2. Abaixo à tirania

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Lombardia, Itália.

A família real pertencente à dinastia da rainha Saad Gattaz desembarcara ao norte da Itália, na região da Lombardia, em uma província relativamente extensa mas aparentemente pacata e pitoresca. Com as ameaças de guerra e ataques à coroa, a fuga havia sido a melhor resposta ao embate declarado. A coroa deixara seu território de origem e se deslocara para outro no qual melhor poderia se defender e articular. Abandonara o luxo do grande palácio no qual vivia e passara a residir nas comodidades de um castelo com menos requinte, porém muito mais estratégico e seguro. O castelo era, sim, muito grande e isso estava longe de ser um problema, visto que muitas pessoas viviam ali, desde pessoas da realeza a servos que trabalhavam na cozinha, no jardim, na tesouraria e na guarda real.

O castelo estava inserido em uma parte mais alta e montanhosa afastada do centro urbano e comercial. Estrategicamente construído, era feito de altos e revestidos muros. Com uma majestosa longitude, comportava os mais diversos cômodos: algumas salas de encontros com belos quadros e objetos luxuosos; salas de reuniões com grandes mapas e livros nas quais eram estabelecidos planos e acordos categóricos que definiam a direção para qual o reino apontava e salas de treinamento e lutas repleta de objetos de guerra, comumente utilizados pelos guardas reais. Haviam muitos quartos de casais, de solteiros, de hóspedes e os aposentos domésticos. Havia também uma grande cozinha que ficava próxima às salas e alguns pequenos banheiros. Uma vasta biblioteca de dois pisos e um esplendoroso salão de festas também compunham esse ambiente. Além disso, no piso inferior havia uma desconfortável masmorra para aqueles que apresentassem algum tipo de ameaça à coroa. Na entrada, uma ponte suspensa de concreto dava acesso ao portão principal e um belo e bem cuidado jardim ornamentava a primeira vista de seu interior.

Àquela altura, não era segredo para o povo lombardo que a coroa dividia espaço com eles. A ameaça sofrida e a fuga repentina da realeza já eram de conhecimento dos habitantes da região. Incomodados com toda aquela situação de risco iminente, culpabilizavam a rainha. A situação na qual se encontravam também era de inquietação: um cenário de pobreza e epidemia alarmante perpassava a vida daqueles indivíduos. O posicionamento da realeza ante às mazelas que assolavam-os era irrisório. A monarquia não governava para o seu povo. O descaso com o sofrimento da população incomodava-os profundamente e estava gerando reflexos em algumas camadas da população. Não à toa, era fácil de observar à tardinha da noite quando a cidade se acalmava do fluxo diurno e punha-se a descansar pequenos grupos se formarem em pequenos estabelecimentos comerciais para dialogar e refletir sobre aquela conjuntura. Havia boatos que tinham interesse em acabar com a tirania da rainha e tirá-la do poder.

A rainha Saad Gattaz era a sucessora de sua mãe - rainha Carmélia Saad Gattaz - agora morta. O acidente ocorrera em uma emboscada da qual sua mãe fora vítima. Fazia pouco tempo desde o ocorrido, mas havia sido tempo suficiente para que a atual rainha ascendesse ao trono. Sendo filha única e sem parentes próximos relevantes o bastante para disputar a coroa, não foi muito difícil de isso acontecer.

Uma investigação acontecia por entre os muros do castelo. Todos ainda se encontravam surpresos com a morte precoce da rainha Carmélia Saad Gattaz. A rainha Saad também não entendia muito bem como tudo aconteceu. É verídico que estava presente no exato momento do ocorrido, mas foi tudo tão rápido que nem tivera tempo de observar nada além de sua mãe afrouxando o aperto com qual segurava seu corpo e caindo no chão já sem vida. Levara um tiro. Um tiro à queima-roupa, certeiro e que tirara a vida da mulher que, em um abraço, repetia palavras bonitas no ouvido da filha. Não sabia de onde o disparo havia partido, mas sabia que viera na direção exata de sua mãe. Ela era o alvo e foi abatida com sucesso. Não gostava de pensar naquilo. Amava profundamente sua mãe e as memórias que criara com ela, mas o dia de sua morte era algo que ela fazia questão de esquecer, embora achasse ser impossível.

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