Amar Você É Impossível.

Escola ou inferno?

As férias finalmente chegaram, e eu posso dizer que esse foi o pior ano de toda a minha existência! Eu acho que nunca quis tanto largar uma escola na minha vida.

— 6 meses atrás.

Os dias estavam normais, na realidade tranquilos demais. Ninguém se importava tanto comigo e eu também nem fazia questão. Mas há uns 4 meses, duas garotas me chamaram e nós realmente começamos com uma amizade.

Eu sei que eu falei que não queria me distrair, mas acabei percebendo que eu realmente precisava disso, estava me fazendo bem. A Anne tem cabelos cacheados tingidos de vermelho e uma pele clara, seus olhos são verdes e ela tem um piercing no septo, e para mim, ela também é extremamente baixa. Já a Mariene tem cabelos crespos e volumosos em um tom de loiro escuro, seus olhos são castanhos e sua pele escura, e ela é da minha altura.

Ambas as duas garotas foram extremamente simpáticas comigo e me chamaram para casa delas diversas vezes, me sinto mal por nunca mostrar a minha para elas.

Já fui com elas em diversos passeios e elas geralmente bancavam tudo pra mim, outras vezes eu fingia ter dinheiro e gastava a maior parte do meu salário nas nossas saídas, mas estava tudo bem.

Minha farsa já estava passando dos limites, mas não havia nada que eu pudesse fazer, agora todos acreditavam que eu tinha dinheiro, e me tratavam como se eu fosse uma deles (e céus, isso é tão nojento.)

A Luna me evitava a maior parte do tempo e quando não me evitava, me incomodava com chutes e apelidos sem graça, mas eu realmente não me importo com isso.

Até que um dia, ela resolveu fazer algo maior.

Era de manhã e eu estava me arrumando para trabalhar igual a todos os dias. Abro o meu celular e vejo as minhas mensagens.

Minhas amigas estavam me perguntando se isso era verdade, e o grupo da sala estava um caos, mais de 999 mensagens.

Entro na mensagem da Anne, e alí, meu mundo desabou.

Minhas mãos já estavam trêmulas e minha barriga estava se revirando por dentro. Minha respiração ficou ofegante, eu já sabia oque estava me esperando.

A Luna contou tudo.

Vou até o meu trabalho tentando não pensar naquilo, mas logo me deparo com o meu problema na frente da cafeteria.

— O que você está fazendo aqui?! — Meu tom é baixo porém grosso, puxo seu braço até a dispensa e a coloco contra a parede. E eu finalmente consegui chorar.

Sim, eu estava planejando brigar com ela, perguntar o porquê, qualquer coisa, mas eu simplesmente não consegui.

Me ajoelho no chão com lágrimas nos olhos cobrindo o meu rosto, tudo oque eu menos queria era ficar vulnerável na frente dela.

— Porque você fez isso? — Eu estava soluçando de tanto chorar, mas ela conseguiu me entender.

— Porque você merece isso, você não merece essa escola, nunca vai merecer. — Ela sorri, colocando sua mão no meu ombro. — Como suas amigas vão ficar sabendo que você é uma mentirosa? Como você vai ficar com o tanto de bullying que vai sofrer? — Seu sorriso se alarga, ela estava satisfeita com a situação.

Ela sai da dispensa e eu fico lá, ajoelhada no chão chorando.

Logo a gerente chega, e  pergunta se eu estou bem. Eu poderia falar tudo, pedir vários conselhos, falar o quão morta eu desejo estar agora.

— Eu estou bem, só com dor.— É tudo oque eu consigo falar.

Ela me ajuda a levantar e me deixa ir para casa mais cedo, enquanto eu ia apé pela neve, vi Luna saindo com seu motorista particular e um sorriso no rosto.

Chego em casa e tomo um banho, nem dava tempo de pensar em algo, eu já tinha que ir para a escola de novo.

Coloco um moletom e uma legging básica, e vou até a escola, chego lá com vários olhares em mim. Parece que eu finalmente fui notada.

Vejo a Anne e a Mariene vindo na minha direção.

— Por que você não nos contou?! — Anne pergunta séria, porém preocupada.

