Eu trabalhava em uma cafeteria famosa de Bariloche, onde apenas os mais afortunados iam para fazer suas reuniões, negócios, acordos, contratos e às vezes apenas pegar um café para uma viagem internacional. Eu já estava acostumada com esses tipos de eventos e também com a arrogância deles quando se tratava de erros de uma mera funcionária do café.
Sempre odiei a alta classe, a "elite da cidade", céus eles são horríveis. Eu nunca pensei que iria me misturar com esse tipo de gente, até um mês atrás.
As provas para o primeiro ano do ensino médio na escola da elite haviam começado, todos estavam competindo pelas vagas, inclusive eu.
Meu pai e eu vivemos sozinhos no meio da neve, afastados da cidade. Minha mãe não foi idiota e fugiu dele enquanto dava tempo, já que meu pai é um bêbado viciado, o pouco dinheiro que ganha, ele gasta com prostitutas e bebidas. Então nós não temos dinheiro nem pra comer.
Comecei a trabalhar nessa cafeteria aos 12 anos, graças a minha amizade com o dono. Não sei como, mas todas as minhas amizades são influencias importantes na cidade. Sempre que eles podem, eles me dão joias, perfumes, maquiagens e roupas de marca. (Pena que eles não são amigos o suficiente para me dar um pouco de comida.)
Eu (in) felizmente, acabei passando naquela escola. O ensino de lá obviamente é digno, as pessoas são horríveis.
Nenhum dos alunos nunca foi na cafeteria e eu sou eternamente grata por isso, seria extremamente cruel sofrer bullying na escola por trabalhar na cafeteria.
Eu não sou de ter um ego alto, mas duvido que eu sofra bullying por algum outro motivo sem ser a minha pobreza. Eu sou alta, dos cabelos claros, dos olhos azuis e o corpo magro (mais magro do que deveria, mas não ligo pra isso.)
— Merda! — Eu me perdi tanto nos meus pensamentos, que nem sequer vi o capuccino derramando na minha mão.
O leite quente na minha pele ardia a deixando vermelha, meu "grito" havia chamado muita atenção, então a gerente da cafeteria veio me ajudar.
— Maya, eu sei que você está nervosa, mas por favor, não fique tão distraída assim. Está tudo bem? — Ela coloca um pano úmido na minha mão, falando em um tom calmo.
— Está tudo bem sim, desculpa e... obrigada.— Dou um sorriso simpático, indo fazer outro capuccino.
Escuto alguém me chamando no balcão, então peço para uma colega minha terminar o capuccino para eu falar com a cliente.
Vejo uma garota de cabelo castanho escuro, tão curto que de longe você podia confundi-lá com um garoto, seu corte de cabelo era o famoso mullet, muito conhecido na região. Ela usava uma calça larga preta e um moletom branco largo, tinha 2 piercings na boca e para mim (o poste em pessoa de 1,77), ela era baixa.
Porra ela é tão linda.
— Bom, porque o meu capuccino está demorando?! — Seu tom de voz é grosso.
— Desculpe, ele acabou virando na minha mão... A minha colega já deve estar terminando de fazer pra você. — Sou calma nas minhas palavras, não estava afim de confusão.
Antes que ela pudesse falar mais alguma coisa, minha colega grita.
— O pedido 58 da Luna está pronto! — Todos olham pra ela, seu tom de voz é extremamente alto.
A garota pega o seu pedido, me olhando com desprezo e murmurando algum xingamento ou ameaça, não entendi direito, e também não fiz questão de entender.
Merda.
Chego em casa rápido. Meu pai não estava lá, oque me fez soltar um suspiro de alívio, não queria mais brigas para está manhã.
Pego minha mochila que só tinha alguns cadernos e o meu estojo (já que a bolsa também cobria os meus livros) e começo a me arrumar.
Eu realmente não precisava ser humilhada por ser pobre na escola também, então escolhi as roupas de marca que minhas amigas me davam, talvez se eles não soubessem da minha condição, não falassem de mim... Não vou mentir, apenas não faço questão de contar.
