Até depois do fim

40 1 0
                                    

As vezes me pergunto como a vida de alguém poderia mudar do nada, uma hora você está vivendo de um jeito e um segundo depois de outro totalmente diferente, como muitos famosos que aparecem bastante na TV. Muitos deles tem histórias de vida impressionante, saíram de lá do baixo mesmo, inacreditável que bastou passar um segundo em suas vidas para receberem propostas que mudaria totalmente tudo. Bem, este não é o meu caso, não sei cantar, dançar ou atuar. A minha vida é apenas cuidar da minha mãe e estudar, quero muito entrar em uma faculdade boa e me formar em medicina.

A minha mãe está muito doente e infelizmente estou perdendo a esperança de que ela melhore, trabalho para comprar seus medicamentos, mas não é tão fácil quanto parece, são muito caros. Deixei de entrar em uma faculdade porque quero cuidar dela, estudar ocuparia muito meu tempo, estamos a um ano lutando contra isso, não sei até quando ela vai ser forte. Meu pai não cheguei a conhecer, nunca vir uma foto dele se quer, pelo que minha mãe me fala, ele chegava muito bêbado em casa quando ainda era um bebê, ele traia minha mãe diversas vezes e falava que as da rua sempre foram melhor que ela, nem ela mesma sabe o motivo da sua mudança repetina, segundo ela, era um cara bom, talvez foi porque eu nasci e ela não quer dizer.

Por fim, teve um dia que ele chegou muito bêbado e drogado e bateu nela, a humilhou e foi embora e nunca mais voltou, cheguei a sentir falta dele até os meus 11 anos, depois entendi que se ele me amasse não teria me abandonado, nem todo mundo tem uma vida boa, se você tem um pai e uma mãe presente, os valorize!

Abrir a porta de casa e estava tudo fechado e escuro, eram 11 horas da manhã, minha cachorrinha estava deitada e triste, ela não consegue ver minha mãe em uma cama e doente, a Mel se alegra só quando chego.

— Oi minha princesinha — entrei pegando a Mel no colo que deu uns latidos baixo, ela é uma shitzu micro, ganhei da minha tia que mora no Rio de Janeiro, ela passou as férias aqui para me ajudar a cuidar da minha mãe, mas já voltou.

Abrir as janelas e a cortina deixando o sol invadir a casa, minha mãe dormia no quarto dela, moramos na bahia, aqui em Salvador. Deixe o remedio dela em uma mesinha do lado vezes queria pegar toda a dor que ela sente e passar para mim. Limpei toda a casa e depois tomei um banho.

— filhinha, você chegou, não ouvir você.

Minha mãe deveria estar em uma cama de hospital agora, mas ela prefere ficar em casa, dizendo ela que quando a hora dela chegar, não quer morrer em uma cama de hospital e sim em um lugar onde ela tenha paz. Os médicos infelizmente não podem fazer nada a não ser passar muitos remédios.

Minha mãe era tão linda, tinha um corpo e um cabelo lindo, não aparentava ter a idade que tem, sua pele era linda e saudável, ela se cuidava muito, suas unhas só andavam feitas, não que ela não seja agora, minha mãe é linda. Mas suas unhas não estão mas feitas, seu cabelo está ralo e meio branco, seu corpo não é mas saudável, ela está muito magra e sua pele é pálida, mas mesmo assim ela continua com um brilho no olhar de sempre, isso sim é ver o lado bom da vida independente da sua situação.

— oi mamãe, tomou os seus remédios? Não deveria estar em pé, volte para cama — levantei do sofá e ajudei ela a andar.

— querida, você é tão linda e jovem, não precisa perder toda a sua juventude para cuidar de mim, vá para festas, saia com seus amigos.

— a senhora cuidou de mim por 19 anos mãe, isso seria o mínimo, eu prefiro não ir a festa e não ter amigos para passar toda a minha vida ao seu lado.

— oh meu amor, você sabe que não vai passar toda a sua vida ao meu lado, está tentando passar o máximo de tempo possível comigo porque tem medo de sentir a minha falta e quer aproveitar o restante do tempo.

— você não vai morrer mãe, vamos superar isso.

— até os médicos disseram que não tem tratamento, você vai ficar bem minha querida Gabi, eu vou estar com você sempre, vou ser o pôr do sol mais lindo que já viu.

Segurei o choro, oque me dói mais é ela saber que não tem chance alguma, que infelizmente vai ir embora da minha vida cedo demais, vou saber sobreviver sem ela? Desde pequena minha mãe me mostrava o pôr do sol, ela era fanática e eu acabei sendo que nem ela.

— não diz isso, não suporto ouvir que vou te perder.

— promete que vai viver sua vida do zero? você perdeu muito tempo cuidando de mim, quando eu ir quero que você faça tudo que tem direito a fazer, mesmo que esteja sofrendo com a dor do luto.

— eu prometo que vou te mostrar todas as coisas incríveis que vou viver e te escrever cartas sempre, vou me lembrar de você a cada pôr do sol e tirar muitas fotos para te mostrar.

— lírios.

— sim, vou ter lírios na minha casa, não se preocupe. — limpei as lágrimas que caiam do meu rosto e ela limpava — não quero que vá.

— eu não quero te deixar minha pequena, mas quem escolhe tudo é Deus, eu vou estar no lugar mais lindo do mundo.

— tem que ter outro jeito — as lágrimas insistiam em cair e ela tossiam no paninho e saiam sangue.

— temos que ir ao hospital, eles vão cuidar de você direito mãe.

— eles só vão adiantar um dia a mais da minha morte Gabi, quero morrer na minha casa. — ela tossiu mais uma vez e depois não parou mais, liguei para o samu e logo a ambulância chegou.

Quando chegamos lá eles levaram ela para uma sala e eu não pude entrar, 30 minutos depois o médico chegou em mim.

— Gabriela Nogueira?

— sim?

— você mãe está em observação, infelizmente o câncer já tomou conta de todo o pulmão e não há nada que possamos fazer, eu sinto muito.

— os remédios não adiantaram nada? Tem alguma chance nem que seja 1% que ela sobreviva? — perguntei disparadamente.

— infelizmente não existe tratamento para o estágio que ela está, fizemos muitos exames, o câncer já tomou conta de todo o pulmão, já que ela havia se recusado a fazer a cirurgia.

— porque ela sabia que a cirurgia não iria adiantar nada, ela não ia sobreviver e queria ter mais tempo comigo — chorei me lembrando do ano passado.

Infelizmente quando descobrimos que ela tinha câncer no pulmão era um pouco tarde demais e a cirurgia tinha um risco muito alto por causa da aérea afetada, é muito complicado explicar.

— eu sinto muito, ela está acordada, você pode ir vê-la e aproveitar seus últimos momentos, ela pode ter alguns dias ou horas, ainda não sabemos ao certo.

Agradeci e fui até a sala que ela estava, vê-la com todos esses aparelhos doía o meu coração demais.

— não chore — disse ela com os olhos lacrimejados.

— eu te amo mãe.

— eu te amo minha pequena Gabi, quero ir para nossa casa descansar, essa cama é desconfortável.

— você tem certeza? Não sei se os médicos vão liberar.

— eles vão, pode ter certeza que sim.

Eles a liberaram pós não tem nenhum outro jeito de salvá-la e o último pedido dela é esse, assim foi feito, algumas tias e tios meus estavam na minha casa, me desejaram forças e choraram ao ver o estado da minha mãe.

Morro do Vidal Onde histórias criam vida. Descubra agora