Um passo de cada vez

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Ajeitamos ela no quarto e eu me sentei em uma cadeira ao lado, não vou sair do seu lado, segurei sua mão enquanto alisava seu cabelo com a outra.

— eu vou estar com a senhora para sempre, eu te amo mãe.

— eu também vou estar com você, vou ser o seu pôr do sol todos os dias, talvez um lírios ou um beija-flor também, mas o seu pôr do sol querida.

— promete que não vai me deixar?

— eu prometo que sempre vou estar com você pequena Gabi, amei tê-la como a minha filha todos esses anos, todos os nossos momentos ficarão guardados em sua memória e você será minha eterna lembrança.

— não vou conseguir viver sem você — limpei as lágrimas.

— eu preciso descansar, já vivir o bastante, você vai se virar bem. — dei um beijo na sua testa e continue segurando a sua mão.

— eu te amo mamãe.

— eu te amo pequena Gabi. — ouvi o seu último respiro e fechei os olhos sentimentos miseráveis facadas no meu peito.

— Gabriela.. eu sinto muito.. — minha tia disse com a mão no peito.

Desejei tanto que isso não fosse verdade, queria que essa dor angustiante fosse embora, mantive meus sonhos fechados desejando que fossse um sonho. Por que estou sentindo essa dor aguda tão forte? Por que dizer adeus é tão difícil? Meu tio tirou as minhas mãos dela e eu estava em um choque misturada com uma crise de pânico.

— minha irmã está em um bom lugar minha filha, ela te ama e não estava aguentando mais essa dor, tenho certeza que todos nós vamos reencontrá-la um dia. — ele me abraçou mas estava tão abalada que não retribui, ver todos eles chorando e me abraçando era doloroso.

Perdi a única pessoa que amei desde quando nasci, não tenho ninguém mas, oque vou fazer agora sem a minha mãe? Será que ela realmente vai ser o pôr do sol mais lindo que vir?Chorei algo negando e ele me seguraram.

— acordem ela, por favor, acordem ela! Eu preciso dela, preciso que ela respire para que possa manter a minha.

— nos sentimos muito querida. — disse limpando as lágrimas.

Chorei desesperadamente me afastando de todos eles, senti uma falta de ar enorme, minha cabeça girava e não entendia oque eles falavam, cheguei a ver tudo se apagando.

No dia seguinte, as 15 horas da tarde o corpo dela foi liberado, as 16h tivemos a caminhada e o velório, ao contrário de mim que não tenho amigos a não ser uma única pessoa que nem vejo tanto assim, ela teve muitos, muitas pessoas a amavam demais e sentia a dor de perdê-la, segurei o choro me sentando na cadeira e o André veio falar comigo.

— ei, eu estou aqui com você, amei conhecer a sua mãe, ela sempre me tratou como um filho e me dava conselhos. — confirmei e encostei a cabeça no seu ombro ouvindo oque o senhor dizia sobre ela.

André era o meu melhor amigo, nos afastamos quando tive que começar a cuidar dela, mas mesmo assim ele sempre ia lá em casa vê-la.

Contei um pouco sobre a minha mãe e alguns momentos que tivemos e finalizei com " ela será o pôr do sol mais lindo que existe " quando a enterram desabei novamente e beijei o colocar que ela me deu quando tinha dez anos.

— eu te amo mãe. — eles deceram o caixão e jogaram a terra por cima, fui a última a sair de lá e quando cheguei em casa chorei mais e mais, até que o sol foi indo embora e eu fiquei na janela olhando ele se pôr. — realmente, foi o melhor pôr do sol mãe! — tirei uma foto e beijei a correntinha no meu pescoço.

1 mês depois

Por que um mês? Porque durante esse tempo só vim sair de casa na semana passada para voltar a trabalhar, as pessoas me olhavam com pena na rua e isso me enchia de ódio, não gosto que sintam pena de mim, pareço ser alguém frágil e indefeso. Não sei como estou sabendo viver sem ela, mas a vida precisa continuar, mesmo doendo, todos os dias choro como se fosse o primeiro, ainda não aceitei a sua partida e espero ela entrar pela porta e dizer que o dia hoje foi cansativo. Infelizmente isso nunca vai acontecer.

A minha tia que mora no Rio, conseguiu vim para o velório da irmã e foi embora uma semana depois, ela é um amor sempre cuidou muito bem de mim e da minha mãe, ela quem tentava me dar forças esses dias, André também foi um anjo. Minha tia disse que eu deveria recomeçar a minha vida e ir morar com ela, o marido dela Infelizmente faleceu quando eu tinha 9 anos e eles não tiveram filhos, então ela mora sozinha a muitos anos lá. Eu não consigo viver aqui mais, tudo me lembra a minha mãe e eu me sinto sem chão, queria saber como ela está.

— não é tão fácil assim tia.. eu vou mudar toda a minha rotina — falei na ligação.

— você mudou sua rotina quando sua mãe se foi, ela não deve está gostando nada de te ver nessa situação Gabi, você precisa continuar sua vida. Não é em Copacabana ou no Leblon mas você pode viver bem aqui e tentar uma vida melhor.

— eu vou pensar, tem que ver se meu passaporte ainda está válido também..

— isso é coisa pequena querida, pense com carinho.

Pensei o dia todo na possibilidade e não é uma má ideia, oque mais pode dar errado na minha vida? O pior já aconteceu. Talvez eu me arrependa ou talvez não, são só fases e tá tudo bem né? Eu vou aceitar e chequei meu passaporte, dois dias depois estava me despedindo da casa e segurando o choro, está na hora de tentar viver melhor ou só viver mesmo.

Depois de chamar um taxi e ir ao aeroporto de salvador, mais ou menos duas horas e meia depois estava no Rio, a minha tia disse que não iria da para me buscar no aeroporto porque ela estava muito ocupada em casa, aí me mandou o endereço.

Pedi um motorista de aplicativo e dei o endereço, o nome era "Complexo do Vidigal" é um morro, ela tinha me falado isso a anos atrás já.

— moça, eu só posso vim até aqui.

— tudo bem, obrigada — paguei e tiramos a mala do porta-malas, eu não tenho muitas roupas então foi uma mochila e uma mala só.

Fui subindo o morro e não entendi porque tinha tanta polícia na entrada, eles falavam no radinho, deve ser operação normal que nem tem em salvador. continuei subindo e não vir uma alma na rua, sorri para os policiais que estavam me olhando e eles me ignoraram mandando eu subir logo. Nem sei aonde eu estou direito, só tinha o nome da minha tia para perguntar a alguém e um sonho.

Ouvir um tiro enquanto procurando meu celular vendo 200 chamadas perdidas da minha tia. Me assustei com a zoada e minhas pernas congelou, teve sequências de vários tiros seguidos.

Pra que desgraça eu fui sair da Bahia mano. Um homem com uma arma na mão e sem camisa ficou me encarando e saiu puxando meu braço que não tive reação. Ele apontou uma arma na minha pra mim depois.

— qual é a tua, subindo meu morro assim no meio de uma invasão, da onde tu é mina.

— tá vendo bicho é parceiro? — falei vendo ele apontar a arma pra mim, não foi para peitar ele é só porque eu me assustei e em Salvador falamos assim.

Morro do Vidal Onde histórias criam vida. Descubra agora