oi, eu criança.

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eu queria ter estado pronto para aquele momento
     aquele momento em que eu pude sentir minha alma sair do meu corpo e zarpar na companhia do vento
       momento o qual eu senti o gosto de café forte que a minha avó passava durante a tarde
     os dias corriqueiros de dezembro e até mesmo o natal de dois mil e doze
    o beijo salgado da minha mãe e o suor escorrendo na testa numa sexta-feira de calor
  os dias de recuperação que se passaram lentamente e os dias de são joão que voaram com o vento
    de quando ligava o rádio no último e dançava a tarde toda até o meu tio chegar do trabalho
    as poesias que eu comecei a por no papel aos doze anos e as cantorias tristes num dia cinza e nublado
    as primaveras, os outonos, os verões e os invernos que eu pude ver
que pude apreciar
   as lágrimas doces ou amargas - em suma maioria -, minha vó na cozinha cantarolando e meu avô no quarto resmungando

sinto falta

sinto falta de mim

sinto falta da minha criança 

Texto 03/08/2023

As variantes de Dante Onde histórias criam vida. Descubra agora