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O sino toca alto no corredor fora da sala, depois de duas aulas de Direito Administrativo os litrões do barzinho no fim da rua seriam muito merecidos. Caminho pelo bloco de direito até o bloco de pedagogia de encontro com a Isa.

– Eai, mandou mensagem pro moedas?

– Boa tarde pra você também.  - ela ri sem desviar do celular.

– Amiga para, mandou ou não? 

–  É óbvio que não, vamos de barzinho sim? - digo quando passamos pelo portão da faculdade.

– Barzinho sempre minha filha, mas eai perdeu o bilhete ou não quer mandar?

– Eu não vou mandar. - respondo mostrando tirando bilhete da bolsa.

– Ele pagou sua conta e você não mandou nem um agradecimento, ta guardando pra que então? - ela fala olhando o bilhete amassado que recebi há umas duas semanas. – E outra, se ver ele em algum lugar de novo?

– Eu não, Niterói é gigante, espero não topar ele tão cedo por aí. - sento na cadeira. – Joaquim, um litrão do mais gelado possível! - peço ao garçom.

– Se você tiver sorte né,  porque pelo jeito ele é bagaceiro de bar igual você. -  ela ri mas fica olhando na direção do estacionamento da faculdade.  – Você é azarada pra caralho Gabriela! - me devolve o bilhete rindo.

– Sem caô cara, aqui é o melhor lugar pra jogar sinuca! - me viro e olho.

Bato a testa na mesa de propósito ouvindo a risada da Isadora se transformar em gargalhadas, ninguém mais, ninguém menos do que Chico moedas e sua gangue chegando no bar dos universitários da UFF. Joaquim coloca o litrão na mesa e eu levanto o olhar com uma cara que ele já conhece. Quero um cigarro.

– Parei de fumar Gabi, foi mal. - diz voltando para dentro do bar.

– Pede cigarro pro seu admirador fumante ambulante moedas, eu vou ao banheiro.

Encaro o bilhete entre os dedos, viro o copo de cerveja e devolvo o bilhete na bolsa. Só acontece comigo essas coisas.

– Tô  esperando sua mensagem até hoje…- ouço contra meu ouvido.

– Vai ter que esperar sentado Bitcoin.- sem olhar já sabia que era ele.

- Sem Problemas, tá adiando nosso encontro com cervejinha, cigarro e pá.  ‐ sorri e estende o cigarro pra mim. – Pega pô. - insiste se sentando do meu lado.

– Não tem outra pra alugar na conversa não moedas? - pego cigarro agradecendo a Deus pelo banquete, cerveja gelada e cigarro.

– Seu desprezo me excita, papo reto. - toma o cigarro da minha boca e traga.

– Por isso que não quis a bajulação da Sonza, homens..

– Sou mais uma morena fumante carioca. - sorri e relaxa na cadeira.

– Cretino, já que vai me amolar no meu bar pelo menos me dá um cigarro só pra mim.

– Seu bar? - me encara enquanto puxa o maço de cigarros.

– Estudo na UFF, automaticamente cliente VIP. - puxo um cigarro até os lábios ele risca o isqueiro acendendo. – Obrigada.

– Já sei onde te achar então.

– Chico, nossa rodada bora! - um loiro grita desviando a atenção dele.

– Já vou porra. - grita de volta e me encara. – Não vai embora sem se despedir dessa vez...?

– Gabriela, por mais um cigarro posso até fazer esse esforço. ‐ estendo a mão sorrindo.

– Você que manda, "Gabi". - coloca o maço e o isqueiro em minha mão, beija o canto da minha boca e sai correndo.

De fato, um cretino nato que saiu das telas da for you do tiktok para atazanar minha vida de bar. Niterói antes parecia tão grande.

– Eu vi um selinho ou o que? - Isa diz sentando na mesa.

– Ele é abusado demais, mas pelo menos liberou o cigarro...- balanço o maço de cigarro e ela estende a mão.

– Um brinde ao moedas. - brindamos com os cigarros e começamos as fofocas.

𝙀𝙇𝘼 - 𝖢𝗁𝗂𝖼𝗈 𝖬𝗈𝖾𝖽𝖺𝗌Onde histórias criam vida. Descubra agora