Dois anos depois
O tempo passou muito rápido. Quando dei por mim, dois anos tinham se passado. Dois anos que eu não falo com meus pais e com a minha irmã.
Eles sabiam que eu não estava mais trabalhando para a Bratva, mas não aceitavam que eu ainda era um membro e por isso não queriam falar comigo.
Toda informação que eu tenho da minha família vem do Douglas e da Gabi. Eles sabem que brigamos, mas não sabem o motivo e não quero contar para eles, já tem pessoas de mais me julgando para ter mais dois.
No aniversário de dezessete anos da Ester, eu não fui convidada, pois meus pais não queria uma assassina perto da ÚNICA filha deles. Fiquei sabendo pelo Douglas que fez o vestido, que eles disseram para os convidados que eu estava em uma viagem pela empresa e não estava no país. O que tecnicamente é verdade, mas eu teria ido do mesmo jeito. Pela minha irmã, eu daria um jeito de ir, nem que chegasse atrasada.
Contudo, está sendo mais fácil lidar com esse afastamento deles, já que minha vida anda tão corrida e eu quase não tenho tempo para nada.
Depois que entramos para os Phantons, finalmente inauguramos a empresa de moda, conhecida como “Queen” e já de início foi um verdadeiro sucesso.
Hoje temos três filiais brasileiras: São Paulo, Belo Horizonte e Natal. E contamos com quatro filiais internacionais: Nova York (EUA), Londres (Inglaterra), Paris (França) e Berlim (Alemanha). Em breve vamos inaugurar a filial da Rússia.
Sempre que vamos para alguma capital da Europa para visitar as filiais, passamos para ver o Ygor e ficamos uns dias com ele, para matar a saudade que eu sinto do meu paizinho. O único que restou pelo jeito.
Flash também está muito feliz, já que agora ele tem o apartamento todo somente para ele, pois estou morando no apartamento do Jensen.
Flash se tornou presidente da equipe de segurança de todas as nossas filias, internacionais e nacionais.
Ele adora fazer o que faz, e tenho que confessar que ele nasceu para isso.
Jensen também assumiu todas as empresas do James e cuida delas muito bem. No começo, pensamos em vendê-las, mas percebemos que podíamos fazer melhor com a tecnologia produzida por ela, então cuidamos de todas.
No começo foi difícil cuidar da empresa de moda e das dez empresas do James, mas hoje, fazemos quase de olhos fechados.
E falando no James, nunca mais tivemos notícias dele, mas a Bratva nunca deixou de procurá-lo e a meu pedido, Ygor colocou pessoas infiltradas para proteger meus pais, minha irmã, Douglas e Gabi. Afinal, nunca sabemos o que o maluco do meu pai biológico pode estar planejando.
Gabi saiu do antigo emprego e atualmente trabalha como minha secretária. Eu adoro isso, pois é bom ter minha amiga de volta e perto de mim.
Douglas continua o mesmo. Ele é o melhor estilista de nossa empresa. Todos os desfiles que ele organiza são um verdadeiro sucesso e, todos, em parceria com a nossa empresa.
Como se pode perceber, as coisas estão indo de um modo bem normal e calmo, na medida do possível.
Jensen foi viajar para os Estados Unidos para resolver alguns assuntos da empresa do James e só voltaria em três dias, até lá, eu estava sozinha em casa em plena sexta-feira, pois sem ele, não tem graça sair.
Decidi ver uma série na “Netflix” e pedir uma pizza, mas quando estava prestes a ligar na pizzaria, minha campainha tocou.
-- Aposto que é o Flash que veio me buscar para a gente dar uma volta. - Falei sozinha. - Já vou avisando que não vou a lugar nenhum com você. – Respondi, abrindo a porta
-- Que bom! Eu não quero ir a lugar nenhum. - Ester estava parada na minha porta, o que foi um grande choque.
-- Ester?! - Falei chocada.
-- A própria. - Ela respondeu. - Vai me deixar entrar ou teremos que conversar no corredor?
-- Claro. Entra. - Abri a porta para ela passar. - O que faz aqui?