Coloco uma calça de moletom cinza da Zara, junto de uma blusa colada branca da Prada e um casaco de academia que eu havia comprado em um brechó, já que equilíbrio é tudo.
Não sou boba nem nada, então também coloco os meus acessórios de marca e o meu perfume Dior. Acho que eu nunca havia me sentido tão metida na vida.
Saio de casa com a mochila que a escola dava nas costas, caminhando apressadamente pela neve. Sou apaixonada pela neve desde pequena, o jeito que a fumaça sai pela boca, como chocolate quente pode se adequar a qualquer momento do dia, o jeito que as árvores são tomadas pela neve... Para mim é tudo lindo e mágico.
Após uns 5 minutos andando, vejo vários alunos caminhando na mesma direção que eu, me deixando ansiosa.
Entro na escola e vou me apresentar para a Nicolle, a diretora da escola. Ela me passa um mapa do lugar, me dá meus livros, fala a minha sala e o meu armário, tudo em um tom rígido. Eu não era bem vinda lá.
Chego no meu armário e o vejo todo empoeirado e triste, mas nada que com o tempo eu não arrume.
Vou até a minha sala, onde iríamos ter aula de filosofia. A professora me comprimenta com um sorriso e me apresenta para a turma, fiquei feliz que ela não falou que eu entrei com a prova.
Me sento na classe e vejo diversos alunos a minha volta me olhando, mas uma me chamou atenção...
Luna.
Ela me olhou com um sorriso ladino, dando uma risada nasal enquanto nega com a cabeça. Seu sorriso não indicava coisa boa, e muito menos era algo seguro.
Durante a aula, seu olhar caía sobre mim, a todo o momento.
Chegou o intervalo e eu fui até o meu armário tentar arrumar ele um pouco. Logo sinto uma mão no meu ombro, olho para trás rapidamente e vejo Luna com um sorriso maligno.
— Maya Scarlett? Sabia que você era familiar... Já ouvi esse nome na cafeteria. — Ela pega a minha mão.— Foi você quem queimou o meu café, e agora está aqui com essas roupas? Você pode até ter cara de riquinha, mas eu sei muito bem quem você é. — Ela aperta minha queimadura.
Mordo minha bochecha, mas não deixo isso quieto, seguro seu pulso e o viro, fazendo-a gemer de dor, eu a olho nos olhos, claramente estava machucando ela e não queria me encrencar mais... Então pareibde apertar forte, apenas fiquei segurando seu pulso.
— Não pense que eu vou ficar quieta pra você. — Falo baixo, soltando seu pulso.
Me afasto e a escuto murmurar, mas eu não podia ligar para isso, eu tinha que me inscrever em algumas extracurriculares que havia na escola.
Vou até a sala do diretor e acabo me inscrevendo em hipismo, teatro e artes. Eu não queria me encher de compromissos então não me inscrevi em tantas coisas.
★
Todas as aulas do dia haviam acabado e eu estava exausta pronta para ir pra casa.
As aulas tinham sido suportáveis já que as garotas pensavam que eu também era rica, e eu não fiz questão de contar a verdade.
Não me importei muito em fazer amizades já que não podia ter outro foco além dos estudos, mas o machucado que a Luna havia feito em mim tinha sido cruel e eu não parava de pensar se ela iria aparecer na cafeteria amanhã.
Oque ela tem de bonita, ela tem de cruel, e ela é extremamente cruel.
Chego em casa e tomo o meu banho, caindo na cama após isso rapidamente, eu teria que estar acordada às 04:00 da manhã para ir trabalhar no outro dia, precisava descansar.
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Amar Você É Impossível.
RomanceOs dias de Maya sempre foram os mesmos, entediantes, sem nenhuma ação importante na sua vida. Até ela ir pra escola mais desejada da cidade, encontrando o maior demônio (ou amor) da sua vida.