Eu simplesmente não respondo e começo a chorar, e elas me levam para o banheiro.

— Vai ficar tudo bem, Maya, elas vão esquecer. — Mariene fala calma, percebendo que eu havia escondido aquilo pelo melhor.

— Não mente pra ela! Você sabe que ela vai sofrer bullying até se matar ou sair da escola. Isso é tudo culpa da Luna. — Anne pega um papel e limpa as minhas lágrimas.

Enquanto isso,  eu só consigo chorar.

— Não fala assim! — Mariene empurra a amiga de leve. —  A gente vai ficar com você, vamos te ajudar com sua condição financeira e vamos brigar com todos que estão fazendo bullying com você, ok? Em nenhum momento vamos pensar em te abandonar. — Ela me abraça e Anne concorda com suas palavras, acenando com a cabeça.

— Pode não ficar tudo bem... — Anne fala sincera, recebendo um olhar mortal de Mariene. — Mas nós vamos estar com você em todos os momentos, pra tudo, e agora você pode nos contar tudo! — Ela tenta ser compreensiva, e realmente estava funcionando, eu não estava sozinha.

Eu apenas abraço elas, parando de chorar e agradecendo várias vezes para elas, por tudo.

Nós três saímos do banheiro juntas, e logo eu me deparo com Luna e algumas garotas rindo de mim.

Eu apenas fico quieta e vou para a minha sala, recebendo um olhar de dó da professora.

Me sento na cadeira e sinto algo estranho na minha calça. Escuto risadas do outro lado da sala, e quando eu percebo que haviam colocado um chiclete na cadeira, me levanto e pego outra cadeira, amarrando um casaco na minha cintura. Eles odiaram isso.

★

A aula havia sido tranquila já que os professores eram rígidos com conversa durante a mesma, mas eu podia sentir diversos olhares sobre mim.

Quando eu saio da escola acompanhada de Anne e Mariene, algumas pessoas se aproximam, jogando um balde de água gelada nas minhas roupas que graças ao inverno, congelaram rapidamente.

Minhas amigas se revoltam mas não havia nada que elas podiam fazer a não ser me consolar. Anne me dá seu casaco peludo e Mariene me leva para casa de carro.

Chego em casa e meu pai bêbado começa a me xingar por sujar a casa com neve, então eu apenas limpo tudo e vou para o meu quarto chorar.

E assim seguiu o ano todo, com bullying pesado, choro, brigas e agressões. Todos os dias, sem nenhuma pausa.

Até o meu trabalho Luna espalhou. Agora todos da escola iam lá para não só me humilhar, como também me gravar trabalhando e colocar no grupo da turma para todos rirem.

— Atualmente.

Quando as férias voltaram eu acho que eu nunca agradeci tanto na vida. Minhas notas estava perfeitas porém o bullying infelizmente continuava. Minhas amigas estavam realmente me ajudando, então minha condição financeira começou a melhorar.

Eu comecei a ajudar os irmãos mais novos de algumas amigas minhas nas matérias "difíceis" como o sexto ano, e com um isso ganhei mais uma grana extra. Meu pai ja estava a uma semana fora mas não é como se eu me importasse com isso, tudo estava melhor sem ele.

Durante as férias, eu mal encontrei os meus colegas,  já que todos eles estavam viajando em outros países.

O verão havia chegado e apesar de eu sempre estar triste nele, essas férias eran gratificantes para que eu conseguisse colocar a minha cabeça no lugar novamente.

Eu estava na casa da Anne, junto da Mariene, pintando as unhas, até receber mais uma notícia que poderia alegrar as minhas férias.

— Maya, o que você acha de ir conosco para a Grécia ficar em um resort? — Pergunta Mariene, como se isso fosse qualquer coisa, oque para eles era.

Fico chocada com suas palavras e logo as abraço.

— Óbvio que eu quero! — Dou um sorriso sincero, abraçando as meninas.

— Já está tudo pago pra você, foi um presente por ter aguentado todo esse ano, você é forte Maymay.— Anne fala baixo com um pequeno sorriso em seus lábios.