Capítulo dois

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Talvez eu não devesse tentar ser perfeitoConfesso, estou obcecado pela superfícieNo final, se eu cair ou se eu conseguir tudoEu só espero que valha a penaNERVOUS - THE NEIGHBOURHOOD

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Talvez eu não devesse tentar ser perfeito
Confesso, estou obcecado pela superfície
No final, se eu cair ou se eu conseguir tudo
Eu só espero que valha a pena
NERVOUS - THE NEIGHBOURHOOD

           
MAVIS JONES

 
Meu corpo, sem motivo aparente, se arrepiou por completo. Sua presença mexia com meu ser sem meu consentimento. Seus olhos encaravam os meus sem quebrar o contato; ele parecia tentar decifrar os meus pensamentos, tentar entender o que se passava na minha mente.

Suas orbes castanhas encaravam minhas linhas de expressão, investigando cada detalhe do meu rosto descaradamente. Não me importei com sua inspeção ou o que ele estava pensando sobre mim. Quebrei o contato visual mirando minha visão para as árvores à minha frente.
  
— Obrigada. — Sussurrei de modo audível, minha voz saiu rouca pela fumaça e pela falta de uso.

Parei de sentir seus olhos encarando o meu perfil e, de soslaio, observei ele soltando a fumaça de seu cigarro pelo nariz enquanto encarava algum ponto à sua frente. Desde que entrei na universidade, no início deste mesmo ano, o moreno nunca trocou nenhum tipo de palavra comigo, nem mesmo no dia que o conheci, onde foi pura coincidência, no meu primeiro dia na faculdade.

Melanie e eu entramos através de uma bolsa de estudos, fizemos uma prova e conseguimos uma bolsa integral até o fim da faculdade. A acastanhada seguiu o ramo de medicina veterinária, o que já era de se esperar, e eu, artes.

Instintivamente, me lembrei do ocorrido. Naquele dia, eu estava desenhando no meu caderno de desenhos, sentada na arquibancada em frente a piscina da universidade; estando um pouco iluminado, era bem cedo, já que cheguei antes do horário por conta de uma briga que tive com meu pai. Foi exatamente o dia em que ele soube que escolhi o ramo de artes.

Foi em uma pausa para pegar um cigarro e o acender que eu o vi. Collins estava beijando uma garota prensada na parede com a mão por debaixo de sua saia, e as mãos dela estavam em seus cabelos. Observei aquilo enquanto o cigarro queimava entre meus dedos e o caderno estava descansando na minha outra mão.   

Meus olhos queimavam suas costas e por alguns segundos, ele desgrudou da mulher que estava atacando e virou o rosto exatamente para onde eu estava. Seus olhos percorreram todo o meu ser, exatamente como estava fazendo a instantes. Apesar da distância, ele me encarou por inteira, ignorando a existência da garota que tentava espiar por cima dos ombros largos o motivo pelo qual ele parou de a beijar.

Foi a primeira vez que vi algo em seus olhos e foi ali que cheguei a conclusão de que realmente os olhos são o espelho da alma. Suspirando suavemente e voltando ao momento de agora, deslizei os fones para meus ouvidos e deixei a música me envolver em uma bolha de tranquilidade, apesar de tê-la deixado alto ao ponto de vazar pelos fones.

Deixava as melodias inundarem meus sentidos e pensamentos, enquanto observava a árvore à minha frente. Aprendi a valorizar os momentos de silêncio, os espaços vazios onde podia simplesmente existir sem a pressão de ter que me explicar para o mundo. Os fones de ouvido se tornaram minha armadura, os desenhos a minha espada e o meu silêncio, meu braço direito.

HEARTLESS - REESCREVENDOOnde histórias criam vida. Descubra agora