cuidar da chicória.

Estou totalmente sensível a luz. Porém em mais uma madrugada, não aguentando mais nada disso. Deixo a garrafa quase vazia de lado, levantando, acendendo a luz fechando os olhos rapidamente.

Me acostumando aos poucos com a claridade, sento na ponta da cama do meu quarto, com o violão. Fazendo um som, totalmente aleatório. Apenas o som que o coração vazio e quebrado deixava vazar pelas veias. Na cabeça me vem palavras que vão se encaixando. Anoto tudo em um papel, até mesmo aqueles acordes.

Olhando pro papel em minha frente repetindo tudo, dessa vez com o celular gravando a música.

- Minhas melodias tão vazias, longe dos teus escritos.
Nós dois juntos sempre fomos, nossos artistas favoritos..
Se eu me perdi em outros lábios, foi pra te prender me odiando.
Foi um grito ainda te espero, pra escrever latino americano... Eu tento mas nunca me lembro do que era antes de você, e se antes de dezembro eu sabia me reconhecer.
E se eu não gostar de mim? E se eu for mesmo tão pequeno? Eu não devia questionar, me desculpa mesmo..

Cada palavra saia como um suspiro de minha boca. Nada daquilo era totalmente real, mas ainda sim era totalmente real. Aquilo doía demais e agora poderia colocar pra fora.

- Uma noite no alto de um prédio, vendo a cidade por cima.
Você disse "a gente aprende a voar na descida"
E você foi tão mais alto, e eu fiquei com o que dói.
Em queda livre eu sou mesmo
um
anti herói

A composição era boa, o som era bom, mas o motivo não.

Soltei o violão, abaixando a cabeça pra chorar. Desligando a gravação.

Mandei a gravação pro Renan. Ele disse que era uma ótima música e que já tinha entendido todo o motivo do meu sumiço. Ele não quis colocar a música em um projeto adiante.

Mas eu quero fazer um álbum. Quero fazer o que me faz bem, pra tirar essa dor de dentro de mim.