2. Hurry up

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Becky se encolheu e montou em minhas costas. Seguimos rumo a nossa casa, desviando de várias pessoas que corriam feito baratas tontas, virar as esquinas era como uma roleta russa, a cada momento correndo riscos de sermos encontradas. Ao alcançarmos um beco escuro, reverti a transformação, voltando à minha forma humana. Becky desmontou das minhas costas, nossos olhos se encontraram, carregados de medo e determinação.

— Ele não vai nos deixar em paz, Elara. Precisamos encontrar uma maneira de nos proteger. - Assenti, minha respiração estava acelerada pelo esforço da fuga. - Temos que chegar em casa antes que ele nos encontre. A cabana tem algumas proteções mágicas, talvez possamos nos esconder lá.

Lançamos-nos de volta às ruas movimentadas. A criatura rugia ao longe, uma presença sinistra que mantinha nossas mentes alertas. À medida que cada vez mais a população o chamava de "monstro", mais reações negativas reagiam em mim, como se fossem balas contra meu corpo, perfurando profundamente. As vozes do povo martelavam aquela palavra em minha mente, como se fossem para mim, mesmo que não. Fui perdendo o ar depressa, comecei a falhar, e minha visão embaçou.

— Essa... não sou... eu... - sussurrei, parando de correr. - Eles não... eles não podem... não podem simplesmente definir o meu eu apenas com uma palavra idiota.

Percebi a confusão de Becky, então, a passos curtos e trêmulos, entrei em qualquer casa aberta e me escondi em seu sótão. Ela desceu de minhas costas e me encarou no meu estado mais deplorável, deitada em posição fetal, em pânico, tapando meus ouvidos e sem sequer deixar a forma de gato.

O caos ainda era presente lá fora, não só apenas lá fora, mas infelizmente dentro de minha mente também. Becky estava estática à minha frente, sem saber como agir. Então, apenas me abraçou com seus bracinhos miúdos, sem dizer uma palavra sequer; colocou tampões em meus ouvidos e voltou a me acariciar. Ela retornou ao seu tamanho normal, me pegou nos braços e nos tirou dali.

Ao chegarmos na porta da cabana, Becky invocou as barreiras mágicas que protegiam o lugar. Ela entrou comigo, ofegante, o coração martelando com a adrenalina da fuga.

— O que é essa criatura, Elara? Por que ele está atrás de você? - perguntou Becky, me colocando no sofá e com os olhos cheios de curiosidade e preocupação.

Hesitei antes de responder, escolhendo cuidadosamente minhas palavras.

— É algo do meu passado, algo que tentei deixar para trás. Mas parece que o passado nunca fica verdadeiramente enterrado. - A luz trêmula de uma vela lançava sombras dançantes pela sala, criando uma atmosfera carregada de mistério. Becky aguardava, ansiosa, enquanto eu reunia minhas energias para contar a verdade a ela, a qual tanto me atormentava. - Há séculos atrás, eu fugi dessa criatura que nos caça agora, Becky. Uma entidade sombria, um pesadelo que se tornou realidade. Era como uma sombra do passado, algo que achei que tinha deixado para trás.

Becky permaneceu em silêncio, seus olhos fixos em mim, buscando compreensão.

— Eu costumava viver em uma vila, onde as pessoas me viam como uma aberração por minha capacidade de transmutação. Eu e meu tio éramos constantemente perseguidos e temidos. Um dia, tudo mudou. Um culto descobriu nossa cabana, e essa entidade... essa criatura... foi invocado para nos matar. Especialmente para me matar, já que o caralho dos seres humanos daquela maldita vila, juravam que meu tio era um humano comum que cuidava de mim. - O vento uivava lá fora, ecoando o tumulto de emoções na sala. Becky permanecia atenta, sua expressão oscilando entre choque e compaixão. - Meu tio conseguiu me esconder para longe, mas ele... Eu nunca cheguei a reencontrá-lo. Desde então, tenho vivido com o peso dessa culpa, fugindo do meu próprio passado. Sinto falta do tio Kay... - Sussurrei a última frase, abraçando-me.

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