WI-FI

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SINA DEINERT

TUDO COMEÇOU COM A SENHA DO WI-FI

Sim, parece algo simples e sem importância, mas não é.
Hoje em dia, a senha do wi-fi é mais valiosa que muitas coisas. A internet por si só já é um tanto viciante. E a internet sem fio é praticamente como ter seu próprio traficante dentro de casa. Conheço gente que prefere não sair a ter que perder sua valiosa conexão wi-fi.

Para mostrar a importância do wi-fi, quero contar a história envolvendo meus vizinhos dos fundos: os Urrea.
Minha mãe veio da Alemanha para os Estados Unidos quando estava grávida de mim, e embora tenha sido uma grande luta até chegar a esta cidadezinha em Los Angeles, socializar com nossos vizinhos nunca foi um problema. Exceto com os Urrea.

Por quê? Bem, eles são pessoas endinheiradas, fechadas e detestáveis. Se chegamos a nos cumprimentar três vezes, foi muito.
A família deles é formada pela sra. Wendy Urrea, seu marido Marcus e os três filhos: Bailey, Noah e Pepe. Como sei tanto sobre eles se nem nos falamos? Bem, a razão tem nome e sobrenome: Noah Urrea.
Suspiro só de pensar, e corações imaginários flutuam ao meu redor.

Noah não estuda no meu colégio, e sim em uma prestigiada escola particular. Mesmo assim, arquitetei um horário para vê-lo. Digamos que tenho uma obsessão não muito saudável por ele.
Noah é meu amor platônico desde que o vi brincando com uma bola de futebol no quintal dos fundos da casa dele, quando eu tinha só oito anos. Mas minha obsessão foi diminuindo com o tempo, porque nunca troquei uma palavra com ele, nem sequer um simples olhar.

Acho que Noah nunca notou minha presença, embora eu o "persiga" um pouco; com ênfase no "um pouco" — não é motivo para se preocupar.

O pouco contato que tenho com meus vizinhos está prestes a mudar, já que o wi-fi não só é imprescindível, como tem a capacidade de unir mundos diferentes.
Uma música do Imagine Dragons ecoa por todo o meu pequeno quarto enquanto eu canto e termino de tirar os sapatos. Acabo de chegar do meu trabalho de férias e estou exausta; as pessoas acham que, por eu ter dezoito anos, deveria estar cheia de energia, mas não é bem assim.

Minha mãe diz que tem muito mais energia que eu, e ela está certa. Estico os braços, bocejando. Rocky, meu cachorro, um husky siberiano, me imita do meu lado. Dizem que os cachorros se parecem com os donos. Bom, Rocky é minha encarnação canina, e juro que às vezes ele faz os mesmos gestos que eu. Rondando o quarto, meus olhos se detêm nos pôsteres com mensagens motivacionais nas paredes. Meu sonho é ser psicóloga para poder ajudar as pessoas, e espero conseguir uma bolsa de estudos.

Vou até a janela para contemplar o entardecer. É meu momento favorito do dia, adoro observar em silêncio o sol desaparecendo no horizonte e abrindo caminho para a chegada da lua esplendorosa. É como se os dois tivessem um ritual secreto, um pacto em que prometeram nunca se encontrar, mas sempre compartilhar o céu majestoso. Meu quarto fica no segundo andar, então tenho uma vista maravilhosa.

No entanto, quando abro as cortinas, não é exatamente o entardecer que me surpreende, mas a pessoa sentada no quintal dos fundos dos meus vizinhos: Pepe Urrea . Já faz
muito tempo que não vejo um deles no quintal, e não posso culpá-los pela falta de privacidade, já que a casa fica a poucos metros da cerca entre nós.

Pepe é o mais novo dos três irmãos, tem quinze anos e, pelo que ouvi, é um garoto bonzinho, ao contrário dos outros. Sem dúvida, o gene da beleza está presente nessa família, porque os três irmãos são muito bonitos, e o pai não foge à regra. Pepe tem cabelo escuro e um rosto bem delineado, os olhos são castanhos, como os do pai.
Apoio meus cotovelos na janela e fico o observando. Percebo que está com um notebook no colo e parece escrever alguma coisa com certa urgência.

Onde estão seus modos, Sina?, ouço mentalmente a voz da minha mãe me repreendendo. Eu deveria cumprimentá-lo?
Óbvio, é seu futuro cunhado.
Pigarreio e preparo meu melhor sorriso.

— Boa tarde, vizinho! — grito, dando um tchauzinho. Pepe levanta o rosto, que se estica em uma expressão de
surpresa.

— Ah! — Ele se levanta de repente, jogando o notebook no chão. — Merda! — xinga, pegando-o imediatamente e verificando seu estado.

— Tudo bem aí? — pergunto, me referindo ao computador, que parece caro.

Apolo solta um suspiro de alívio.

— Sim, tudo bem.

— Sou a Sina, sua vizi... - Ele dá um sorriso fofo.

— Eu sei quem você é, somos vizinhos a vida inteira.

Com certeza ele sabe quem eu sou. Não faz papel de boba, Sina!

— Pois é — murmuro, envergonhada.

— Preciso ir. — Ele recolhe a cadeira. — Ah, obrigado por nos dar a senha do wi-fi. Vamos ficar sem internet uns dias por causa da instalação de um serviço novo. É muito legal da sua parte compartilhar sua internet. - Fico paralisada.

— Compartilhar minha internet? Do que você está falando?

— Você está compartilhando seu wi-fi com a gente, por isso estou aqui no quintal. O sinal não pega dentro de casa.

— O quê? Mas eu nem dei a senha para vocês... — Mal consigo falar de tão confusa. Pepe franze a testa.

— Noah me disse que você deu a senha para ele. - Meu coração dispara quando escuto o nome.

— Nunca troquei uma palavra com seu irmão. - Podem ter certeza de que eu me lembraria com riqueza de detalhes se tivesse falado com ele.

Pepe parece se dar conta de que não estou sabendo
dessa história, e suas bochechas ficam vermelhas.

— Desculpa. Noah me disse que você tinha dado a senha, por isso estou aqui. Desculpa mesmo, de verdade. - Balanço a cabeça.

— Tudo bem, você não fez nada.

— Mas se não foi você quem deu, como ele tem a senha? Acabei de usar a sua internet - Coço a cabeça.

— Não sei.

— Bem, isso não vai se repetir, desculpa mais uma vez. —Com a cabeça baixa, ele desaparece por entre as árvores do quintal.

Fico pensativa, olhando o lugar onde Pepe estava sentado. O que foi isso? Como Noah tem minha senha do wi- fi? Isso está se transformando num mistério policial, e já posso até imaginar o título: O caso da senha do wi-fi. Balanço a cabeça, tentando afastar essas ideias loucas.

Fecho a janela e me recosto nela. Minha senha é constrangedora, e Pepe sabe qual é. Que vergonha! Como ele conseguiu? Não faço a mínima ideia. Noah não só é o mais bonito dos três irmãos, como também é o mais introvertido e fechado.

— Sina! O jantar está pronto!

— Já vou, mãe! - Isso não vai ficar assim, vou descobrir como Noah conseguiu a senha. Vai ser minha própria investigação no estilo CSI. De repente até compro uns óculos escuros para parecer um detetive profissional.

— SINA!

— Estou indo!

Projeto senha do wi-fi iniciado.

Através da minha janela - NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora