CAPÍTULO 02 - FALSA PAZ

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Sem perceber o tempo passar, Marcus acorda observando o local. O papel de parede azul desbotado, a cozinha estilo americana, os belos vasos feitos a mão. Ele sente o calor da pele de Lemon sobre seu corpo; seus braços passando por seu corpo alcançando seu ombro enquanto respira sutilmente. Cada fio do curto cabelo de Lemon envolve os dedos de Marcus enquanto ele observa sua simples e bela maquiagem em silêncio, sem entender muito bem o que estava acontecendo.

CAPÍTULO 02 - FALSA PAZ

  Lemon e Marcus estavam passando pelas ruas nubladas e acinzentadas do Campo de Concentração, com os postes defeituosos e pessoas falando por todos os cantos. O silêncio pessoal constrangedor pairava no ar enquanto Marcus buscava algum tipo de assunto para iniciar uma conversa. Lemon voltava sua face para Marcus, perguntando onde se encontrava o centro comercial. Com seu costumeiro tom desanimado, Marcus aponta para o lado esquerdo da estrada enquanto explica como chegar no local. Um leve rubor surge no rosto de Lemon enquanto ela respira fundo e se despede, indo em direção ao mercado, então Marcus dá as costas e caminha para sua casa.

  Ao chegar no prédio e subir os lances de escadas, Marcus vê um homem alto com um longo cabelo de mechas avermelhadas em pé diante de sua porta. Ao notar a presença, o rapaz se vira com um grande sorriso no rosto. "Bom dia! Você é o Marcus, não é? Como você está?" dizia o homem enquanto se aproximava de Marcus, estendendo seu braço e o colocando sobre o ombro do garoto. Hesitante, Marcus dá um passo a trás, descendo um degrau; ele nunca teria visto aquele rapaz, então sua reação seria a esperada por qualquer pessoa que já pisou nestas terras. "Calma garoto, eu não vou te fazer mal algum, só vim beber um chá, se você tiver, é claro!" dizia o homem com um grande sorriso no rosto.

  Dentro do apartamento, ambos estavam diante um do outro enquanto sentados em cadeiras de madeira. Odara estaria bebendo seu chá com um ar de plenitude, completamente desconectado da realidade; em contrapartida, Marcus estaria extremamente tenso. "O que ele está fazendo aqui? Quem é esse cara?", essas e muitas outras dúvidas ecoavam na cabeça do garoto enquanto a ansiedade tomava conta de seu peito, o deixando extremamente inquieto. "Bem, você deve estar se perguntando o'que eu estou fazendo aqui. Pois bem, eu sou Odara, o líder do campo! Basicamente, eu controlo isso aqui!" O homem dizia enquanto colocava o copo sobre a mesa. "Sobre o'que eu estou fazendo aqui... sua amiga roubou um dinheiro nosso, e você ajudou ela a fugir do meu pessoal." Complementava. Marcus entraria em choque, colocando suas mãos sobre a mesa com as palmas abertas, dizendo: "Senhor Odara... me desculpe! Eu não sabia que ela... eu conheço aqueles caras. Pensei que eles estivessem perturbando a Lemon e o outro garoto...". O celular toca, então Odara se levanta e se afasta um pouco para o atender. Após algum tempo de conversa, ele se vira para Marcus com um sorriso no rosto, "Achamos a garota! Agora ele pode pagar pelos seus crimes! E sobre aquilo que eu disse sobre não te fazer mal... eu menti!". Ao ouvir, Marcus corre para o quarto, pegando seu cutelo, em contrapartida, um lépido golpe na garganta o atingia do rapaz, fazendo com que sua garganta fosse bloqueada e não pudesse respirar, o fazendo cair sobre a escada e perder sua consciência.

  Os olhos se abrem, então Marcus se depara com uma bela visão sobre um edifício, observando tudo em seu entorno. O céu amarelado, as nuvens rosadas, o clima calmo, tudo era tão estranho; as casas brancas com os telhados esverdeados, e algumas poucas pessoas andando pela cidade em paz. Marcus ouve uma risada sutil, então ele se vira e então avista Odara. "Foi mal, garoto. Mas eu queria que fosse jogo rápido." dizia e então se aproximar; logo, Marcus tenta se mover para sair daquele lugar, mas não consegue de forma alguma como se algo o prendesse, o'que não é benéfico, já que cada vez mais, o homem se aproxima e então, diante de Marcus, colocando a mão sobre seu ombro com um sorriso sarcástico em sua face. "Eu entendo sua reação, esse clima amigável deste lugar realmente pode se tornar desesperador quando tem alguém te perseguindo. Então... Vamos a aula!" Odara dizia enquanto se afastava um pouco, uma cadeira mágicamente aparecia, e então ele se sentava. "Eu imagino que você saiba como funcionam as Ligações Espirituais. Aquele mesmo papo de tipo comum, extinto, mítico, divino e blá blá blá." dizia Odara enquanto estendia sua mão em direção à Marcus. "As Ligações Comuns são basicamente seres comuns, como animais ou figuras históricas. As Ligações Extintas são... eu ouvi seres aquáticos? Erraaaado, ou quase! Enfim, são seres que já não existem mais nessa terra. Os míticos são criaturas mitológicas, como o clássico minotauro e a medusa. E as Divinas... são os deuses. Então... eu te apresento a minha habilidade: Ligação Espiritual Divina - Sonhos de Morfeu!". Após dizer, ele move sua mão de forma abrupta para a esquerda, então o garoto é atirado, acompanhando o movimento do braço.

  Ao atingir o solo, Marcus se depara com uma área totalmente escura, coberta por uma densa neblina que atinge além de onde os olhos do garoto não alcançam. Conforme o rapaz caminha pela área, diversos túmulos e corpos aparecem pelo terreno. Uma voz ecoa pela área dizendo "Me responda com convicção, Marcus: Você acredita na paz?". Então Odara aparece diante de Marcus, o encarando com uma feição de expectativa. O encarando nos olhos, Marcus excede o tom de voz falando "Que tipo de pergunta seria essa? Você é louco por algum acaso?". Odara responde com um tom de superioridade: "A paz... eu busquei muito a paz, mas, eu nunca achei, na verdade, eu sempre encontrei o oposto de paz. No fim, eu entendi que ela é só um conceito idealizado na mente das pessoas. E foi assim que eu percebi que não tem como alcançar a paz enquanto as pessoas malvadas, ou melhor, as sementes podres existirem. Sendo assim, eu vou trazer a paz à força, acabando com aqueles que a perturbem! Você vê cada um desses corpos? Todos eles são de pessoas que foram mortas pelas sementes podres, e muitos deles não mereciam! Se alguém tivesse acabado com elas antes que fizessem o'que fizeram, eles teriam vivido por mais tempo...". Odara caminhava em direção à neblina, desaparecendo na névoa e o cenário ao redor virava um parque de diversões, onde as atrações liberaram diversos palhaços extremamente macabros que iam em direção a Marcus, que começava a correr desesperadamente. "Me desculpe, Marcus, mas esse é meu sonho favorito! Nada posso fazer: parece haver em mim um lado infantil que não cresce jamais. Hahahaha!".

CONTINUA...

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