Sempre Volto Para Você

3. AMIZADE

No outro dia, quando o despertador avisou que estava na hora de me levantar, senti o arrependimento amargo de ter tido a chance de dormir mais do que três horas, e não fiz isso. 

Domingo era o dia do Senhor e apesar de todo o meu corpo pedir cama. Eu tinha mil motivos para estar de joelhos na igreja, principalmente ao pensar na noite passada. 

Presenciar o Dustin não responder aos movimentos e palavras no octógono por um momento, para o desespero de Noah e da sua equipe acostumada com MMA, acabou sendo um gatilho que me deixou abalada o suficiente para sair correndo do ginásio mesmo depois da sua vitória. 

Céus, eu achei que ele iria morrer no mesmo dia que perdi o meu avô. 

Então, com a chave do seu carro nas minhas mãos e dúvidas queimando na minha cabeça. Eu saí do ginásio e parei no estacionamento em frente ao seu carro, tentando me acalmar, até que, para o meu desespero, escutei alguém passar por mim e dizer que ele havia ido para o hospital com a sua equipe. 

Com o coração quase saindo pela boca, entrei no carro dele e segui para o hospital, onde, para a minha sorte, a recepcionista pareceu perceber a minha agonia com a saúde de Dustin. E me deixou anotar o meu nome e número em um papel com um pedido escrito de que me mandassem notícias, e ela garantiu que entregaria para alguém responsável.

Em seguida no tempo de espera, liguei para os meus pais pedindo perdão pela última discussão ao contar sobre minha demissão.

E eles me acalmaram sobre o velório do vovô que eu não pude estar presente. Dizendo inclusive que estavam bem, me fazendo entender que não era sobre eles que o Dustin tinha para falar comigo.

Mas não querendo pensar nisso naquela manhã (desde que perdi horas de sono pelo Dustin até receber uma mensagem do Noah me tranquilizando), comi algo rápido antes de descer e ir caminhando para a igreja perto do meu prédio, com a determinação que Deus daria a direção sobre qual seria a sua vontade na minha vida, ao me lembrar das palavras da minha mãe nessa madrugada.

— Filha, se você quer saber qual é a vontade de Deus, precisa perguntar a ele e buscá-lo de todo o coração. Ele apenas responde a quem o procura. Lembre-se de Mateus 7:7.8 

“Peçam e será dado; busquem e encontrarão; batam e a porta será aberta. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e àquele que bate, a porta será aberta”. 

E com esse versículo ainda em meu coração, adentrei na igreja que tinha predominância de latinos e cumprimentei os diáconos da porta em português e espanhol antes de me sentar no banco e colocar a bolsa ao lado, soltando uma respiração profunda.

— Fala comigo, pai, me dê a sua direção… 

Percebendo que o dirigente pedia que ficássemos todos de pé para a devocional, terminei rapidamente a minha oração. E seguindo o que ele disse sobre deixarmos os problemas aos pés do Senhor, eu coloquei todos os meus problemas e dores, como a da perda do meu avô e a culpa de não poder ter me despedido, nas mãos do meu pai eterno. 

E logo, comecei a cantar louvores para exaltar ao Senhor, e para a minha surpresa, no meio da adoração, eu senti o próprio Senhor acalentar meu coração.

— Além do rio azul, as ruas são de ouro e de cristais. Ali tudo é vida, ali tudo é paz. Morte e choro, nunca mais… — enquanto eu acompanhava a canção, eu apenas conseguia pensar que o meu avô estava em um lugar melhor e que isso jamais seria o fim. Eu iria vê-lo um dia. Então, de repente, eu apenas consegui agradecer aos céus, com as lágrimas descendo pelos olhos, enquanto cantava, por todos os momentos e ensinamentos que tive com o meu avô que um dia ainda irei reencontrar — Tristeza e dor, nunca mais.