10 - O mapa

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Amble notou o olhar de João para seu mapa. Ele parecia atento e focado. Então ela decidiu dar uma chance e confiar nele. Ela começou a pensar, o pai dele era o que para conseguir um mapa exato daquele campo de trigo perigoso? Um geógrafo? A impressão que a moça tinha era de que os libertanos eram mais espertos do que a maioria. Enquanto ela o seguia ela se sentiu ansiosa, afinal nunca vira antes trigos gigantes e o pensamento de "Isso vai acabar?" enquanto o campo não terminava era aterrorizador. A caminhada durou 40 minutos.

João sempre andava com uma sacola discreta onde sempre estava pousada sua mão. Roubos e furtos aconteciam principalmente com pessoas distraídas.

Assim que deram seus últimos passos para fora do campo, Amble notara um chão de terra liso. Uns metros mais a frente haviam várias casas parecidas e de fato com aspecto antigo. Estando lado a lado João se virou para ela e disse:

- Não acredite em nada do que dirão. Está bem? Escute, nós iremos ter que dormir na casa de um deles hoje. Vamos fingir que estamos confusos e ao amanhecer vamos parecer loucos e que queremos tirar nossas vidas. - Ele falou com uma mão em cada ombro da moça a olhando nos olhos com seriedade.

- Mas espera... - Ela perguntou ansiosa sacudindo os próprios ombros e o afastando - você disse que não podíamos confiar neles! Como vamos dormir ali?!

- Primeiro de tudo, apenas faça o que eu digo. Eu sei mais do que você. - Ele falou de forma arrogante - Não vamos perder tempo com conversas paralelas! Isso é importante! Eu vou precisar verificar a rua para da qual iremos. Recentemente ela está com policiais. Preciso planejar uma boa rota para passarmos em segurança. Se formos para lá agora irá anoitecer. Nós em uma rua de noite... sem conhecê-la... rodeada de policiais... não soa animador...

Amble assentiu que sim com a cabeça. Fazia sentido o que ele disse. Ela até pensou em criar uma briga verbal pela forma que o rapaz foi arrogante, mas vendo bem, eles de fato iriam perder tempo e meio que ela estava em suas mãos agora.

Após caminharem um pouco mais, João bateu em um porta de uma casa que escolhera por intuição. Uma idosa a abriu e parecia surpresa ao vê-los. O que é compreensível, era muito raro alguém alcançar aquele vilarejo. A mulher já estava preparada para manipulá-los sobre o ano em que estavam, o que ela não contava é que João era libertano.

Ela os deixou entrar, era o que qualquer um daquele vilarejo deveria fazer segundo o protocolo, da qual João disse:

- Nós estamos confusos - Ele atuou desespero - onde estamos?!

Amble se chocou com isso, ele pareceu sério e contido de primeira e de repente estava tão expressivo...

- Nós estamos em 1530... - A idosa disse em um tom desanimado. Afinal viver um teatro para sempre é infernal.

- Nós podemos dormir aqui? - João disse parecendo desesperado.

A senhora iria concordar até que olhou para Amble desconfiada, afinal a jovem moça não parecia muito assustada:

- S-sim, sim - Amble começou a atuar desespero - estou confusa, eu só preciso descansar um pouco. - João se acalmou quando notou que Amble percebeu que precisava atuar.

Agora mais convencida a idosa os mostrou o quarto de hóspedes com várias camas. Enquanto iam para lá Amble se impressionou em como tudo parecia antigo. "Como o governo fez isso?" ela pensou "Em todos esses passares de anos eles guardaram itens antigos? Qual o sentido? Pensei que tudo era descartável".

Quando chegaram no quarto ambos ficaram em silêncio. Cada um sentado em uma cama. Amble apenas viu João olhando para um aparelho que parecia um celular de metal, pelo menos a parte de trás do objeto. Ficou um silêncio desconfortável até que ela decidiu quebrá-lo.

- É... você pode me explicar o que iremos fazer nesse outro lugar que iremos? Eu... estou confusa realmente. - Ela perguntou sem graça.

O menino calmamente respondeu:

- Olha... me desculpe, eu fui arrogante contigo mas era porque me senti pressionado a fazer tudo dar certo. É uma questão profunda para mim. Envolve um pacto. Nós... iremos pegar um livro. Esse mapa o indica.

- Livro? - Amble perguntou desconfiada.

- Sim. Sabe... toda a população recebe um livro. De condutas, regras e a história da humanidade. Porém sabe como é, livros podem ser editados ao longo do tempo. Mudanças de poder e etc. Os interesses sempre mudam. A população logo ganha um livro editado segundo os interesses da elite. Mas... não foi assim com minha família. Nós somos unidos de geração a geração. Temos um código próprio de conduta que nada tem a ver com o que o governo espera de nós. E confiamos na gente, ao longo dos grandes tempos. Meus antepassados sempre honraram a busca pela verdade e questionamento. Eles eram investigadores, de geração a geração, todos foram buscando informações. Estudamos línguas antigas, viajamos... e meu pai foi o último desse ciclo. Ele conseguiu concluir o livro. Nós o chamamos de "O livro original" já que não o manipulamos. Antes de morrer ele me disse algo sobre este livro mencionar um messias. No seu caso, uma messias na verdade. Mas ele enterrou o livro em um terreno seguro pois se ele cair em mãos erradas...

Amble ficara surpresa, não apenas com a união de sua família mas também por ela fazer um papel tão importante nessa história. Ela ficara desconfiada disso. Primeiro que ela mal conhecia o rapaz e segundo que... messias é algo muito forte para alguém ser.

O menino já havia verificado a rua que iriam no dia seguinte. Era por isso que ele estava olhando para o "celular de metal". Ele conseguia acesso a câmera através de um drone de alta tecnologia que era uma borboleta que conseguia se camuflar. Ela parecia real e não robótica, nanotecnologia avançada. Vagava os lugares de acordo com o controle de João. A borboleta era como seus outros olhos.

- Quando acordarmos, irei verificar novamente o bairro. Eu percebi um padrão em como os policiais abordam as pessoas. E achei das ruas as mais vazias. Vamos conseguir passar por lá. Fique tranquila. - Ele disse calmo - E lembre-se ao amanhecer precisamos parecer loucos de verdade.

Começou a anoitecer. Naquele momento João apenas se deitou em sua cama. Não quis puxar mais conversa. Amble decidiu também não falar nada. Era estranho. Ambos pareciam dois estranhos. E mais louco ainda era sentir que sua única opção era confiar em um.

A jovem fez o mesmo, se virou e decidiu se deitar na sua outra cama. Observou como tudo soava antigo e sentiu estranhamento. Começou a pensar, aquele primeiro homem que falou com ela no trem, ele estava certo? Ela iria falhar de alguma forma? E se João era uma armadilha e ela não sabia? Soava aterrorizante. Mas a moça suspirou fundo e decidiu que era tarde demais para voltar atrás. Agora ela estava em uma jornada e seria corajosa o suficiente para ir até o final.

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⏰ Última atualização: Apr 16 ⏰

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