2. LUTA

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Sem crachá, somente celebridades e familiares tinham permissão para assistir a uma luta de MMA sem ingresso, e eu não me enquadrava em nenhuma dessas categorias. No entanto, por ter trabalhado com um lutador até 15 minutos atrás, consegui passar despercebida pelos seguranças, entrar no ginásio sem crachá e me sentar entre o público para ver as lutas.

Formei-me em Direito em uma das universidades mais prestigiadas do Estado do Rio de Janeiro e, ao sonhar com essa carreira, nunca imaginei que seria advogada do Sr. Bakes. Mas quando as contas se acumulam e as opções se limitam, agarramos a primeira oportunidade com esperança de sucesso. E eu realmente tentei, persisti por mais tempo do que deveria. Contudo, sentada tranquilamente pela primeira vez em três anos para assistir a uma luta, percebi que talvez não atuasse como advogada de Jan Bakes, conhecido como 'el diabo', mas sim como sua escrava.

Essa nova perspectiva era o que eu precisava para me manter firme diante do desespero de como me sustentaria. Enfrentar a perda de controle da minha vida profissional seria um desafio, pois sempre fui determinada a perseguir esse caminho, ajudando meus pais a terem uma vida digna no Brasil.

A chance de cursar o ensino superior foi uma bênção que meus pais me proporcionaram, um gesto que nunca esquecerei, pois eles sacrificaram muito para que eu pudesse estudar na capital, um lugar mais caro e muito diferente da região interiorana onde nasci e cresci. Por isso, sentia que devia honrar o investimento e os esforços deles, colhendo os frutos do que plantaram em mim.

Meu maior medo era não conseguir honrá-los quando me pedissem. Teria que enfrentar a entrega do controle total da minha vida a Deus.

Era por isso que a dúvida e a preocupação sobre o motivo de Dustin estar me procurando não saíam da minha mente, após tanto tempo.

Céus, não conseguia parar de pensar em mil motivos terríveis...

Resultado: Mal prestei atenção na primeira luta e, quando percebi, estava assistindo à luta do meu ex-chefe, que, apesar de receber alguns golpes, tinha claramente a superioridade. Nos últimos segundos do primeiro round, Jan Bakes nocauteou seu adversário, silenciando o ginásio por um momento.

O adversário sangrava pelo nariz, inconsciente, enquanto sua equipe gritava por emergência em pânico. Do outro lado, Jan Bakes celebrava sua vitória, indiferente ao oponente desacordado. Seu grito de triunfo deixava claro que qualquer um no octógono contra ele era um inimigo, não um adversário.

Isso foi épico! — ouvi alguém comentar, aplaudindo a cena, e logo o ginásio inteiro o seguiu, como se fosse realmente incrível.

Eu achava tudo aquilo um absurdo!

E pior foi quando entrevistaram Bakes, perguntando o que ele tinha a dizer, e senti como se ele me visse na multidão ao pegar o microfone.

— Ninguém vai me deter ou impedir de conquistar o cinturão; sou um caçador em busca da presa, meu colega. Anotem isso! Eu sempre eliminarei quem me atrapalhar!

Logo após, foi conduzido ao vestiário e, enquanto ele saía comemorando entre a multidão, precisei me levantar e buscar algo fresco para beber.

Foi então que, enquanto tomava uma Coca-Cola ao lado da máquina de refrigerantes, um homem pegou uma Pepsi e me ofereceu um pacote de salgadinhos.

— É sua primeira vez aqui? Parece que você vai desmaiar.

Aceitei os salgadinhos porque o vi pegá-los da máquina e realmente sentia que poderia desmaiar.

— Não, mas nunca presenciei algo como o que vi nessa última luta... — tomei um longo gole da Coca para tentar esquecer o que tinha visto antes de continuar falando, ainda abalado — Um dos lutadores teve que ser levado às pressas para o hospital... e isso, para mim, não é normal.

Sempre Volto Para Você (Romance Cristão)Onde histórias criam vida. Descubra agora