8 - eat this sh*t up

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POV: Reputation

  Assim que eu e Lover acordamos, fomos dar um passeio pela cidade. Bristol é pequena, então quase não há perigo em andar pelas redondezas durante o dia.

  Depois disso, almoçamos e fomos jogar golf com meus pais. Lover parecia empolgada com a ideia de dirigir o carrinho.

  Passamos no shopping, nos entupimos de doces e sorvete e assistimos à um filme de terror. Todos pareciam assustados e agoniados, mas sinceramente era bem fraquinho. Mal tinha sangue ou coisas assim.

  Queríamos ficar mais, para poder jogar no fliperama e entrar em um daqueles labirintos com desafios que tinham lá. Mas minha mãe acabou por não deixar, afirmando que haveria um jantar especial pela presença de Lover.

  Enquanto estávamos no carro, voltando pra casa, perguntei:

— Lover, quer passar numa alfaiataria antes de irmos pra casa?

— Acho que não... Porquê eu iria?

— É uma tradição antiga e particularmente bem idiota - susurro essa parte - Mas lá em casa, nos arrumamos pra jantar. Todos os dias.

— Se arrumar pra jantar? Isso não é meio...

— Antiquado. É, eu sei. Lamento que tudo seja tão arcaico. Meus pais ainda não superaram nem a monarquia.

— Eles tem alguma relação com a família real?

— Não daqui. Meu pai é um Duque do país de Gales. Conheceu minha mãe porque minha bisavó já foi princesa de lá. Viemos parar no interior da Inglaterra após um golpe de estado. Senão, eu possivelmente me sentaria em um trono daqui há uns vinte anos.

— Tá falando sério? - Lover parece abismada com a afirmação.

— Pior que tô. Eu bem que queria saber como deve ser a vida da família real. Mas ao mesmo tempo, tudo isso soa tão problemático e misterioso. Ter a vida controlada pelo governo. Isso não é pra mim. Definitivamente não.

— Entendo... Se um dia quiser se rebelar pra tentar tomar o poder de um país inteiro e revolucionar uma nação, me chama. - Ela ri.

— Pode deixar, vou manter isso em mente.

Q.D.T

  Horas e horas se passam, e finalmente, é a hora do tão esperado jantar. Nós quatro nos sentamos ao redor de uma enorme mesa.

  A comida é posta sobre a mesa, envolta por cloches dourados. Diversos talheres de diferentes tipos e tamanhos são perfeitamente alinhados à mesa, ao lado dos guardanapos. Lover observa confusa. Eu também estaria, em seu lugar.

  Ela definitivamente não tinha a obrigação de saber como usar todos aqueles talheres ou ter aulas de etiqueta com a madame Bijou, que foi o que me ocorreu por anos e anos.

  Quando os cloches são retirados, expondo todo o banquete, meu pai se levanta e começa a rezar.

  Lover e minha mãe se levantam com ele. Em contrapartida, fico sentada.

— Reputation, por favor. Levante-se e se mostre mais agradecida pelo que tem. - Meu pai diz.

— Mas eu sou agradecida. Muito, inclusive. E não acho que haja a necessidade de te provar isso.

— Não tem que provar nada a mim, e sim a Deus. Não cabe a mim julgar suas ações, e sim a aquele que te deu o dom da vida.

— Eu nunca pedi pelo "dom da vida".

— Olhe como fala.

— Como você mesmo sempre diz, temos livre arbítrio pra pensar como quisermos. Portanto, reze o quanto quiser pelo perdão e vida eterna. Eu posso esperar o quanto for necessário.

  Ele suspira pesadamente, se segurando pra não soltar uns gritos ali mesmo, na frente de Lover. Mas ele só ajeita a postura e começa a rezar, agradecendo pelo alimento, vida, paz e serenidade que Deus lhe deu.

"Realmente, essa paz e serenidade toda aí chegou em você, porque até hoje eu não senti um pingo disso", penso.

  Após toda essa cerimônia, finalmente começamos a comer. A princípio, Lover parecia se dar bem com os talheres. Mas conforme novas funções, tipos de cortes e texturas iam aparecendo ao seu alcance, eu a guiava.

— Sei que é bem chato, todo esse rolê de boas maneiras e talheres caros. Mas você sabe que eu tô aqui, né? Não deixe essas coisas abalarem o clima, no começo é horrível mesmo, mas depois você se acostuma com a vontade de se degolar com todos esses tipos de facas.

— Que horror, Rep! - Ela ri. Antes que pudesse falar qualquer outra coisa, meu pai me interrompe.

— Não ouse falar assim novamente debaixo do meu teto. Me ouviu, Reputation? Eu te criei, eu te alimentei. Seja mal agradecida assim de novo e terá um bom motivo pra querer se degolar.

  Lover arregala os olhos em indignação, enquanto tudo o que eu consigo fazer é olhar pra baixo enquanto penso em uma resposta.

— Isso você já me faz sentir todos os dias, papai. - Respondo.

— Não é minha culpa se sua mãe pariu uma desajustada. Eu não te criei pra isso.

— Ela também é sua filha... - Minha mãe responde.

— Não, essa não é minha filha. Eu não criei ela assim, e não vou aceitá-la assim. Nunca.

— Se odeia tanto a ideia de ser pai, então nunca deveria ter concordado com isso. Esse título estúpido te subiu a cabeça mais do que deveria. Ser duque de sei lá onde não te trás honra alguma. Ou eu, pelo menos, só sinto repulsa ao olhar pro seu rosto.

— CALE A BOCA!! CALE A BOCA E COMA, COMA ESTA MERDA, REPUTATION! - Ele se levanta da mesa, enfurecido, e aponta o dedo na minha cara.

  Se eu ainda fosse aquela criança assustada, teria começado a chorar instantaneamente e a pedir desculpas. Mas não sou, então só dei um risinho, logo em seguida me levantando e cuspindo em seu prato, com desgosto.

— Sinto muito por você, papai. Mas acho que não pode mais me controlar.

— Eu preferia quando você não falava. - Ele responde friamente.

  Eu apenas agarro a mão de Lover e a direciono pro andar de cima junto comigo, enquanto assisto minha mãe chorar assustada pela situação, mas sem contestar.



N/A: Eita eita, confusão. Assim que é bom, até mais legal de escrever. Enfim, espero que tenham gostado. Obrigada, beijos ❤

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⏰ Última atualização: Mar 15 ⏰

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