Um conto de terror

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Era um dia como qualquer outro, Usopp levantou-se, verificou suas redes sociais, preparou seu leite com achocolatado, vestiu-se e se organizou para o dia que estava começando. Como já tinha combinado anteriormente com Luffy, hoje ele iria ajudá-lo nas vendas na barraquinha de Dadan.

Não havia muito o que arrumar, pois na noite anterior, com medo de esquecer alguma coisa importante, ele já tinha deixado todos os seus pertences prontos: mochila com suas ferramentas, roupa que iria usar etc. Kaya não estava mais em sua casa, portanto ele imaginava que ela já deveria ter ido para o trabalho ou provavelmente tivesse saído na calada da noite para não preocupar seu tutor.

Mesmo que fosse maior de idade, a jovem evitava trazer preocupações desnecessárias para seu antigo tutor, haja vista o papel que este tinha desempenhado em sua infância e adolescência.

A jovem tinha ido à sua casa para assistir um filme bobinho e os dois terminaram a noite enrolados debaixo de algumas cobertas quentes, compartilhando tremores e decidindo no dois-ou-um quem seria o azarado que teria que levantar para acender a luz e ir à cozinha pegar mais refrigerante. O filme não tinha nada de bobinho: as assombrações eram terríveis e o casal tinha menosprezado o impacto que elas poderiam ter nas próximas horas - passaram a noite em claro e Kaya havia optado por ficar mais um pouco.

Usopp tinha certeza que ela não tinha escolhido ficar somente para fazer o seu coração feliz. Era certo que a menina tinha ficado com medo - assim como ele - e que ficar ali em sua companhia seria preferível a ir para casa - de motorista particular (porque ela podia) e se aventurar pela cidade à noite e sozinha não era seguro - e ficar solitária em seu quarto grande e silencioso.

Ele somente sentiu falta de um abraço de despedida e da promessa de que iriam continuar assistindo a sequência do filme, mas isso ele resolveria depois de ir trabalhar.

Feiras começavam cedo, o sol ainda nem tinha nascido - caramba, Kaya tinha saído muito cedo mesmo - e ele já estava pronto para abater um gigante. Leia-se: lidar com muitas pessoas, a maioria rabugenta e mal-educada. Não que isso fosse muito complicado para Usopp, ele tinha uma habilidade natural para interagir com pessoas e ludibriá-las.

Se ele fosse fazer uma aposta, seria que o dia seguiria a vibe da noite: sombrio, com neblina e pouco sol agraciando a pele dos seres humanos nem um pouco vampíricos ou assassinos. Seria, em sua suposição, um dia propício para que os seres mais horripilantes e maléficos da face da terra pudessem andar normalmente pelas ruas espalhando o caos e a desordem.

Tudo bem, Luffy era o caos em pessoa e a desordem era regra por onde ele passava, mas não havia malícia em suas maquinações. Ele era um turbilhão de coisas, mas nenhuma destas tinha maldade - a inocência e a pureza dele eram muito grandes para que houvesse uma gota de pensamentos ou ações ruins naquele ser humano.

Achocolatado tomado, Usopp abriu a porta e se deparou com o que havia imaginado: sem sol, a madrugada se estendia escura, gélida. As gotas do sereno noturno se acumulavam em todas as superfícies expostas, uma brisa suave balançava as folhas das árvores fazendo com que respingos de água caíssem no chão; havia, ao fundo, o soar constante do vento sussurrando "cuidado, cuidado, cuidado" e fazendo os cabelos de sua nuca se arrepiarem.

É, seria um dia longo, mas ele esperava que o sol nascesse logo e essa aura maligna se dissipasse.

A caminhada de sua casa até a feira foi a mais rápida que ele fez em toda a sua vida. A distância era um pouco longa, mas as passadas apressadas e constantes de Usopp diminuíram o percurso praticamente pela metade. Isso porque o que ele menos queria era ter que lidar com alguma criatura noturna que não havia se atentado ao horário e que agora estava vagando por aí em busca de sangue e vítimas.

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