jabuticaba

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Priscila's point of view

Enquanto eu descansava na areia áspera da praia deserta, ao lado da Carolyna, a morena misteriosa que eu havia resgatado, senti um leve tremor percorrer seu corpo. Era como se as brisas noturnas, impiedosas, encontrassem um caminho através de sua pele, roubando seu calor. Com cuidado para não perturbá-la, ergui-me sobre os cotovelos e observei seu rosto sereno à luz prateada da lua. Seus lábios estavam entreabertos, soltando suaves suspiros de sono, enquanto seus longos cílios se curvavam delicadamente sobre as maçãs do rosto. Era um retrato de vulnerabilidade e beleza no meio da vastidão implacável da ilha deserta.

Sem hesitar, deslizei silenciosamente para fora do meu moletom, uma peça gasta e familiar que me acompanhava em todas as minhas aventuras. Envolvendo-a cuidadosamente, senti o tecido macio e desgastado ceder sob meus dedos, enquanto tentava criar uma barreira contra o frio da noite. Observando-a por um momento, sorri com ternura, imaginando quão estranho e surpreendente era o curso do destino que nos trouxera juntos para esta ilha isolada.

Mesmo que o conforto fosse um luxo inalcançável em nosso refúgio deserto, eu estava determinada a oferecer à Carolyna pelo menos um breve respiro de tranquilidade em meio ao desconhecido e ao desconforto. E assim, com a brisa marinha sussurrando em nossos ouvidos e as estrelas brilhando como faróis distantes, nos envolvemos em um silêncio reconfortante, unidos pela esperança frágil e persistente que nos impediria a continuar lutando, mesmo nas circunstâncias mais adversas.

Enquanto me aconchegava novamente na areia fria da praia deserta, virando-me de lado para encarar a misteriosa morena adormecida, uma enxurrada de pensamentos tumultuados invadiu minha mente. Observando seus traços suaves iluminados pela lua, fui tomada por uma mistura de fascínio e culpa. "O que estou pensando, Priscila?", murmurei para mim mesma, sentindo o peso da minha aliança de casamento contra a pele.

Sim, eu era casada. Casada com Gustavo Torres, um homem de negócios rico e poderoso, cuja ilha particular deveria ter sido nosso refúgio seguro. No entanto, os caprichos do destino nos haviam lançado em uma tempestade implacável, arrancando-nos do convés do luxuoso iate e nos lançando nas águas turbulentas abaixo. Havia sido um turbilhão de caos e desespero, e agora, perdidos nesta ilha isolada, eu mal conseguia lembrar quantos dias ou semanas haviam passado desde o naufrágio.

Foi então que a morena, Carolyna, abriu os olhos lentamente, interrompendo meus devaneios. Seu olhar era uma mistura de confusão e cautela, e eu me vi enredada em uma teia de emoções conflitantes. Rapidamente, forcei um sorriso reconfortante, tentando dissipar a tensão que pairava no ar. — Está tudo bem — murmurei suavemente, desejando poder apagar as dúvidas que tumultuavam minha mente.

Enquanto nos encarávamos à luz pálida da lua, eu me perguntava como poderíamos encontrar uma maneira de sobreviver neste mundo selvagem e implacável. E, no entanto, entre o desespero e a incerteza, havia uma centelha de esperança, frágil e teimosa, que nos impelia a continuar lutando, mesmo quando tudo parecia perdido.

A voz suave da morena, Carolyna, cortou o silêncio da noite, interrompendo o fluxo dos meus pensamentos tumultuados. Seus olhos escuros, agora cheios de preocupação, buscaram ao redor em busca de uma figura ausente. — Danda? Onde está ela? — ela perguntou, sua voz carregada de uma mistura de confusão e ansiedade.

Com um movimento rápido, ela tentou se levantar, mas um gemido de dor escapou de seus lábios enquanto ela lutava contra o corte em sua coxa. Antes que pudesse cair, estendi a mão instintivamente, conseguindo segurá-la a tempo de evitar uma queda desastrosa.

Com cuidado, ajudei-a a se erguer, sentindo o peso de seu corpo apoiado contra o meu. A ferida em sua coxa sangrava timidamente, uma lembrança dolorosa do perigo constante que nos cercava nesta ilha implacável. Enquanto ela se apoiava em mim, senti uma onda de determinação se infiltrar em meu ser, impulsionando-me a encontrar uma solução para nossa situação precária.

𝗜𝗟𝗛𝗔𝗗𝗔𝗦 𝗘 𝗔𝗣𝗔𝗜𝗫𝗢𝗡𝗔𝗗𝗔𝗦Onde histórias criam vida. Descubra agora