História, o azul do céu é uma mentira?

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     O que você vem a sua cabeça quando eu digo a palavra história? Essa resposta varia de pessoa para pessoa, como basicamente tudo no mundo, mas especialmente em relação a esse tema, você pode pensar na matéria dada nas escolas, você pode pensar em legados deixados por pessoas marcantes, você pode pensar mas infinitas variações do tempo ( o que é mais a minha praia ), você pode pensar em experiências vividas por alguém e mais várias outras coisas, história é tudo. História para mim, acima de tudo é forma com que eu vejo o mundo, o peso que tudo carrega, as coisas não surgem do nada e entender como tudo surge é impossível, mas definitivamente tentador, e eu tento descobrir tudo o que eu posso, compreender o mundo e as suas camadas e dimensões, mas nada é de graça e a felicidade que eu sinto em achar algo que não seja do meu conhecimento é cada vez mais contrastante com o sofrimento que vem depois de carregar esse peso comigo; a maior quebra de expectativa foi quando eu descobri que o céu não é azul por si só, essa é a história que eu vou lhe contar agora.
     Quando você cresce pensando uma coisa tão simples quanto a cor do céu, e de repente tiram tudo de você, até mesma a sua certeza sobre a cor dos cosmos, vai ser no mínimo chocante eu diria. Não tenho certeza da minha idade na época, já que a minha história se perdeu no meu eu, mas eu era criança quando eu descobri que o céu na verdade não era azul simplesmente por ser azul, a cor do céu tinha um significado, tinha um porquê, e de repente por não fazer mais sentido a minha vida tinha ganhado um novo significado. O céu parece azul por causa dos raios do sol que refletem nos átomos dos gases abundantes da terra e dispersam as cores, e de repente fica azul, posso ser sincera que na época a explicação não realmente fez sentido mas a reflexão por si só significou muito.
     "Por que o céu é azul?" era a pergunta chave, nesse momento eu aprendi a não aceitar tudo, eu aprendi a questionar tudo já que se até a cor do céu tem um significado sem a minha interferência então mais quantas coisas existem e tem história que eu não faço a mínima ideia? É aqui que começa a minha paixão, na verdade obsessão, com tudo; começou leve com coisas muito distantes como planetas e galáxias; depois evoluiu para coisas antigas da terra, tipo civilizações, de preferência com milhares de anos; depois virou o meu cotidiano, coisas supostamente banais como o caminho que eu faço para a escola ou o tipo de fermentação do queijo que eu comi de manhã, mas quando você entra nesse mundo é difícil de sair.
     A minha paixão por livros tem uma raiz nessa memória, os livros tem histórias escritas que foram pensadas e polidas por pessoas que eu provavelmente nunca vou nem conhecer, mas que eu posso sentir como se eu conhecesse, como se eu estivesse lá. Esses livros são feitos de materiais que levaram muito tempo para dominar a técnica de produção, e as matérias-primas usadas que um dia não tiveram que lidar com pessoas explorando-as, e a língua em que o livro foi escrito é uma evolução de uma comunicação pré-histórica que passou por mais modificações do que fios de cabelo que eu tenho.
     Tudo tem uma história definida, uma cronologia clara, uma evolução óbvia, mas em algum momento os olhos cansam de observar o mundo e tudo que me resta é os fechar e encarar o vazio dentro de mim, tentar decifrar a minha própria história, que parece inexistente ou só sem importância. É aqui que a dúvida surge, como se consegue espaço em um mundo de histórias magníficas quando você é uma página em branco? Argumentar que a minha vida mal começou é só história para criança dormir, existem pessoas na mesma faixa etária que eu tendo experiências transcendentais enquanto o vazio me encara de volta. Como eu vou escrever a minha própria história se eu não tenho tinta? Como eu vou escrever minha história se a folha sempre voa ao vento? Como eu vou escrever a minha história se eu não tenho ideias? Quando se compara uma história com outra, é possível ver uma discrepância clara nos personagens, nas atmosferas, nas reviravoltas, nos finais; é assim que você conclui que finais feliz, futuros brilhantes, histórias marcantes, na verdade não são feitas para todo mundo ou pelo menos não foram feitas para mim.
     Por isso esse livro não conta a minha história nem a de ninguém, eu não sou boa em narrar, instigar ou qualquer coisa do tipo, mas mesmo assim eu quero que você me conheça, não por quem eu sou, não pelo o que eu fiz, e sim pelo o que eu represento.
     O primeiro passo para conhecer a minha história é o seguinte: não conheça. Sei que parece contraditório, e se você surpreendentemente está aproveitando esse livro então deve ser contraintuitivo não saber quem é o autor, mas se você ainda não entendeu eu vou te explicar com todas as letras, esse livro é sobre o meu ponto de vista em relação à conceitos que não necessariamente vão me envolver, ou pelo menos não vão me envolver de uma maneira que você saiba disso, pense como se esse livro não contasse nenhuma história e sim fosse uma grandíssima avaliação de várias coisas. Uma coisa que eu posso dizer com confiança é que eu sou bem reflexivo, e de alguma forma seria interessante se o livro transmitisse isso, se já não está fazendo.
     O meu passado só diz respeito à mim, mas na verdade isso é uma boa tangente de se abrir. Memórias, pedaços da eternidade distorcidos até que fizessem sentido, à quem as memórias pertencem? Depois que você já esquece elas deixam de ser suas? Para onde vão as memórias esquecidas?
     Voltando com tudo no achismo, eu irei responder essas dúvidas urgentes do trabalhador médio brasileiro. Primeiramente: as memórias pertencem à quem lembra delas, elas podem ser distorcidas, apagadas intencionalmente ou não, mas tudo isso está nas mãos de quem segura esse pedaço do mundo na memória, mesmo se várias pessoas participassem de uma experiência mas só você lembrasse do acontecimento então essa memória vai ser sua por toda a sua eternidade. Segundamente: depois de esquecidas, elas param de ser propriedade de quem lembra e são consumidas pelo vazio, abandonadas pelo tempo que for passar em um lugar que nem eu nem você imaginamos, a lembrança apodrece no meio do nada perdendo o significado e deixando as pessoas que estavam participando daquilo para trás, já que se foi esquecido então talvez considerem que nunca nem mereceu ser lembrado. Terceiramente: essa já foi meio que respondida, elas vão para um vazio com a  ausência do tudo e a presença do nada, onde são corroídas e corrompidas por si próprias já que não podem ter contato com mais nada além da própria existência.
     Mas sinceramente, você quer que as suas memórias se apaguem e nunca mais voltem? Sejam elas experiências com outras pessoas, momentos em que a sua presença foi o suficiente pra te fazer feliz, até situações vergonhosas que você desejaria nunca ter passado, ou pelo menos é isso que você pensa agora, enquanto todas essas informações estão sendo guardadas no seu consciente e no subconsciente exercendo o seu papel de formar a pessoa que você é. Depois de divagar tanto eu me sinto no direito de explicar o que está acontecendo, o dilema inicialmente proposto fazia referência a ter uma história, que foi apagada ou esquecida se preferir essa nomenclatura, mas agora nós entramos em outro grandíssimo buraco de coelho, o que é de alguém que simplesmente não tem história? Como essa pessoa reagiria ao mundo?

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⏰ Última atualização: Mar 03 ⏰

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