2 - Enigma Alfa

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O céu de fim de tarde dourava lá fora quando o Huening Kai checava todas as provisões que levaria para a casa do amigo: um pacote tamanho família de salgadinho sabor churrasco, dois pacotes pequenos de balas de goma de ursinho - suas preferidas - e para completar, a infame revista Playboy novinha que havia pescado do lixo do vizinho e lhe rendido um dos acontecimentos mais estranhos de todos os seus 17 anos até então.

Assim que o susto inicial havia passado, algumas horas depois do encontro com o alfa desconhecido, certificou-se de passar um paninho com álcool na capa e contracapa de sua conquista na cozinha, rapidamente, enquanto temia a bronca da sua mãe caso o pegasse com aquele tipo de revista. "Desculpa, mãe", mentalizou, metade apreensivo e metade travesso enquanto subia as escadas até o quarto afoito para esconder seu mais novo prêmio.

Não conseguia parar de pensar na cara de Taehyun quando visse aquilo: Apesar de gostar de meninas, conseguiu concluir que aquela revista não o atraía muito, após folheá-la rapidamente deitado em sua cama. Porém, sabia que era exatamente o tipo de produto que seu amigo encarava por longos minutos, quase babando, quando iam juntos na banca de jornal comprar mangás. Por isso, ele esperava que o mais baixo, no mínimo, beijasse seus pés quando a mostrasse.

Animado com as perspectivas que a noitada com o amigo prometia, o jovem Kamal fazia seu caminho pelos corredores da casa de mochila nas costas e distribuindo gritos de despedida para suas irmãs e mãe, que já estavam avisadas que dormiria fora aquela noite. Andava com um passar relaxado ao mesmo tempo que apressado da soleira de casa até a rua, sem parar para absorver os tons de laranja e vermelho que pintavam o céu daquele fim de tarde de verão. E então lembrou-se subitamente , talvez primeiro seu corpo e depois sua mente, do acontecimento bizarro do dia anterior. Se se esforçasse, ainda conseguiria lembrar daquele cheiro, aceso e amadeirado, em suas narinas. Olhou, um pouco hesitante, para a casa do vizinho.

Barra limpa.

Não havia ninguém por ali. Kai suspirou, principalmente de alívio, porque uma partezinha sua ainda tinha um pouco de medo de ver o loiro da noite anterior ali, com seu cheiro opressor e seus olhos confusos. E suspirou um pouco mais, talvez de decepção, porque uma partezinha ainda menor sua tinha um pouco de esperança de vê-lo outra vez e desvendar seu mistério. "Decifra-me ou te devoro", Kai se lembrou, a famosa frase da Esfinge de Tebas, que havia conhecido na aula de história. Talvez fosse um traço humano se atrair pelo mistério, pelo desconhecido. E como Édipo, apesar de ter medo, uma parte de si queria desvendar aquele enigma.

Huening chacoalhou sua cabeça enquanto apertava as alças de sua mochila, como se assim pudesse espantar aqueles pensamentos. Tinha outras coisas mais importantes para se ocupar. Tipo jogar Mortal Kombat.

Fazia o trajeto curto pelas ruas do bairro calmo e residencial até a casa do amigo de forma quase automática, e assim, seus pensamentos começavam a se dispersar cada vez mais pra longe do loiro da noite anterior.

- Entra aí, gatão. - Foi a forma irônica com a qual foi tão calorosamente recebido pelo amigo de cabelos castanhos, abrindo a porta para si logo no segundo toque da campainha.

- Sentiu muito a minha falta? - O mais alto perguntou segurando um riso, entrando e automaticamente já se sentindo em casa.

- Só se for nos seus sonhos. - Kang respondeu com uma careta.

Os dois haviam se visto não faziam nem três dias.

Se entreolharam por alguns segundos e riram. Kai gostava de ser assumidamente bobo com Taehyun; podiam falar uma besteirinha assim um para o outro e soava como a coisa mais engraçada do mundo. Achava que era uma das grandes vantagens de ter um melhor amigo de infância que conhecia tão bem: a intimidade confortável que existia entre eles.

Dilema Ômega | SookaiOnde histórias criam vida. Descubra agora