Do outro lado da cidade, Solan dedilha seu violão olhando para o céu com uma pilha de bitucas empilhadas no cinzeiro à sua frente. A cerveja já quente depois de horas ali sem que o rapaz sequer encoste seus lábios na beirada do copo. A luz da lua o hipnotiza.
- Tem algo de divino na noite, meus camaradas. - Solan acende mais um cigarro barato e traga com força - é uma pena que tenhamos perdido as estrelas.
- Poeta sendo poeta. Toca uma música em homenagem à noite. - Júlio, seu amigo e companheiro de quarto pede.
- Acho que vou encerrar por hoje. Me sinto um tanto vazio, meu violão até desafinou. - diz o rapaz se levantando e tirando uma nota de dinheiro de sua carteira.
- Amigo, hoje é por minha conta. Afinal eu que te arrastei pra cá. - Júlio intervém.
- Faço questão. Fique e aproveite um pouco mais da noite. Encontre uma boa companhia. Vou seguir com a Lua como companheira até em casa.
E antes que o outro rapaz pudesse se manifestar, Solan colocou-se a caminho de sua moradia, um prédio antigo de fachada mal conservada há duas quadras do bar do Geraldo, ponto de encontro de jovens artistas como ele.
As ruas lotadas de bares e bêbados na região mãos boêmia da cidade pareciam um convite à diversão, as drogas lícitas e ilícitas, à companhia para passar uma agradável noite de diversão e seco sem compromisso.
Ainda assim, Solan enfrentava dentro de si uma profunda solidão e a sensação de que algo lhe faltava, ou lhe fora arrancado. Ele chamava a isso de a dor do poeta, mas sabia que era algo mais complexo que isso. Talvez fosse o momento de procurar ajuda.
Parou em frente ao portão de seu prédio e novamente olhou para o céu. Ao contrário das ruas nas outras quadras, esta estava completamente vazia e ouvia-se o som abafado dos bares mais adiante. Um impulso aleatório o fez se voltar para a lua, retirar seu capuz e uivar como um lobo, fazendo com que os cachorros da vizinhança se manifestassem fazendo o mesmo.
O rapaz entrou rindo. Sequer encostou na bebida. Não poderia culpar seu teor alcoólico. Talvez ele precisasse se sentir livre. Talvez devesse ir atrás de algo que preenchesse seu vazio existencial. Talvez se reconectar com a natureza. Talvez...
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A Deusa da Lua
Literatura FemininaUma deusa desperta no mundo humano e ao reencontrar a pessoa responsável pela sua queda embarca em uma jornada para recuperar sua divindade. Trata-se de uma história com conteúdo +18 que pode vir a conter temas sensíveis e propiciar gatilhos.