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Érika levantou-se cedo, revigorada e disposta. A cama confortável do hotel realmente fizera milagres. Era 6h quando o despertador do celular tocou, que ela desligou no primeiro toque. Rolou para fora da cama e foi para o banho, passando bastante tempo debaixo do chuveiro, cantarolando; fazia esse tipo de coisa quando não havia ninguém por perto. Escolheu para vestir uma calça jeans escura e uma jaqueta de ouro preta, como se fosse uma típica personagem descolada e clichê de um filme adolescente. Desceu as escadas em direção ao refeitório do hotel. Ficou surpresa em perceber que, aparentemente, ela era a única pessoa hospedada ali; talvez isso fosse natural em cidade pequena. Observou a mesa dispostas com diversas guloseimas: pão francês, queijo e mortadela, fatias de melancia e melão, e até bolo de chocolate, além de outros aperitivos. Serviu-se de uma xícara cheia de café e dois pães recheados com queijo, e saboreou tudo sem a mínima pressa. Quando terminou, pegou uma fatia de melão e outra de melancia e encheu um copo com suco de goiaba. Só tinha ela ali mesmo e estava faminta. Estava tão cansada que esqueceu de jantar, não sabia nem mesmo se existia delivery naquele lugar. Percebeu que estava quase com os mesmos hábitos alimentares de sua melhor amiga. Doralice teria rido dela se tivesse presenciado a cena.

Sentiu uma mão em seu ombro que quase a fez agir instintivamente, e quando virou-se para olhar, era uma mulher baixinha e sorridente, vestida com um uniforme do hotel escrito "gerente" no peito esquerdo, o que a fez pensar no rapaz da noite anterior; se tivesse notado o uniforme de cara, talvez não tivesse sido tão rude com ele, mesmo que depois de saber, tenha continuado a ser.

A gerente a cumprimentou.

— Oi! Meu nome é Kalista. Como foi a noite? — seu tom era agradável e convidativo.

— Ah, oi! — respondeu automática — Eu me sinto ótima. Aquela cama no quarto é maravilhosa. — Érika respondeu enquanto abocanhava a melancia — E esse café da manhã está uma delícia.

Kalista escondeu um riso.

— Fazemos o melhor que podemos. Seu conforto é o nosso sucesso.

Érika sorriu e arqueou uma sobrancelha.

— Clichê de cidade pequena. — disse a gerente.

— Eu imaginei que diria isso. — Érika devolveu o tom amigável.

Ambas riram.

Então Kalista continuou.

— Mas então... de onde você veio? E o que faz aqui em Setville? É apenas uma parada rápida? — os olhos emanavam curiosidade.

— Eu vim de Castcity. Foram seis longas horas de viagem que eu nem reparei, pois dormi o trajeto inteiro. — ela riu e continuou — E sim, eu vim diretamente para Setville.

Kalista pareceu surpresa com a última frase.

— Desculpa a pergunta, mas por quê? Quero dizer, Setville não é uma cidade atraente para as pessoas de fora. Na verdade, pouca gente deve ter conhecimento que esse lugar existe no mapa. Por isso, pergunto o motivo da senhora ter vindo. É uma surpresa.

— Eu recebi uma carta, na verdade. — ela respondeu em um tom que demonstrava que seria a única explicação que daria — À propósito, onde fica a delegacia? — perguntou, levantando-se e encerrando o assunto da viagem.

O misto de confusão e curiosidade ficou evidente no rosto de Kalista, mas ela não fez mais perguntas. Também não mencionou para a hóspede que aquela não era uma boa época para garotas andarem pela cidade. Érika também percebeu isso, mas não considerou importante explicações naquele momento. Apenas olhou para a gerente, que era vinte centímetros mais baixa que ela, aguardando a resposta.

— Não fica muito longe. Posso chamar um táxi agora mesmo, se a senhora quiser.

Táxi? Talvez aquele lugar não fosse tão antiquado assim. Ou talvez fosse. Quem chamaria um táxi ao invés de um Uber?

— Sim, por favor. Obriga. E pode me chamar de Érika. — considerava o gesto respeitoso, mas não se sentia uma idosa nem se vestia como uma.

As duas seguiram em silêncio até a recepção. Kalista colocou em cima do balcão uma espécie de lista telefônica escrita à mão. Ok, aquilo sim era totalmente antiquado, mas se tratando do lugar, não era nada surpreendente. Então resolveu quebra o silêncio perguntando sobre o rapaz da noite anterior.

— Aquele rapaz da noite anterior, que horas ele chega? — tentou parecer casual.

— O Érick Simons? Ele chega às 19h. Por quê? — perguntou levantando os olhos da lista.

"Todo mundo era curioso ali ou só ela?", pensou Érika.

— Era só para saber mesmo — soou evasiva.

— Ele a atendeu mal? — a gerente a fitou nos olhos.

— Não, ele foi ótimo! — arrependeu-se logo em seguida em fazer parecer que ele era um perfeito funcionário. Perguntou-se se Kalista sabia sobre a visita do amigo e as cervejas. Provavelmente, não.

Poucos minutos depois o táxi havia chegado. Érika agradeceu mais uma vez a Kalista e entrou no carro. Disse para onde queria ir e o motorista seguiu viagem. Descobriu que os locais não eram tão longe um do outro em Setville, e que poderia ter ido andando se já conhecesse a cidade. Para que Google Maps, não é? Claro que logo ela teria tempo o suficiente para fazer isso.

Após descer do veículo,ficou parada em frente à delegacia, lendo e relendo o letreiro da fachada,segurando a carta na mão.

Antes do Sol se PôrOnde histórias criam vida. Descubra agora