––– Um cavaleiro da Elite. Aqui… ––– preenche o caneco e entorna numa só golada –––, nesse fim de mundo?Era uma manhã fria como qualquer outra, vesti meu casaco mais quente e na primeira hora do dia fui à taberna ao lado do abrigo, onde relato meus feitos heróicos do dia anterior, é claro que não poupo detalhes sobre as criaturas bizarras das sombras e a forma incrível como o Guardião e sua Dobra me ajudaram a derrotar aquelas coisas infernais.
––– Eu sei o que parece, mas é verdade, eu estava lá! ––– dei de ombros com os braços abertos ––– Por quê eu mentiria?
––– Agora cê pegou pesado, guri ––– revira os olhos e ao invés de encher o copo, optou por beber direto na garrafa ––– eles não descem ao Mundo Inferior há um tempão.
––– Escuta o cara, não temos nada que valha o tempo desses mercenários metidos a heróis ––– explica o barman enquanto limpa o balcão ––– não se iluda, garoto, para os magnatas lá de cima, não passamos de lixo. Agora desce da mesa antes que eu te derrube.
Confesso que essa não foi a reação esperada, não teve aplausos, e nem gritos de bravura para me encorajar, com exceção de um cidadão no canto que parecia comemorar sozinho, a descoberta de uma moeda presa na sola do sapato, que lhe renderia mais uma dose para completar sua manguaça.
Os demais clientes simplesmente me ignoravam, deveria imaginar, afinal, cada um já tem seu próprio drama para lidar e não perderiam tempo com histórias como essa, por mais verídica que seja, eles não têm ânimo para nada e não é atoa que enchem o rabo de cerveja para começar o dia na força do ódio.
––– Vocês são um bando de pinguços falidos, o que sabem sobre o mundo lá fora? ––– cabisbaixo, marcho até a saída.
––– Ouçam o Guardião sem Dobra ––– ri da própria ironia e se engasga com a bebida ––– um brinde ao pestinha revolucionário!
Ao passar pela porta, esbarro num homem de sobretudo azul que segurou meu ombro e me puxou para dentro enquanto retira a máscara. Só de bater o olho no sujeito, percebi que não era daqui. É nítido o contraste de sua vestimenta fina em comparação com os panos de juta e o couro surrado que veste a maioria no Mundo Inferior.
As lentes redondas e pontuadas realçam seu rosto esguio e anguloso, a armação de prata assim como o respirador, refletem o âmbar das lâmpadas do recinto.
––– Onde vai com tanta pressa, jovem? Talvez você queira ouvir o que tenho para falar ––– guarda a máscara no bolso do casaco e se dirige ao bar ––– prometo ser breve.
Olhares curiosos são inevitáveis, até o dono da espelunca observa o estrangeiro com o queixo mole, como se fosse engolir um ovo. A figura misteriosa caminha apoiada ao guarda-chuva, no canto da boca forma um sorriso, ciente da atenção de todos alí presente, exceto aquele cara da moeda, que não tira o olho do fundo do caneco enquanto aguarda a última gota cair.
––– Senhores ––– iniciou, a voz rouca e aguda ––– trago uma mensagem de caráter urgente, diretamente da Alta Cidadela para o Mundo Inferior.
Falou pouco, mas falou esquisito, suas palavras foram mais que o suficiente para despertar vaias dos expectadores incrédulos. Ainda assim não se intimidou, e prosseguiu com seu discurso, como se estivesse acostumado a palestrar para uma plateia descrente e sem o mínimo de interesse.
––– É plausível essa falta de fé, aliás, não passo de um estranho no meio do bar ––– ajustou o óculos e a lente escura tornou-se clara ––– Meu nome é Cárdnos e este é meu companheiro inseparável.
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Dragão de Bronze
FantasyEle Não Tinha Nada Mas Mostrou Que Poderia Conquistar O Mundo!