mangeur cruel

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Outrora como a Babilônia, ou talvez Sodoma e Gomorra. Meros pecaminosos entrelaçados a depravação, entregues ao nosso lugar sagrado, vistos pela sociedade de modo grotesco, doentio, bestial. Ora, desde quando amantes poderiam ser tão perigosos, ameaçadores a integridade tradicional familiar?

Uma ofensa aos deuses eles disseram. Adoradores natos de Belzebu, Asmodeus e os demais demônios, falsos profetas, imagens e simpatias. Disseram que sua existência por si só era considerada blasfêmia contra o tão santíssimo Deus, mas profundamente quem importava-se com isso? Afinal, seres humanos são tão pecadores como nós, bulinadores da terra prometida, destruidores do paraíso, expulsos, amaldiçoados, e nós que somos culpados por seus erros?

Recordo-me perfeitamente da noite em que a lua era o único ponto de luz presente na vasta escuridão tão perpétua daquele grandioso céu, redonda e reluzente, tão graciosa como uma pérola em seu perfeito estado.

Magnífica digna de adorações, e tanto quanto ela, magnífica lua, esbanjando sua divindade, você surgiu, não me recordo como, quando ou de onde viera, sul, norte, nada importava além de sua mais pura perfeição e olhar hipnotizante, sedutor, digno das mais belas profecias românticas, tal qual o eu lírico criado pelos mais talentosos poetas e suas obras.

E você era minha obra prima, minha musa, mon tout, fissurada na busca pela perfeição não tive escolha em auxilia-la, apesar de seu primor não reconhecido por si própria.

Tolos eram os que proferiam injúrias, calúnias e maldições contra você, ora, não éramos nós os causadores de toda desgraça? Então de onde surgiram tais rebeldias, hostilidade beirando a bestialidade contida profundamente na impureza de suas almas, falsos seguidores da paz, julgadores sem escrúpulos, indignos de perdão e mesmo assim fascinados por acusações, creio então que o castigo não deveria recair sobre nós, mas a realidade é dura, cruel e desenfreada, tão podre quanto os meros humanos assim também era sua divindade, permitindo tamanhas atrocidades sem fim contra um ser indefeso.

Cinzas, fora o que restou de sua existência, resultado da não resistência aos infames malditos, irracionais tal qual animais selvagens. Do início ao fim, roguei aos céus que fosse um pesadelo, do pó nascida e ao borralho retornara, tão entregue à ardente brasa como se fosse seu lar, não ousou direcionar olhares rancorosos aos humanos, nem um minuto sequer, ao invés disso os observava calorosamente mesmo que lágrimas desabrochassem pelo canto de seus olhos crepitando ao esbarrarem nas chamas.

Sua paixão por tais seres nunca fora empecilho, ansiava descobrir mais, só não esperava que as mesmas criaturas "calorosas" as quais recebiam juras de amor, seriam as mesmas que a reduziriam as cinzas levadas pelo vento, mescladas lentamente a neve afinal estávamos no inverno, maldita estação solitária, fria, ardilosa, semelhante aos humanos consumindo tudo sem hesitação, como uma sede incansável, devoradora cruel.

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