O ventilador no meu quarto.

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ALERTA DE GATILHO: Depressão, Suicídio.


O ar abafado do meu quarto me deixava maluca, até acho que se o meu gatinho preto Arthur estivesse vivo, ele iria surtar e arranhar a porta querendo sair. A janela está entreaberta, vejo um feixe de luz iluminando toda a minha bagunça, deixa meu quarto sutilmente preto e branco...

"Que droga, acordei."

Aparentemente os remédios que tomei ontem não surtiram tanto efeito, apenas me deixou com uma dor de cabeça infernal. De longe meu celular toca, provavelmente é o alarme.

"Foque." - Sussurro pra mim mesma enquanto ainda estou na minha cama.

Continua a tocar, o som até me reconforta. Me lembra de dias melhores...

"Eu não tenho força para isso." - Lágrimas escorrem no meu rosto.

"Pra tudo tem um sacrifício." - Repito a mim mesma sem espaço para o sentimento de culpa me sufocar.

A forca ainda está no mesmo lugar que deixei ontem a noite, caso os remédios dessem errado.

"Eu tenho coragem?" Essa maldita pergunta me assola desde que minha vida virou de cabeça para baixo.

Caminho cambaleando para ligar meu ventilador de teto, a cada passo meu coração acelera mais, fico ofegante e a dor de cabeça passa para meu corpo inteiro.

"Eu merecia isso?" Deus tem seus preferidos.

"Qual será a cor da morte?" Há certas dúvidas que morreram comigo.

"Por que comigo?" Por que não? Você não tem um diferencial muito grande, acontece.

"Eu sinto falta do meu pequeno Arthur, meu lindo Arthur." As coisas vem e vão, supere ou vá com elas.

Ligo o meu ventilador de teto, lágrimas navegam pelo meu rosto, mas dessa vez em um tom ardente, me olho no espelho pela última vez.

"Será que vale realmente a pena?" Algo realmente vale a pena? Talvez.

Pego a cadeira e arrasto até o centro do quarto, onde fica o ventilador que tem uma forca nele.

"Espero que não se solte." A vida me daria uma segunda chance? São coisas a se pensar.

Subo na cadeira, pego a forca no ar, coloco meu pescoço nela e em um pequeno toque de hesitação, chuto a cadeira para longe.

"Já foi." Dava para voltar a trás?

A forma como a forca me segura machuca, sinto uma dormência no pescoço seguido de uma queimação mais forte do que um "não". A dor é tão forte que me impossibilita de me mexer por alguns segundos, fiquei em choque. A forca me gira lentamente em voltas.

"NÃO VALE A PENA."

Seguro com as minhas mãos a corda, tentando afrouxar para poder dar algum suspiro, mas a única coisa que consegui foi machucar meus dedos, como se a vida fosse realmente me dar uma segunda chance.

"EU NÃO QUERO MAIS."

Mexo meu corpo para cima e para baixo até que escuto um som de algo quebrando.






Eu quebrei meu próprio pescoço.






























Neste lugar há apenas um cômodo frio e melancólico, com um corpo enforcado e sendo pendurado pela forca em um ventilador de teto. Mas há um gato preto sentado na cama.

Às vezes, por quê? Porquê às vezes?Onde histórias criam vida. Descubra agora