Capítulo 1

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Dias atuais - Campo Grande (MS)

Soraya

Meu dia na lanchonete foi cansativo. Ainda bem que não precisarei ir para a faculdade a noite, pois hoje foi exaustivo demais. Por ser feriado, tive que atender milhares de clientes e para piorar, surgiram problemas na maioria dos pedidos. Ser garçonete não é tão fácil assim. Mas consegui resolver os B.O's e finalizar o dia com pura maestria.

- Ufa... Conseguimos! - exclamei satisfeita enquanto erguia a última cadeira de cabeça para baixo, com o assento apoiado à mesa.

- Pois é... Hoje foi uma loucura, mas conseguimos. - Simone disse com um belo sorriso enquanto terminava de fechar a caixa registradora.

Simone é minha namorada. Nos conhecemos na lanchonete quando comecei a trabalhar aqui. Ela está no cargo de operadora de caixa há dois anos, e agora acabou de se tornar gerente, pois o dono, Sr. Regis, viu em Simone a capacidade e responsabilidade para comandar uma equipe de funcionários inteira. E o Sr. Regis não reclamou quando Simone disse a ele que ela estava em um relacionamento sério comigo, pois nós sempre tivemos respeito com ele, e com o local de trabalho e durante o expediente.

Agora estou com dezoito anos, e Simone está com vinte e um. Ela é uma mulher maravilhosa e que sempre está cuidando de mim, mesmo eu sendo independente em todos os momentos da minha vida. Ela é tranquila, centrada, e sua inteligência é surreal. Enquanto eu, sou agitada, irritada e cabeça dura de vez em quando. Mas também não fico atrás quando o assunto é inteligência e resistência. O que me faz ser especial é a força com que encaro as coisas na vida. Uma coisa que eu não faço, é desistir. Isso eu pratico desde criança, e não quero deixar de praticar. E acredito que com Simone eu irei ter experiências positivas nessa nova fase.

Pego minha mochila nos fundos da lanchonete, e Simone pega a sua em seguida, com as chaves do estabelecimento em mãos. Saímos e então Simone abaixa a porta pesada de aço, reclamando do peso.

- Essa é a parte que mais detesto. Abaixar essa porta. - resmungou ela.

- Deveria ter pedido a mim. Eu poderia ajudar.

- Não... Não precisa se preocupar, Sory... Seu trabalho também é exaustivo.

- Tá bom... Mas se precisar de ajuda, estou aqui. - dei uma piscadela. Simone correspondeu.

- Não vejo a hora de colocarem uma porta automática. Assim não teremos trabalho... Bom, mas agora vamos pra casa porque hoje foi super agitado! - disse Simone guardando a chave em sua mochila.

- Com certeza. - respirei fundo, seguindo Simone. Então ela estende sua mão e eu a seguro.

Nunca tivemos vergonha em demonstrar nossos sentimentos em público. Nunca nos importamos com o que as pessoas em volta pensavam. Muitos julgavam, outros apoiavam, mas não me importava. Nunca me importei. Simone nunca se importou. Para nós o que importa é o amor que sentimos uma pela outra.

Caminhamos até o ponto de ônibus, comentando sobre o dia na lanchonete durante o trajeto. Demos risadas com as confusões que o Giovani, um dos garçons, estava fazendo com os pedidos. Realmente foi complicado. Parecia que alguém tinha deixado um caminhão lotado de bigornas em frente à lanchonete, de tão pesado que estava o dia. Mas é assim mesmo. Também existem dias ruins.

- Graças a Deus o ônibus chegou. - festejei.

Simone deu o sinal para subirmos. Após passar pela catraca, vimos que haviam dois lugares vazios. Fiquei transbordando de alegria ao ver, pois nesse horário é sempre difícil encontrarmos dois lugares vazios, um do lado do outro. Praticamente toda vez temos que sentar separadas uma da outra. Mas nesse momento o universo conspirou para que ficassemos grudadinhas.

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