Boa viagem, Verônica - Veronita

Capítulo 6: Caso mude de ideia

"Quando é que você irá realizar aquela prova do concurso no Rio de Janeiro?" - Dra. Tânia perguntou para Verônica, sua voz calma e curiosa pairando no consultório.

"Daqui 3 semanas." - Verônica respondeu, com os olhos buscando em Dra. Tânia algum sinal de direção, querendo entender onde a terapeuta queria chegar.

"Certo." - Dra. Tânia assentiu como se estivesse conectando os pontos em sua mente. "Seria possível Anita ir com você para o Rio de Janeiro?" - A Dra. questionou, e Verônica sentiu uma confusão se instalar em seus pensamentos, embora tenha assentido.

"A minha sugestão é: Que vocês finjam que estão acabando de se conhecer." - Dra. Tânia disse, sua expressão revelando a empolgação pela sugestão que estava prestes a oferecer, criando uma expectativa carregada no ar.

3 SEMANAS DEPOIS

POV VERÔNICA ON

O Uber aguardava pacientemente em frente ao edifício onde eu e Anita moramos. Eu estava ansiosíssima para aquela viagem, Anita já com as malas dela e as minhas, aguardava por mim na calçada. Enquanto eu, estava descendo o elevador.

Nos dirigimos ao aeroporto, onde, de forma estrategicamente distante, ocupamos poltronas no avião. No aeroporto do Rio, enquanto aguardamos nossas bagagens passarem na esteira da área de desembarque, trocaram olhares discretos, como se fosse a primeira vez que nos víamos na vida.

O episódio inesperado com minha mala, apesar de não ter sido planejado, criou o momento em que Anita, atenta ao meu desespero, ofereceu ajuda, construindo um vínculo em meio ao caos momentâneo.

Ao chegarmos ao hotel, durante o check-in, o recepcionista notou a discrepância nos nomes que usamos ao nos apresentarmos, diferente dos que constavam em nossos documentos. Observou também que estávamos em quartos separados, embora apenas Anita ostentasse a aliança. A situação gerou breves momentos de estranheza, mas foram logo contornados.

Após minha participação no concurso no Clube de Strip, percebi o quanto Anita ainda me amava, observando atentamente cada gesto meu. Ao final da apresentação, ela decidiu se declarar, mesmo diante das minhas insinuações sobre uma possível traição conjugal.

"Eu ainda te amo, você sabe né?" - Anita confessou, suas palavras carregadas de emoção.

"Eu também, mas vamos curtir, a noite é uma criança!" - respondi, transbordando felicidade após a vitória no concurso peculiar.

Ontem, ao irmos ao bar após a minha prova, eu fiquei incrivelmente feliz. Não apenas por estar indo atrás do meu sonho, mas também porque vivi os melhores dias ao lado de Anita. Parecíamos aquelas garotas apaixonadas de anos atrás.

Ontem marcou a primeira vez em que Anita concordou em me acompanhar a um barzinho. Nas ocasiões anteriores, nos animados cenários paulistanos, ela demonstrava uma aparente indiferença, evitando integrar-se ao ambiente e distanciando-se dos meus amigos. Contemplar sua presença naquele bar, entregando-se à dança, soltando a voz e demonstrando cuidado para comigo, era algo que transcendia as fronteiras da imaginação. 

Essa cena se tornava ainda mais inacreditável à luz do nosso processo de divórcio em curso.

A atitude de Anita causou surpresa até mesmo em Nelson e Prata, que estranharam vê-la compartilhando um momento descontraído comigo e demonstrando uma solicitude extrema com eles. Aqueles que antes tinham a imagem de minha esposa como alguém reservada e talvez até mesmo esnobe devido à sua profissão agora se viam diante de uma nova faceta, desconhecida e surpreendente.