Para Jim Bayers, a superstição era algo que nunca havia encontrado espaço em sua vida, absolutamente nada. Ele tinha preocupações muito mais substanciais para ocupar sua mente do que com lendas e superstições, Deus sabia disso! A memória do velho Bayers sempre voltava a um tempo em que sua avó, já nos seus últimos anos de vida, afirmava ter tido encontros com espíritos de antigos antepassados. Ela sussurrava palavras que, para ela, tinham grande significado. Jim era apenas um adolescente naquela época, curioso com as histórias de sua avó, embora ela já não estivesse em seu juízo perfeito há algum tempo. No entanto, essas lembranças foram cuidadosamente empurradas para o fundo de seus pensamentos, como se ele tivesse inconscientemente decidido que eram melhor esquecidas.
Em um momento distante, seus pais tentaram explicar que o vulto de sua avó, que Jim acreditava ter visto em seu quarto, não passara de mera imaginação juvenil. Eles disseram que, durante o luto, o cérebro muitas vezes prega peças, criando ilusões para lidar com a dor.
Apesar disso, Jim sempre soube, no fundo de sua alma, que o mundo era vasto e cheio de mistérios, muitos dos quais permaneciam inalcançáveis à compreensão humana. Ele não era supersticioso, de jeito nenhum! Na verdade, Jim era a personificação da simplicidade e naturalidade, como alguém poderia dizer sobre as pessoas de sua pequena cidade. Agora, à beira dos 70 anos, prestes a celebrar seu aniversário na próxima semana, Jim era um homem respeitado e admirado. Sua saúde robusta e sua insaciável curiosidade faziam com que ele aparentasse ter uma década a menos do que sua idade real.
Os habitantes de Springwolf tinham um carinho especial por Jim. Sua amabilidade e maneira compassiva de tratar as pessoas eram lendárias. Ele sabia quando dar conselhos, quando ouvir ou quando simplesmente estar presente. Era um líder respeitado, mas também um amigo dedicado.
No entanto, nos últimos três anos, Jim Bayers havia se isolado. A razão para sua reclusão foi a perda trágica de sua amada esposa, Lilly, em um acidente de carro. A tragédia havia afetado profundamente Jim, levando-o a se afastar da cidade. Ele comprou uma casinha charmosa à beira de uma das mais encantadoras florestas da região. Jim evitava o contato com as pessoas e, quando isso se tornava inevitável, o fazia por obrigação. Não que ele tivesse deixado de gostar das pessoas; isso estava longe de ser o caso. Ele simplesmente se sentia desconfortável com as constantes perguntas sobre seu estado emocional e se precisava de ajuda, qualquer que fosse.
Springwolf, como toda cidade pequena, era um lugar onde as notícias corriam rápido. Em 30 de abril de 2021, toda a cidade se comoveu com o acidente que tirou a vida da adorável Senhora Lilly, que estava completando 63 anos naquele fatídico dia. O funeral dela se tornou um evento da comunidade, com pessoas que Jim mal conhecia prestando homenagens e oferecendo condolências. O luto de Jim era como uma sombra que pairava sobre ele, e ele buscava consolo na solidão de sua casa à beira da floresta. Era um homem que, apesar de toda sua sabedoria e bondade, tinha que enfrentar seu próprio luto de maneira solitária.
Cansado das pessoas se metendo em sua vida, Jim decidiu vender sua casa na Hills Street, número 321, e comprar a casinha aconchegante de madeira ao leste da cidade, próximo da Usina Hidrelétrica, que tinha enormes torres visíveis a 200 quilômetros fora dos perímetros da cidade. A casa tinha um aspecto mais antigo porém muito bem conservada e limpa. O velho Jim tinha uma camionete Chevrolet C10, de 1970. Era marrom e muito bem polida, de rodas grandes e bancos com acolchoados de pêlos de urso. A vista da casa era muito agradável, principalmente quando a caminhonete estava estacionada logo abaixo de uma cobertura de madeira improvisada pelo velho Jim Bayers.
Jim adorava aquela nova casa, Lilly teria gostado, sempre pensava. Não! Ela provavelmente teria odiado a ideia de ficar longe da cidade e de suas amigas. Teria ela cruzado os braços e se recusado a falar durante horas, como sempre fazia quando estava zangada, e obrigado o Jim a reconsiderar. Provavelmente nem teria tido o direito de ir dar uma boa olhada naquela casa. Ria-se disso, quando imaginava, mas um vazio sempre preenchia seu coração logo em seguida. Seu único conforto, além da casa e do velho hábito de caçar nas manhãs de sábado, quando a temporada de caça estava aberta, era seu cão, Dewey; um pastor alemão de 5 anos que estivera com a família até o infeliz falecimento da Senhora Bayers. Jim lembrou do funeral naquela manhã. Dewey esteve com ele, sentado ao seu lado, preso em sua coleira naquela triste tarde de domingo. Foi uma figura um tanto quanto caricata para as pessoas daquela cidadezinha ao sul do Colorado; um homem idoso completamente vestido de preto com seu fiel cão ao seu lado em uma sombria tarde de domingo onde a tristeza carregava o céu com grossas nuvens acinzentadas. Dewey era parte da família. O pobrezinho simplesmente aparecera numa tarde fria e chuvosa no sopé da casa dos Bayers, na Hill Street, número 321. Era apenas um filhote, muito desnutrido e molhado. Lilly sem pestanejar tomou o pequeno filhote em seus braços, Jim ficou apenas perguntando se o cão não podia pertencer a alguns dos moradores da cidade, mas Lilly fingia não o ouvir. Lilly deu-lhe um banho quente, secou o animalzinho com extremo cuidado e carinho, depois tratou de alimentar e dar de beber ao cãozinho, que parecia recuperar suas forças.
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