03. Em órbita

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Incansavelmente a observava. Os pulmões absorviam o oxigênio presente no ar, enchendo-a com o fôlego da vida enquanto o peito subia e descia lentamente. Meu olhar fixo era o suficiente para que ela percebesse que a desejava tocar? Será que dentro de seu âmago ela verdadeiramente sabia que eu queria ser inteiramente dela? Que a pertencia? Que era minha obsessão e afeição?

Os lábios dela eram como ímãs em relação aos meus, convidativos, chamativos, implorando por contato e para serem agraciados da maneira mais tenra existente. Os cabelos emolduravam o rosto, o rosto onde minhas mãos desejavam pousar e acariciá-lo como se fosse a única coisa que precisasse fazer para continuar vivendo. Porque viver uma vida para senti-la seria viver uma vida que valeria a pena ser vivida. Ela era o início, o meio e o fim, o caos presente no universo, no qual eu estava louco para colidir com o meu e expandi-lo. Queria poder escrever-lhe as mais belas poesias, porém palavras me fugiam quando pensava em descrevê-la, nenhuma palavra poderia descrever a ela o quanto a desejava com tanto fervor.

Sem que estivesse a espera, fui flagrado por olhos escuros intensos, sentindo meu coração saltitar no peito. Faíscas brilhavam no imenso mar castanho de seu olhar quando o direcionou para mim, pegando-me completamente desprevenido ao sorrir de forma que fez os pelos do meu corpo eriçarem. Era como se pairasse ali, sobre nós dois, uma nuvem de excitação, que poderia ser notada a quilômetros de distância. O olhar feroz dela fazia os meus pensamentos fervilharem, assim como meu sangue e a velocidade com que ele percorria por todos os lugares do meu corpo, chamando-me para ela. Meu corpo vagueava ao seu de forma automática, como se fossemos dois astros que se atraíssem cada vez mais para perto um do outro, implorando por um contato mais demorado e intenso.

Era um pecado que uma pele como a dela, tão alva e suave, fosse corrompida por qualquer coisa feita por mãos mortais como as minhas. A magnitude e grandeza dela exalava por todo o ambiente, como o Sol que possui os planetas em sua órbita, eu havia caído na órbita dela e tudo o que eu mais queria era debruçar-me sobre o seu precipício e fundir-me à sua luz. Era o vício da órbita que gravitávamos sempre um no outro, e já não iríamos ter a mesma dinâmica na vida sem a presença da força de atração entre nós dois. Meus dedos passeavam pela nuca dela, puxando-a com delicadeza para que pudesse provar do doce gosto proveniente de seus lábios tão convidativos, os lábios nos quais eu queria me perder e nunca mais me encontrar.

A delicadeza do toque dela me deixava em êxtase. Os poros do meu corpo imploravam por mais, imploravam por ela, clamavam por ela. A forma com que exalava sua divindade até mesmo com as mãos era arrebatadora, fazendo-me sentir como um cavaleiro que havia recebido suas recompensas quando chegava de suas batalhas, a intensidade com que passeava com seu tato por todo o meu corpo era de fato a maior das recompensas por estar vivo.

Beijei as partes mais sensíveis de seu corpo, arrancando melodias de seus lábios, que deslizavam por eles de forma que me excitava ainda mais a tê-la naquele interlúdio. Tentando aliviar aquele desejo compulsivo e incontido, tomei seus lábios com ainda mais força e intensidade, sendo recompensado por toques firmes na nuca e leves puxões no cabelo, que dessa vez fizeram com que as melodias deslizassem dos meus próprios lábios, inundando nossos ouvidos com a orquestra provinda de nossos mais ocultos desejos, trazendo-os à tona a cada investida.

Pernas circundaram-me, atracando-me e prendendo-me, como se não me permitisse fugir dali a nenhum custo. Mal sabia ela que eu não trocaria aquilo por nada. Minhas mãos deslizaram por suas coxas ao encontro da curva do quadril, onde minhas digitais tatuaram no macio de sua pele que estive ali. Como um nato explorador, viajei por entre as curvas de seu corpo por baixo do vestido, apertando-lhe a cintura e sentindo uma leve pressão em meu quadril e no meu colo, continuando a Sinfonia que nossa orquestra conjunta criara. Vi as estrelas de perto quando seu quadril se pôs a mover-se sobre mim, de forma lenta e gradual. Cravei minhas mãos em sua cintura, acariciando a curva que ali se formava, logo alcançando suas costas e a puxando para o meu peito. Depositei beijos na curva do seu pescoço, sentindo-a arfar, seu peito subindo e descendo com rapidez e excitação, pondo-me fora de mim mesmo. Alcancei os seus seios por baixo do tecido e seus lábios de mel com ferocidade, a pressão de nossos corpos cada vez mais forte, a maciez sob as minhas mãos num contato que me deixava ainda mais inquieto.

Através da minha boca desenhei as palavras e compus versos, sua orquestra ainda preenchendo os meus ouvidos ao passear com a minha língua pelos cantos de seu corpo divino, que esperava pela minha composição poética. Em poucos segundos as camadas de tecido já não impediam mais um contato mais prazeroso, o calor de nossos corpos se misturando um no outro, ambos desbravando o universo que nos compõe. Mozart teria inveja de nossa sinfonia, onde o tato se tornava presente, tocando os instrumentos que eram o corpo um do outro como as teclas delicadas de um piano, que produziam canções cheias de sentidos, sem a necessidade de usar palavras propriamente ditas, apenas mantendo contato pra que apenas os nossos corpos se conectassem e conversassem entre si.

Nada cansado, cheguei ao ponto em que nossos corpos imploravam, e ela deu permissão para que eu a fizesse apenas minha. Adentrei, feroz, firme, irredutível, e arrastamos juntos criações por todo o universo, sob as estrelas como as mais fiéis testemunhas de que ali houvera uma explosão de volúpia. Ali encontramos o paraíso, em alguns instantes mais distantes, deslocados de nossos corpos, com nossas almas se fundindo após atingirmos o máximo êxtase, fechando as cortinas de nossa orquestra sinfônica, para que nossas almas tivessem a liberdade para se amarem e declararem-se uma à outra. Nos tornamos um só, caminhamos até a beira do precipício sem hesitar em cair, uma grande explosão cósmica quente e arrebatadora.

Como o Sol e a Lua, declaramos um ao outro que nos pertencíamos naquele ínterim, os astros a contemplarem a beleza de dois corpos celestes a proclamarem o êxtase pelo cosmos, até que restassem apenas a poeira proveniente de nossa expansão cósmica.

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