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Lyana


A carruagem avançava pela estrada empoeirada, jogando-me de um lado para outro. As rodas rangiam e os cavalos bufavam, enquanto a fúria percorria minhas veias como um rio caudaloso. Eris, impassível ao meu lado, fingia ler um pergaminho, ignorando completamente minha angústia.

 Onde estamos indo? questionei, a voz tensa e embargada pela raiva.

— De volta ao nosso lar  ele respondeu, sem tirar os olhos do pergaminho Para onde deveríamos ter atravessado desde o início dessa confusão

— Nosso lar? — refutei com sarcasmo pingando em cada palavra — Você chama essa prisão de lar?

Ele finalmente me encarou, seus olhos frios como gelo:

— Cuidado com suas palavras, Lyana. Você está desafiando a autoridade do seu marido

— Marido? — debochei — Que tipo de marido me sequestra e me leva de volta contra minha vontade? Que tipo de marido me mantém reclusa em um castelo, longe de tudo e de todos que me amam? Que tipo de marido me impede de amparar a minha corte?

Eris se conteve por um momento, como se ponderasse suas palavras:

— Sua corte? Sua corte é a nossa casa, da qual nunca devíamos ter saído.

 A raiva em seu olhar não conseguia esconder as dúvidas que contorciam-se em sua mente:

— Não iremos consumar o casamento esta noite.

A carruagem parou com um solavanco em frente ao imponente castelo de obsidiana. A porta se abriu e Eris saiu primeiro, estendendo a mão para me ajudar a descer. Ignorei sua mão, preferindo saltar do veículo com meus próprios pés. A grama úmida e fria sob meus pés descalços me fez estremecer.

Eris me encarou, seus olhos ambar queimando minha alma. Ele deu um passo à frente, invadindo meu espaço pessoal:

— Eu sei o que você fez — ele disse, baixinho, como se estivesse me confessando um segredo.

Meu coração deu um salto no peito:

— Eu sei sobre você e o pirata humano.

As palavras me atingiram como um soco no estômago. O sangue fugiu do meu rosto, deixando-me pálida como a neve:

— Mas não pense que estou bravo. Eu já sabia que você era uma criatura infiel quando me casei com você — Seu olhar voltara a ser como antes, como nas primeiras vezes em que nos encontramos. Transbordando desconfiança, ambição...

Engoli em seco, tentando conter as lágrimas que teimavam em cair. Eu me questionava o motivo pelo qual eu estava sentindo o que me corroía neste momento, as coisas estavam começando a fugir do meu controle,  e eu não gostava nada disso:

—  Por que me casei com você mesmo assim?— ele continuou —  Porque eu precisava de uma rainha, Lyana. Uma rainha forte e poderosa para me ajudar a governar este reino.

O sorriso mais cruel que eu vira Eris dar estava estampado em seu rosto. Eu me perguntava se ele sentia, se ele poderia estar sentindo o desconforto em meu ventre diante toda aquela situação, através do nosso acordo:

—  E eu fui apenas uma ferramenta para você também, não sou? — Perguntou Eris —  Você é minha esposa, Lyana. E eu pretendo que você continue sendo assim.

— Mas você não me ama — constatei, a única frase que eu consegui dizer.

Eris bufou uma risada:

Corte de Luz e Sombras - Livro 1 - Fanfic ACOTAROnde histórias criam vida. Descubra agora