-- Como eu disse, preciso conversar com você. - Ela falou. - Posso me sentar?
-- Fica à vontade. - Eu respondi. - Quer beber algo? Água? Refrigerante?
-- Água gelada, se possível. - Ela respondeu e se sentou no sofá. - Sua casa é bonita.
-- Obrigada. - Eu respondi, entregando o copo de água para ela. - Foi o Jensen que decorou, só coloquei as minhas coisas no lugar. Mas, como foi que encontrou meu endereço?
-- Obriguei o Douglas a me contar. - Ela respondeu, sorrindo.
-- Claro que obrigou. - Eu também sorri. – Mas, sobre o que você quer conversar comigo? Parece ser algo importante, já que te fez vir até aqui.
-- Quero fazer uma coisa. - Ela disse, sendo toda enigmática.- Uma coisa que nossos pais não fizeram.
-- E qual seria essa coisa?
-- Eu quero ouvir a sua história. - Ela disse e eu não entendi.
-- Do que é que você está falando? - Eu perguntei.
-- Estou falando sobre a verdadeira história de como você entrou na Bratva. - Ela disse para mim. - Eu quero saber de tudo, nos mínimos detalhes. Não me importo o quanto seja ruim, eu quero ouvir.
-- Não sei se é uma boa ideia, Ester. - Falei, pois tinha tanto medo que este momento chegasse. - No momento que te contar a minha verdadeira história, você vai me olhar de um outro jeito.
-- Acho que essa parte fica ao meu critério. - Ela respondeu. - Além do mais, fui eu que enfrentei uma ordem de nossos pais e vim até aqui, pois acredito que está na hora de responder várias dúvidas que eu tenho e, Arrow, você me deve algumas respostas.
Eu não queria contar para ela, pois eu já imaginava qual iria ser a reação dela. Meus instintos me diziam que era uma péssima ideia.
-- Vamos fazer assim. - Ester falou e eu voltei a olhar para ela. - Você me conta a sua história sem eu te interromper e prometo que não vou te julgar, não importa o que você tenha feito.
-- Está bem. - Respondi, pois sabia que não podia mais evitar este momento. - Eu vou te contar tudo.
Eu me sentei de frente para ela, respirei fundo e contei tudo que ela queria saber, desde o momento da ida até o bar, até o ocorrido na casa do James há dois anos.
Ester cumpriu o que prometeu e em nenhum momento ela me interrompeu, acho que ela sabia que se o fizesse, eu não conseguiria chegar ao fim da minha história.
O mais interessante foi que, enquanto eu contava a história ela ouvia tudo sem demonstrar nenhum tipo de reação ou emoção, como se fosse uma pessoa completamente passiva na história toda. Confesso que é até uma coisa estranha.
Quando terminei de contar a história, Ester se levantou e ficou em um canto da sala de costas para mim. Um silêncio mortal caiu sobre nós duas.
-- Por favor, Ester, diz alguma coisa. - Eu me levantei, mas sentia minha perna tremer de nervoso. - Fala qualquer coisa. Até mesmo me julgue se você quiser. Apenas fale.
-- Eu não sei o que pensar. - Falou ela para mim. - Não sei o que dizer.
-- Eu entendo, é super compreensível. - Eu disse para ela. - Não é fácil ouvir tudo o que a sua irmã fez. Vou entender se nunca mais quiser olhar para mim, muito menos, falar comigo.
-- Eu entendo o motivo que te levou a se tornar uma assassina. -Ela disse e pegou a minha mão. - E sinto orgulho de quem você é, Arrow.
Eu não esperava ouvir aquelas palavras da minha irmã. Ela sente orgulho de mim. Orgulho por eu ser uma assassina profissional.
-- Você sente orgulho? Mas eu sou uma assassina? - Eu perguntei muito chocada.
-- É porque você é uma assassina que matou os homens que me estupraram e você fez justiça por mim. - Ela disse para mim. - Sei que matar alguém não é justiça e não é certo, mas eu queria ver eles mortos.
