Os meus 10 medos

Capítulo 1

- Eu estou falando sério, Jennie! - Bufei em resposta a risada contida que escutei do outro lado do celular – Eu nunca mais vou me envolver com ninguém! - Dessa vez a risada foi bem menos contida.

- Sim, eu acredito em você - Não consegui determinar o que estava mais forte: o deboche ou o sarro que ela estava tirando da minha cara.

- Eu sou do time coração de gelo agora...- Okay, talvez nem eu estivesse acreditando nesse papo furado, mas dizem que confiança é tudo.

- Coração de gelo, né? - Dessa vez ela só gargalhou no microfone, confesso que eu acompanhei, mas bem baixo para não parecer menos confiante.

- Feliz em saber que posso te divertir nesta manhã ensolarada, Jennie – Voltei ao meu drama particular, que, no momento, estava sendo antes das oito da manhã, ou seja, antes do horário permitido, mas acho que Jennie ficou com dó e passou um pano para a minha situação patética.

- As coisas com a Minnie foram tão traumatizantes assim? - Escutei uma bolsa fechando no fundo e ao mesmo tempo me lembrei que eu deveria descer do ônibus em breve então, como a boa ansiosa que sou, ajeitei minhas coisas e fiquei perto da porta (medo número 10, perder o ponto/passar vergonha dentro do ônibus lotado).

- E se nós evitarmos esse nome por enquanto? - Enfiei-me no meio de muitas pessoas e consegui sair sem passar nenhuma vergonha- Tipo... Eu só decidi que essa vida do amor não é para mim... - Comentei baixo e continuei meu caminho entrando na parte coberta da instalação.

- Acho que você vai mudar de ideia logo... – A mãe da Jennie a chamou do outro lado da linha então conclui que ela foi para a cozinha tomar o café da manhã.

- Eu, realmente, não vou... Essa é minha nova personalidade, lide com ela! – Segurei a risada e desci as escadas que levavam para o bloco em que eu estudava.

- Ser um hétero top? - Sua voz soou brincalhona e abafada como se ela estivesse comendo e conversando (o que foi confirmado por Dona Wanda no fundo, a repreendendo no mesmo segundo).

- Sim, agora eu vou só comer as minas e dar o golpe – 3 segundos em silêncio foram necessários para a minha postura cair e uma risada estourar do outro lado da linha.

- Okay, okay, okay... Eu acredito em você e apoio esse seu novo ideal- Disse após bons 5 minutos rindo.

- Muito obrigada! - Sorri confiante enquanto buscava meus óculos de sol dentro da bolsa, a manhã estava queimando e eu tinha olhos sensíveis. Maldito seja o aquecimento global e essas estações confusas.

- Você vai pra aula? - O fundo voltou a ficar quieto então imaginei que ela estivesse de volta em seu quarto.

- Eu já estou na Universidade...- Cheguei na praça do departamento de comunicação e arte. Era cedo demais, havia apenas um grupo sentado perto da cantina conversando e, em uma mesa mais ao canto, um casal se agarrando... Qual foi, são 7:42 da manhã!

- Só checando, você faltou o primeiro mês todo... Fiquei com medo de perder minha dupla de TCC – Antes dos julgamentos, eu tive ótimos motivos para faltar o primeiro mês todo.

- Há há há... Engraçadinha - Soltei uma risada fraca e um sorriso falso como se ela pudesse ver minhas expressões.

- Não é meio cedo para estar aí? Tipo... Nossa aula não começa 8:20? - Seu desespero foi notável.

- Sim, bom... Se eu quiser vir com meu pai preciso me acostumar com esse horário, talvez quando o BamBam voltar a trabalhar ele me deixe aqui de carro e eu não precise passar pela humilhação de pegar ônibus diariamente – Continuei o meu clássico caminho, reto toda vida depois direita e então, ao final do corredor, esquerda.