III

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Sentado na borda da cama, o corpo suando frio, Bernardo massageava as têmporas. Como se estivesse no olho de um furacão, sentia o mundo girar ao seu redor. Inspirou profundamente, em seguida soltou o ar devagar, numa tentativa frustrada de aliviar a náusea que queimava-lhe o estômago e enchia-lhe a boca de saliva amarga. Coçou os olhos, ainda semicerrados por causa do sono, e passou um instante em silêncio, tentando organizar os pensamentos. Tinha acabado de acordar.

Era alta madrugada. Alonso, deitado do outro lado da cama, o corpo voltado para a parede, repousava em sono profundo. Pensou em pedir que ele lhe trouxesse um remédio, mas ficou com pena de acordá-lo e decidiu buscar por conta própria. Levantou-se da cama, apoiando-se na parede para manter o equilíbrio, e caminhou até o interruptor. Quando acendeu a lâmpada, cobriu os olhos rápido com as mãos, incomodado com o brilho intenso, depois seguiu em direção ao armário do corredor, onde ficava a caixa com os medicamentos.

Ao passar diante de um espelho, duas coisas chamaram-lhe a atenção: a primeira, a palidez do próprio rosto; a segunda, um filete de sangue escuro que escorria do seu nariz. Usou a traseira da mão para limpar, em um movimento brusco, e acabou sujando a bochecha. Perguntando-se o que poderia ser aquilo, foi até o banheiro e lavou o rosto com água, em seguida enxugou-se com uma toalha. Notou, ao terminar, que o tecido estava manchado. Examinou novamente o reflexo e percebeu que o fluxo, além de continuar, estava aumentando.

Foi até a caixa de remédios, deixando no chão atrás de si um rastro de gotas vermelhas. Quando abriu a trava e ergueu a tampa, seu semblante assumiu um ar confuso. Os medicamentos tinham sido todos retirados. Em seu lugar, havia apenas um envelope cheio de fotografias, que ele passou a examinar com uma curiosidade cautelosa. Sentiu um aperto na garganta. Eram imagens de Alonso entrando no edifício nas últimas ocasiões em que o tinha visitado secretamente.

Caminhou de volta para o quarto e sentou-se na borda da cama. Tinha o olhar absorto nas fotografias, a mais recente das quais - percebeu - parecia ter sido tirada há pouco mais de uma semana.

- Acorde, você precisa ver isso... - disse para o amante.

Respirou fundo. Sentiu a náusea voltando forte. E a visão ficando embaçada. Tudo que o cercava, de repente, parecia desvanecer-se em manchas escuras e sem contorno definido. Perguntou-se se estava ficando cego e molhou os olhos com a água de um copo que estava sobre a mesa de cabeceira, ao lado da caixa de chocolates vazia. Passados alguns segundos, voltou a enxergar, embora não perfeitamente.

- Alonso... - insistiu tocando no ombro dele para sacudi-lo. Percebeu então algo de estranho e retirou a mão. Hesitou por um instante. Tocou-o novamente, cheio de insegurança. Ele estava gelado. Tentou virá-lo para o seu lado. Quando conseguiu, ergueu-se da cama assustado, e recuou até suas costas encontrarem a parede. - Não, não pode ser...

Alonso vertia um sangue escuro e pastoso pelas narinas, que escorria pelas bochechas e começava a coagular sobre o travesseiro. Tinha o rosto roxo e os olhos vidrados. Bernardo olhava para corpo sem vida com um misto de repulsa e incredulidade. Correu para pedir ajuda. Enquanto seguia na direção da porta, no entanto, a vertigem retornou. O mundo parecia mover-se ao seu redor em um ritmo frenético. Sentiu-se fraco, muito fraco. Os joelhos vacilaram. Perdeu a consciência.

Quando despertou novamente, percebeu que horas haviam se passado pois raios de sol já entravam pelas janelas. Um vento quente balançava as cortinas e adentrava o ambiente, deixando a atmosfera pesada e opressiva. Tentou se mexer, mas o corpo, como se estivesse paralisado, não obedecia. Concentrou-se. Suor escorria de sua testa em direção aos lábios, deixando no paladar um gosto salgado. Esforçou-se mais um pouco, perguntando-se se tudo aquilo não passava de um pesadelo. Não obteve êxito. Nervoso, sentia-se asfixiado com o sangue que, ainda fluindo de suas narinas, obstruía-lhe a respiração. Um aperto no peito, pungente e repentino, banhou seu rosto de lágrimas. Foi então que captou uma presença. Não estava, como imaginava, sozinho. Sentado em uma cadeira, a poucos passos de distância, inerte e silencioso, os olhos carregados de um brilho perverso, León saboreava a sua ruína.

LEÓNOnde histórias criam vida. Descubra agora