6 - Química e controle

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A polícia em 2Q7 fora criada somente para cumprir os planos do governo. Alguns policiais abriam seus corações e ajudavam certos cidadãos, principalmente se estes eram crianças ou familiares.

Mas como é ingênuo pensar que a policia iria ajudar alguma vida já que a meta de todos era a morte. A policia matava a tiros os bandidos. Essas notícias sim passavam na televisão, que a esta altura do ano era uma projeção em uma espécie de vidro finíssimo. Os moradores de rua eram facilmente mortos. Somente bastava avistá-los que as armas executavam seu papel.

Os policias a essa altura já eram autoritários, faziam o que queriam com os mais indefesos. No fim da tarde alguns deles se reuniam para gravar em um estúdio encenações onde salvavam pessoas e estas agradeciam. Em determinado horário o resultado passava na televisão.

A maioria delas acreditava nisso. A mídia tinha uma presença muito forte na vida dos cidadãos. Apesar de continuarem mostrando essas insinuações de vil intenção neste ano a polícia iria executar um plano a mais. O governo decidira que os policiais deveriam estar sempre nas ruas. Mas não para defenderem as pessoas mas sim para assombrá-las e espioná-las. Qualquer um que violasse uma das leis do governo iria ser preso. Para o povo isso não era tão ruim pois na prisão pelo menos não seriam perseguidos. Pobre deles, literalmente e subjetivamente, pois na prisão todos eram executados. Não importa se a prisão fora justa ou não, o réu não tinha escolha. Obstante jamais o governo seria vulnerável e mostrar isso na mídia.

Mas me focando novamente no que se passa entre o povo: havia um lugar em 200.407 onde um povo era deveras explorado. De tanto isso ocorrer ficaram calejados. Talvez também tenha sido a química dos remédios que o governo dava de graça para os adoentados. Pois neles era presente uma substância que os deixava mais dóceis a tudo que se sucedia.

O governo pensara ser um sábio tomando essa decisão, ele quase foi se não aparecesse mais tarde uma exceção. O povo torik do qual me refiro, residentes de Torak, era um povo pobre que resistia muitas tempestades de areia. As mulheres usavam vestidos acima dos joelhos. Sim, era proposital para que atraíssem os homens maus intencionados. Fora um uniforme posto nos regulamentos do governo àquele povo. Os homens desde cedo nas escolas ouviam histórias violentas com o mesmo objetivo mencionado anteriormente.

Mas não se engane não pense que todos os homens nesta época eram assim. Somente os de Torak, pois por ser uma região mais isolada ali era um alvo de várias regiões mais ricas a ser um inferno somente pelo prazer do sofrimento populacional. Os homens das outras regiões, as quais eram grandes potências eram mais fracos físicamente e medrosos. Portanto os homens mais rudes um pouco menos da metade do povo eram os que mais matavam. Já os filhos dos nortenses, a elite dominadora que surgiu no norte a administrar Torak, possuíam mais habilidades. Então eram mais fortes e arrojados porém também mais protegidos.

Acontece que desta vez quero falar de Diana. Ela era torika e evitava sair nas ruas várias vezes. Por mais que sempre ouvisse parentes dizendo que ela precisava se casar para ser protegidas dos homens maus, ela sentia dentro de si que podia ser diferente. Ela queria ir para uma floresta ali perto, sobreviver por lá. Assim ela estaria livre de sua cultura nociva. Todos os seus parentes sempre trataram a cultura local de maneira banal. Era como se crimes fossem horários, eles chegavam e todos diziam "entendi".

Diana desde muito cedo, sempre questionou tudo. Desde ditaduras que ouvira os idosos contarem até sentimentos que pareciam ingênuos, como o amor que sua mãe a dava. É cruel de certa maneira tantos questionamentos, mas eu diria que é uma dádiva rara.

