Jogo de xadrez

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crises de ansiedade, abuso psicológico
POV. MAYA

   Eu estava perdida em meus pensamentos, naquele momento só vinha em mente o julgamento e o quanto eu precisava ganhar essa sob Torres.
Sempre gostei de tribunais, me dava uma certa adrenalina, melhor ainda era o poder de persuasão, eu amava manuseá-lo; sinceramente me sentia completa e poderosa. De certa forma naquele momento, estava jogando uma partida de xadrez, ou em uma dança de encaixe perfeito ao ritmo. Neguei os devaneios, e segui o almoço tranquilamente com meus amigos, jogamos conversa fora, por um longo tempo, mas só Ana conseguia me tirar de todo o ambiente pesado de trabalho. Sempre que algo me aborrecia ela fazia questão de passar horas a fio comigo me acalmando, sempre fui muito dura comigo mesma. Logo me despedi deles, voltei para meu escritório em casa a fim de me preparar para audiência que estava por vir.
  —Amor eu vou indo tá? Tenho muita coisa pra revisar – digo para Ana que parece concentrada em seus próprios pensamentos – Ana?
  —Ah, sim. – disse limpando a garganta e eu a olho com a sobrancelha arqueada – Claro, me manda mensagem quando chegar em casa tá? Eu vou terminar aqui e logo volto pro escritório tenho uma reunião com o Heitor.
  —Aí não gosto desse Heitor hein. Toda reunião ele é arruma um motivo pra te alisar, fica esperta. –Sempre tive muito ciúmes de Ana, mesmo com a nossa relação de amizade, não gostava que ela ficasse perto dele. – Se quiser eu fico para a reunião
  — Deixa de ser besta, Manu! Não é nada, reunião rápida, pode ir pra sua casa tranquila – ela diz me abraçando e eu logo me despeço de dela e de Heleno que também parecia estar meio aéreo.
  Chego em casa tirando o salto e amarrando o cabelo que anteriormente estava solto com babyliss impecável. Abro uma garrafa de vinho e já logo vou para o meu escritório, que fica no fim do corredor da minha casa. Papéis sobre o caso espalhados pela mesa e aquela atmosfera de novo caso me deixava cada vez mais anestesiada. Amo meu trabalho.
  Depois de algumas horas e uma garrafa de vinho inteira começo a perceber que talvez tenha sido um erro pegar isso. Um erro de uma mulher orgulhosa demais. –Droga– Eu pensava comigo mesma. Logo abro minha lista de contatos e ligo para Matheus, meu antigo professor que se tornou um dos meus amigos mais próximos, ele me salvou de perder tudo, quando eu estava começando o curso me deu casa e abrigo depois de meus pais me expulsarem de casa. "Gravidez precoce" eles disseram.
xxxxxx
  —Ei Manu! Saudades de você uai! Ta sumida, aconteceu algo?
  —Ei Theus, to com saudade também... Tava precisando de um apoio seu.
  —Claro, sempre! Quer que eu vá na sua casa? To aqui na Facul não é longe!
  —E...Pode ser, pode ser. Me fala quando estiver vindo tá? – falava meio sem ânimo com o coração batendo mais rápido.

00:47
TW// crise de pânico

  Por mais que eu ame o Matheus conversar com ele me traz memórias que eu com muito orgulho escondi de todos a minha volta, assim que desligo o telefone imagens da minha mãe e meu pai invadem minha cabeça me deixando completamente bagunçada, e estar um pouco bêbada naquele momento também não ajudou, logo lembro dos xingamentos, "Sua inútil" "Você nunca vai ser nada além de um corpo" "Eu preferia que você fosse um homem, só me traz desgosto sendo essa puta" "Sai da minha casa você não é mais minha filha Manuela.". Eles invadem a minha cabeça e na mesma intensidade uma crise de pânico se inicia.
  Começo a sentir uma falta de ar e meus dedos formigam. Tento manter o foco ainda estou no meu escritório sentada observando fotos da cena do crime, mas minha cabeça só consegue pensar no pior  disparando frases como "Você é uma idiota nunca vai ganhar contra Torres, ela tem esse na mão. Você só serve pra fracassar". Minha roupa começa a ficar molhada de suor, estou tremendo e minha visão ameaça ficar turva. Tendo me equilibrar para ir ao banheiro e acabo quase caindo. "Minha pressão deve estar lá em baixo" tentava concentrar em algum pensamento menos destrutivo. Começo a me sentir pequena e sem perceber estou chorando. Chorando sozinha em uma sala quase escura.
    Quando já estou encolhida em um canto chorando a  quase 15 minutos escuto batidas na porta e logo ela é aberta não só por Matheus como também pela Ana que tinha a chave da minha casa. Os dois correm direto para escritório e me encontram em um canto destruída, sozinha e encolhida.
  —O minha linda...—Ana olha pra mim com o olhar mais doce que já existiu, um olhar de carinho e cuidado que eu nunca tive em minha vida. Até ela. Gosto de pensar que somos feitas uma pra outra, eu não estaria viva hoje se não fosse por ela.
  —Eu sei, eu...— Olho para baixo com uma certa vergonha – Me descuidei, só isso.
  — Vem, vem que eu vou te dar um
banho e depois eu e Matheus vamos ficar com você. Amanhã a gente pensa no caso, isso é só daqui uma semana.
  —Vem Manu, a gente te ajuda. — disse Matheus me pegando do chão e me levando até o banheiro. Ana me ajudou a tomar banho, depois dessas crises eu fico praticamente esgotada. Não consigo me mexer que todo meu corpo doía fisicamente e mentalmente. Fico um caco. Mas a Ana não se importa, ela tira minhas roupas e fica comigo até eu acabar meu banho da maneira que eu conseguia.
  Depois eles me levam até meu quarto e me colocam na cama, na minha cama king, cabemos os três mas Matheus diz que não vai dormir aqui pois precisa voltar para faculdade cedo amanhã.
  Ficamos conversando por mais uma hora e eu estava mais calma e serena. Depois dessas grandes explosões eu geralmente sinto muita vergonha de dar tanto trabalho para os dois, e tento segurar mais a barra. Logo após eu e Ana nos aconchegarmos na cama,Theus diz que precisava ir, choro um pouco com sua partida mas ele sempre reafirma que estou lá se precisar pra tudo.
  —Manu não se preocupa. Você vai levar esse e se você não levar, você fez o que você sempre faz. O melhor! Eu vou mas eu volto tá? Não fica só nessa cama não. Até, te amo
  —Tá bom Theus, te amo também, até – eu dizia com um sorriso no rosto tentando segurar as lágrimas com as últimas palavras dele.
  Depois disso não demorou muito para que eu abraçasse a Ana e tentasse dormir, ela sempre foi um refúgio, onde eu podia ser eu mesma sem as máscaras do que criei. Para ela, eu sou só uma mulher frágil cheia de gatilhos. Para o resto do mundo uma mulher segura de si, prepotente e workaholic. O que também não é mentira.
  Logo eu e ela adormecemos, e eu fico uma noite em paz.


Olá divos! Queria saber a opinião de vocês, querem capítulo desse tamanho, mais curtos mais longos?
Me contem também oq estão achando! Gosto de interagir com vocês <3 esse cap foi mais denso mas ele é importante ok? bjs

War and Love - MagiOnde histórias criam vida. Descubra agora