Lua minguante

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"O seu pai me odeia, e o mundo odeia o nosso amor"

Quando meu expediente finalmente acabou, fiz minha comemoração silenciosa e peguei tudo que precisava no meu armário. Coloquei meus fones e fui andando até minha casa.

Era sempre o mesmo caminho.

Porém, hoje era dia de pagamento, algo que sempre desperta algo a mais nos brasileiros.

Cheguei em casa e fui direto tomar um banho. Tirar tudo de ruim que tinha no meu corpo e todo meu ódio por ricos sem noção no meu emprego.

Tem dias que eu não escuto nada durante a manhã vindo deles, mas ao mesmo tempo, tem dias que eu escuto cada coisa.

Algumas pessoas já implicaram comigo pois tenho tatuagens e piercing. Como se isso fosse mudar algo no meu caráter.

Também já ouvi que minhas vestes eram podres e sem luxo.

Mas bom, normalmente isso só me tira risadas.

Depois de seco, pego uma roupa descente e vou até a cozinha. Pego algumas bolachas e coloco meu tênis.

Em alguns dias da semana, faço meio período como tatuador. Me ajuda a ganhar uma grana extra.

Antes de sair de casa, pego meu celular e mando uma mensagem para Jisung.

"amanhã passo te buscar na faculdade, vamos almoçar juntos."

É o único dia que não trabalhava no restaurante, então irei aproveitar a oportunidade.

Chegando no estúdio, deixo minhas coisas na mesa, ficando apenas com meu celular no bolso.

- Oi Minho! Hoje você deu sorte, a agenda está quase vazia. - Um de meus colegas começou a falar. - Tem uma moça agora as cinco e um rapaz mais tarde.

Dou uma olhada no calendário conferindo os horários, e realmente era apenas aqueles dois.

- Por isso pode ir mais cedo hoje, eu fecho a loja. - Ele diz e eu confirmo com a cabeça. Agradeço mentalmente a minha sorte de poder dormir um pouco mais.

Antes da moça chegar, dou uma conferida no meu celular vendo a resposta de Jisung.

"Okay :)"

Bloqueio a tela e deixo o celular de lado, vendo a cliente entrar.

Atendo ela e já faço o decalque, tomando o maior cuidado. Não era a primeira tatoo dela, então ela já estava acostumada com os desconforto. Além do mais, era algo pequeno, então foi rápido.

Logo depois da cliente sair, pensou em um desenho qualquer e desenho em um espaço que faltava no meu braço.

O esquerdo é fechado em tatuagem, e o direito tem algumas espalhadas. Tenho na coxa também. Porém, tinha um espaço no esquerdo em branco, bem perto do pulso, então aproveito e preencho aquele ali. Apenas desenho uma lua minguante, sem muito significado.

Depois de um tempo, chega o outro cliente e repito a mesma rotina de sempre.

Chegando em casa, tiro a camisa e me jogo no sofá. Ligo a TV e levanto apenas para pegar uma latinha de cerveja na geladeira, logo voltando aonde estava e colocando a minha série para assistir.

Os melhores dias são quando não trabalho. Posso ficar até tarde vendo série e bebendo cerveja, acordar bem tarde no dia seguinte e fazer o que quiser durante a tarde.

E exatamente como esperado, acordo perto das onze no dia seguinte. Levanto no ódio e vou direto pro chuveiro, escolhendo uma roupa apresentável e passando um perfume. Combinei de buscar Jisung na faculdade, este que já havia me mandado o endereço. E bom, o lugar é muito chique. Mereço estar no mínimo "bonitinho".

Iria aproveitar que meu dinheiro caiu na conta, e levar ele pra um lugar bom, não no bar da esquina que custumo ir em dia de folga. Pesquisei lugares bons e não muito caros (pois o dinheiro também serve pra pagar as contas, comida e comprar uma casa nova) para leva-lo.

Eu tinha duas peças de roupa consideradas de boa qualidade apenas eventos especiais, então usava uma delas branca e uma calça jeans.

Por sorte, não era um dia tão quente, o que é difícil no Rio. A temperatura era razoável, então subi a pé até a faculdade dele.

Eu já sabia que era chique, mas estar lá me fez sentir a energia de pobre exalando em mim.

Mando uma mensagem para Han, avisando que o aguardo do lado de fora, enquanto analiso o ambiente ao meu redor.

Eu faria de tudo para ter condições financeiras para estudar aqui.

Distraído nos próprios pensamentos, nem percebo Jisung vindo na minha direção.

Enquanto ele caminha, só consigo pensar se devo abraça-lo ou não, mas logo estou com os braços ao redor de sua cintura.

Ele era muito cheiroso e exalava riqueza.

Foi impossível não perceber os olhares caídos sobre mim, me deixando meio desconfortável.

- Como foram as aulas? - pergunto enquanto caminho em direção ao restaurante, que era mais ou menos duas quadras dali.

- Ah, foi legal até. Hoje a gente não fez muita coisa. - Ele respondeu timidamente, olhando para baixo.

Me contava sobre seu dia enquanto andava, e timidamente desviava o olhar de mim. Chegando lá, escolhemos uma mesa e Jisung olhava para os lados observando o local. Não era chique mas não era pouca coisa. Tive que escolher bem, por mais que eu sinta que ele não se importa muito com isso.

O garçom entregou o cardápio e logo pedimos o que queríamos comer. Percebi que quando ele pensava, fazia um biquinho extremamente fofo.

- Você é cheio de tatuagens, né? - Ele pediu quando o atendende saiu. Apontou para meu braço que era cheio.

- Sim. Eu tenho uma na coxa também. - Digo simples.

- Eu sempre quis fazer uma, mas meus pais não deixam. - Disse formando aquele biquinho.

Eu olhava atentamente cada reação dele. Han Jisung era uma pessoa muito expressiva e imprevisível, já havia percebido isso.

- Seu pai pareceu me odiar naquele dia do restaurante. - Citei o acontecimento passado e tomei um gole do suco que já havia chegado

- Não liga pra isso. Ele julga qualquer um que apareça. - Ele revirou os olhos, parecendo irritado com o assunto.

- Tudo bem. - Pensei em algo para mudar o rumo da conversa. - Ah, e eu trabalho com tatuagens, então fica mais fácil de fazer. Por exemplo, ontem eu fiz essa lua aqui. - Apontei para o desenho em meu pulso.

- Sério? Nossa, que linda - Disse sorrindo, analisando o resto do meu braço - Um dia você faz uma em mim?

- Claro. - Respondo sorrindo fraco, e então as comidas chegam.

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