Os nortenses governavam Torak de um lugar distante, O Grande Chão. Eles eram a descendência dos líderes que do Norte migraram para o Sul após perderem uma guerra. Nessa guerra seu parlamento deu tudo de si e contratou agentes qualificados, e estrategistas, e administradores militares. Mas mesmo assim perderam. Fora muito esforço e investimento para a perda. Eles não queriam que outras tribos pensassem que eles perderam a glória e nem sentir isso entre eles então em vez do nome "sulense" ser passado de geração em geração, nortense era o que se escutava das bocas velhas para as bocas novas. Por isso o nome: "O Grande Chão" para se esquecerem que um dia mudaram de território, do norte ao sul.

Os nortenses neste ano se reuniram para criar soluções contra o ataque do Povo do Rubi à Torak também conhecido como rúbia. Esse nome devido ao fato de que em Rúbi haviam terras ricas com várias pedras preciosas, porém Rúbi fora escolhido principalmente pois remetia ao vermelho. E o vermelho para eles era sagrado, representava sua ousadia e poder para matar. Os rúbias planejaram despejar em aviões sua química. E ela mataria todos os toriks.

Os nortenses eram a única liderança que se importava com os toriks. Isso porque entenderam que Torak era um teste dos outros povos para o que planejavam fazer no mundo inteiro. Com isso queriam se precaver de perdas outra vez. Seu ínfimo trauma (do parlamento e do povo)... Em alguns, um pouco de compaixão por Torak, pois os nortenses experimentaram naquele passado o que é se verem como miseráveis. Antes que fique louco a se perguntar eu o direi, depois desses tantos anos a Terra mudou. Houve um colapso tão grande de aceitação, aceitaram tantas tribos sem pensar que elas próprias se tornaram rígidas. Em algumas regiões atualmente existem barreiras e barreiras impedindo contato de povos com outros povos. Cada povo cativou seus valores e tradições. E não mantiam contato com os outros apenas por uma aliança.

Os nortenses então concluíram que podiam fazer uma pequena caridade aos toriks. De cada família mandariam escolherem um membro para ir ao exército deles, exército esse que tentaria combater os rúbias. Ambas elites nortenses e rúbias eram boas em organizar. Porém enquanto os nortenses se inclinavam para a caridade e piedade os rúbias para o destruir.

E logo as cartas chegaram em todas as casas. A mãe de Diana pegou a carta e a abriu. Logo mostrou ao pai em desespero e as outras filhas também. Todos se desesperaram. Logo correram até o quarto simples de Diana e deram a carta nervosamente:

"Eis aqui o convite dos nortenses, toriks, a partir da próxima semana enviaremos nossos membros especializados para recolher apenas uma pessoa. Pelos nossos cálculos sobre as vagas, apenas um membro pode ser escolhido de cada família. O restante padecerá abaixo dos aviões dos rúbias, os que soltarão toxinas".

Diana então não pôde acreditar. Esta tragédia era mesmo real? Ao contrário dos demais, não gritou apenas perguntou:

- Quem irá? - E logo em seguida se isolou.

Passando um tempo a mãe a chamou e todos se reuniram em uma mesa da casa e a mesma falou:

- Quem será forte o suficiente de ir e quais os restantes corajosos de ficar?

- Eu posso ir - Disse o pai - não quero que vocês sofram anos no exército e pode ser melhor, lamento dizer isso, a morte.

- Eu prefiro morrer - Disse a mais velha - não aguentaria saber que todos morreram e eu não.

E o pai começou a chorar:

- Para ser realista nem eu conseguirei.

Enquanto a mãe o consolava com mãos generosas pronunciou:

- Então que tal: todos morremos?

E logo todos começaram a derramar lágrimas. Diana mesmo derramando-as disse:

- Eu irei.

Por mais esdrúxulo que isso soe Diana disse isso pois tinha fé que poderia mudar o sistema. Por mais que doesse deixar tudo para trás... as vezes sacrifícios precisam ser feitos.

E então seus pais e duas irmãs se espantaram. Era uma mistura de medo, admiração e ansiosa saudade. Mas todos então concordaram e choraram por horas e horas.

2Q7 - 200.407Onde histórias criam vida. Descubra agora