-- Sentir ódio e querer vingança é normal, já me senti assim antes. Mas tenho que confessar que pensei que você fosse me odiar.
-- Não posso odiar a irmã que sempre admirei e a irmã que é minha heroína. Eu te amo pelo que você é e jamais te julgaria. Jamais te expulsaria da minha vida.
-- Você sabe que eu não trabalho mais para a Bratva, mas ainda sou uma membra?
-- Sim. Eu não entendo como isso é possível, mas compreendo. E ainda te amaria mesmo que você ainda estivesse trabalhando.
-- Se eu ainda estivesse trabalhando, não estaria no Brasil e sim na Rússia.
-- Eu teria ido até lá somente para ter essa conversa com você, além do mais, sempre quis conhecer a Rússia.
-- Lá é lindo. - Eu sorri, lembrando-me dos lugares que eu adorava ir. - Mas, Ester, por que você queria ouvir essa história?
-- Porque queria conhecer a minha irmã, a verdadeira. - Ela respondeu.
-- Mas tem outro motivo, não tem? - Eu perguntei. - Te conheço muito bem, então desembucha.
-- Quero te pedir um favor. - Ela estava bem nervosa. - Mas nossos pais não podem saber.
-- Ester, já não estou gostando. - Eu falei para ela. - Minha relação com nossos pais está bem ruim para eu piorar ainda mais. Mas, fala o que você deseja.
-- Quero que você me treine.
-- Como é que é? - Eu não entendi. Ela estava me pedindo o que eu penso? - Você quer se tornar uma assassina?
-- Não, lógico que não. - Ela respondeu e me senti aliviada.- Quero que me ensine a me defender. Eu saio na rua e morro de medo de ser atacada de novo. Entenda, não quero me tornar uma agente Bratva como você, quero apenas me proteger e proteger as pessoas que eu amo. Você me entende?
-- Entendo. Mas por que nossos pais não podem saber? Você podia fazer aulas de Muay Thai.
-- Eu fiz, por uma ano e meio, depois da explosão da nossa casa, mas eu sentia que não estava fazendo efeito.
-- E por que me pediu para treinar você então?
-- Por que eu vi como você luta e é um nível totalmente diferente de luta, quero aprender esse tipo de luta.
-- Sim, é uma mistura de vários estilos de luta, até mesmo o estilo de luta de rua.
-- Então, você vai me treinar? - Ela perguntou.
Eu não sabia se era uma boa ideia treiná-la, isso poderia irritar os meus pais mais ainda, porém, minha irmã tem todo o direito de saber se defender.
-- Sim, eu vou treinar você, mas com duas condições.
-- Pode falar. - Ela disse.
-- Primeiro, você nunca vai usar o que eu te ensinar para arrumar briga ou qualquer outra coisa desse gênero.
-- Feito. Qual a segunda?
-- Você vai fazer tudo o que eu mandar, sem nenhum questionamento. Aceita?
-- Se isso me tornar boa como você é, então eu aceito qualquer ordem ou condição.
-- Então, está feito. - Estiquei minha mão e a Ester apertou. - Vamos começar na segunda, bem cedo.
-- Obrigada, Arrow. - Ela me abraçou.
-- Obrigada você, por me compreender e me aceitar como eu sou.
Estar nos braços da Ester e me sentir amada por ela, retirou um peso dos meus ombros que eu nem sabia que estava ali.
Depois dessa pequena reunião, pedi uma pizza para nós duas e fomos assistir a um filme na “Netflix”. Ester disse para nossos pais que iria ficar na casa de uma amiga e passou o final de semana toda na minha casa.
Fizemos várias coisas juntas e foram momentos realmente incríveis entre irmãs e preciso confessar que eu sentia muita falta daqueles momentos juntas.
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Fênix
RomanceArrow é uma jovem inteligente e cheia de sonhos, com amigos que a apoiam e uma familia feliz, mas, em uma viagem com sua turma do último ano do ensino médio, pela Rússia, ela vê sua vida virar de cabeça para baixo. Arrow e seus colegas são seque...